Cravo e canela no DNA

Ela tem humor, beleza e inteligência. Daí que aceita de bom grado a herança de Gabriela

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Por Patricia Villalba
Atualização:

Pouco antes de soltar uma gargalhada deliciosa sentada com a jornalista do Estado à mesa de um restaurante na Barra da Tijuca, a atriz Suzana Pires diz que adora quando alguém se surpreende ao perceber que a densa Janaína de Araguaia é a mesma mulher que foi a fogosa e divertida Ivonete em Caras & Bocas (2009). "A melhor coisa da vida é quando chegam e me dizem: ‘não acredito que você é aquela outra!’", diz ela, que já tinha uma carreira pavimentada no teatro quando, depois de várias participações especiais, recebeu um papel de destaque.

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Nas graças da TV, ela acumula na Globo as funções de atriz e roteirista. Entre o drama e a comédia, é a viúva batalhadora de Araguaia ao mesmo tempo em que ajuda a escrever as aventuras insólitas de Os Caras de Pau, que volta de férias em abril. Já as férias dela serão curtas: 20 dias após o fim da novela das 6 ela começa a gravar Fina Estampa, de Aguinaldo Silva, que substituirá Insensato Coração, a partir de agosto. "Só sei que a personagem se chama Marcela e que é vilã. Por enquanto é só Janaína", diz ela, anunciando a conversa a seguir.

A Janaína é a mulher mais admirada de Araguaia, segundo pesquisas da Globo. Isso a surpreendeu?

Ela sempre foi uma personagem ótima. É uma mulher batalhadora, viúva, que cria um filho sozinha, é uma heroína popular que passa por muitos desafios. É forte, mas muito doce e também feminina. Por tudo isso, sempre tive a expectativa de que as mulheres fossem se identificar com ela. Mas quando veio o resultado do grupo de discussão e eu vi a admiração que as mulheres tinham por ela, foi como se dissessem: "está no caminho certo".

Você vê alguma relação com a Gabriela de Jorge Amado?

Acho que sim. É o DNA da mulher brasileira, uma mulher que é integrada à natureza, com menos frescuras urbanas. Uma coisa que eu trabalhei muito com a Janaína foi a questão de não ter pudor. Quando chegamos nisso, não é preciso mostrar o corpo para ele aparecer, porque fica natural.

É, ela não parece ter pudor, mas ao mesmo tempo não é uma safada.

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Não, de jeito nenhum! O que acontece é que ela não é uma mulher castrada. Já tive vários banhos de rio na novela, e nenhum deles foi apelativo. Pelo contrário, acho que é só uma mulher se molhando.

A Janaína teve várias fases e ao longo da novela foi se desenvolvendo como mulher e empreendedora. Como está vendo a fase atual dela?

Você falou uma coisa muito bacana: sempre que parece que o (autor, Walther) Negrão vai resolver alguma questão da Janaína, ele vem com outra. Isso é muito legal para o ator. Acho que agora a questão dela passa a ser o casamento com o Fred (Raphael Viana), que é tão diferente dela. Acho que vai ser como os dois se viram nesse "felizes para sempre". É um amor muito lindo esse, que faz a pessoa querer ser melhor, progredir. Ela já passou dos 30, já teve filho... Não tem sapatinho, ela não é a Cinderela do Araguaia.

Mulher atriz e roteirista não é algo tão comum na TV, por que será?

Não sei o que acontece que as mulheres não escrevem tanto humor. Mas ao mesmo tempo, acho que é difícil para mulher, principalmente fazer um espetáculo de humor em que o texto seja dela.

Por quê?

Porque às vezes a gente fica sem graça de fazer certas piadas, né... (risos) Mulher tem de manter um certo mistério, e comediante não tem mistério nenhum.

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Já parou para pensar qual é a sua pretensão como autora?

Acho que por um tempo as duas carreiras seguirão em paralelo. Mas acho que vai chegar o dia em que a autora pode prevalecer. Por enquanto, quem acorda e toma as decisões é a atriz. Nunca pensei, por exemplo, em escrever uma novela ou um longa, mas sei que é totalmente possível

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