'Duncanville' estreia abordando conflito de gerações em família desajustada

Atriz e dubladora Amy Poehler fala ao 'Estadão' sobre a dificuldade de criar um desenho para uma geração tão conectada

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Por André Cáceres
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À primeira vista, o desenho animado Duncanville parece não oferecer nada de original. A atração, que estreia na Fox no dia 31 de agosto e vai ao ar às segundas-feiras, às 21h30, leva à televisão mais uma história a respeito de uma família disfuncional tentando conviver pacificamente em um cenário suburbano nos Estados Unidos. Famílias disfuncionais são um tema recorrente em séries de comédia desde que o modelo tradicional da família feliz ocidental foi cunhado, a tal ponto que talvez o espectador se pergunte se existem famílias funcionais. No entanto, o trunfo de Duncanville é o enfoque no conflito de gerações, evidenciando dificuldades na relação entre pais e filhos com as quais muitos dos que estão atualmente em quarentena vão se identificar.

Cena da primeira temporada da série 'Duncanville' Foto: 20th Century Fox

O protagonista do desenho, Duncan Harris, é um adolescente comum de 15 anos que parece preferir seus devaneios à vida real e sempre acaba envolvido em algum tipo de confusão com seus amigos. Ele mora com a mãe, Annie, uma guarda de trânsito durona que sonha em se tornar detetive de polícia; o pai, Jack, um roqueiro que se enxerga como uma alma jovem, mas que falha em se comunicar com o filho; e suas irmãs, Kimberly e Jing, com quem Duncan mantém uma relação esquisita. A primeira tenta ser popular a qualquer custo e acaba descontando seus fracassos no irmão; e a segunda é adotada e, a despeito de ser apenas uma criança, se diz apaixonada por Duncan. “Graças ao foco na dinâmica familiar, nós tratamos de temas muito universais”, afirma a atriz e dubladora Amy Poehler em uma entrevista coletiva concedida por videoconferência a jornalistas da América Latina. “Essa é uma família bem típica porque cada um está vivendo em seu próprio mundo”, comenta ela, que, além de ser uma das produtoras do desenho animado, ainda dá voz a dois dos protagonistas, Duncan e Annie. Poehler é mais conhecida por seu papel como Leslie Knope na sitcom Parks and Recreation (2009-2015) e por participações no lendário programa humorístico Saturday Night Live, mas ela tem uma longa carreira de dubladora, já tendo emprestado sua voz em filmes como Divertidamente (2015) e Shrek Terceiro (2007).  “Eu adoro animações, porque não há regras ou fronteiras. Seu personagem pode voar e se transformar, há tanto espaço. Tive sorte de participar de algumas animações excelentes em minha carreira e amo isso”, afirma a dubladora, que fala também sobre a vantagem do gênero para mostrar visualmente o amadurecimento de um adolescente na puberdade. “Pelo fato de se tratar de um desenho, nós podemos literalmente esticá-lo. Na série, ele está sempre crescendo, às vezes ele é muito grande para suas calças ou seus tênis”, conta Poehler. Ela admite que há limitações quando se atua apenas com a voz, mas é otimista: “Às vezes, esses limites impulsionam a criatividade. Se você tem de usar apenas a voz, deve ser criativo, é um desafio. Mas é divertido não se preocupar com sua aparência. Eu nunca poderia interpretar um menino adolescente em uma série com atores de carne e osso.” No mundo da animação, é comum que mulheres dublem personagens masculinos, especialmente crianças e adolescentes, mas fazer Duncan foi um desafio para Poehler. “Na minha carreira, eu sempre fiz personagens muito agitados e energéticos, e com Duncan eu quis fazer o oposto”, conta a atriz, que foi a shopping centers para observar como os adolescentes se comportavam e tentar emulá-los. “É muito divertido interpretar um personagem que é tão autocentrado e não muito energético. Ele sempre quer voltar a dormir”, brinca Poehler. Como produtora e cocriadora da atração, ela afirma que o que a atraiu na ideia inicial para Duncanville é o fato de ser “um desenho sobre um adolescente que pensa que o mundo gira ao seu redor, mas seus familiares o fazem descobrir quem ele realmente deseja se tornar”. Sobre esse aspecto familiar, Poehler acredita que o fato de estar produzindo um desenho voltado para uma geração que já nasceu conectada na internet e antenada a outras mídias para além da televisão não afeta tanto a produção de Duncanville. “O que sempre permanece o mesmo, não importa com qual geração se está lidando, é a dinâmica familiar. Você é sempre constrangido por seus pais”, acredita a atriz. No entanto, Poehler reconhece que muitos dos aspectos da adolescência contemporânea acabam influenciando os temas tratados na série. “Os jovens de hoje vivem em um mundo no qual a fama é muito importante, no qual um adolescente de 16 anos já está pensando sobre assuntos como casamento, emprego e como se apresentar para o mundo”, analisa ela.  Dessa forma, a atriz acredita na comédia como forma de trazer mais leveza para uma juventude que se cobra muito, como é o caso da geração atual. “Sei que todo mundo está lidando com depressão e ansiedade, e muitas pessoas estão se interessando pela comédia apenas para tirar suas mentes de tudo o que está acontecendo. Estou feliz que esse desenho será uma forma de famílias relaxarem e desfrutarem de algum alívio. É bom assistir a um programa que suas crianças vão gostar e que não vão te deixar louca”, brinca Poehler. Com a interrupção nas gravações de diversas séries por conta da pandemia da covid-19, Poehler aposta que a demanda por animação será maior nos próximos meses, por ser uma “atividade solitária” escrever, dublar e criar as artes desses personagens. “Creio que veremos uma quantidade maior de animações no futuro breve.”

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