Quando entregou a sinopse de sua primeira novela à Globo, em 2012, o cenário político e econômico do País era outro. Claudia Souto batizou o trabalho de Pega Ladrão, mas começou a se incomodar com o título. Não por achá-lo ruim, mas por não querer criar qualquer relação com os personagens da vida real que protagonizam as recentes histórias contadas pelos noticiários. “Comecei a achar que ‘ladrão’ estava muito pesado, e que havia perdido a graça. Partiu de mim essa mudança de nome. Eu vinha acompanhando o noticiário e me dei conta de que não significava para mim o mesmo que em 2012. E, nos últimos meses, a coisa está mais complicada. A novela é muito mais leve que o nome que a estava puxando”, disse a autora ao Estado.
Pega Ladrão virou Pega Pega. O novo título foi definido um mês e meio antes de sua estreia, prevista para o dia 6 de junho, algo atípico para os padrões Globo. Mas ficou mais condizente com a história que irá substituir Rock Story, às 19h.
A trama começa a partir de um roubo milionário. Quatro funcionários tomam conhecimento da venda do hotel em que trabalham e armam um plano para ficar com os 40 milhões de dólares que o ex-patrão, o bon vivant Pedrinho Guimarães (Marcos Caruso), recebeu do empresário Eric (Mateus Solano) na negociação. Antes de dizer adeus ao empreendimento, ele arma uma pomposa festa de aniversário para a neta, Luíza (Camila Queiroz). É nessa noite que Malagueta (Marcelo Serrado), Júlio (Thiago Martins), Sandra Helena (Nanda Costa) e Agnaldo (João Baldasserini) capturam a fortuna.
O que parecia a solução dos problemas torna-se frustração. O quarteto, assim como todos os funcionários do hotel, são dados como suspeitos do crime. E, para não criar evidências contra si, o grupo decide não pedir demissão e também não gastar um centavo da bolada que roubou.
“Desde que o Brasil é Brasil, a gente fala de ética e de corrupção. E sempre me interessou colocar o holofote na população. Como é que a gente lida com a ética, como as relações pessoais se dão? Tem até um personagem na novela que questiona isso, o Wanderley (Bernardo Marinho), irmão do Agnaldo. Quando toma conhecimento do roubo, ele recrimina o irmão por ter roubado o hotel. E o seu irmão devolve: ‘você vende balas sem licença’. Entende? São essas relações que me interessam. Quer dizer que o pequeno crime está liberado e a grande maracutaia, não? É isso que me interessa, como a gente lida com as nossas questões éticas e com o dinheiro. Até que ponto o dinheiro comanda a gente ou é a gente que usufrui dele?”, reflete a autora.
Há 25 anos na Globo, Cláudia assina uma novela pela primeira vez. Sua porta de entrada na emissora foi o extinto Casseta & Planeta Urgente, em 1992. O bom trabalho a fez se especializar na linha de humor. Escreveu cenas de outros humorísticos memoráveis da emissora, como Os Trapalhões, Sai de Baixo, Zorra Total, SOS Emergência e Os Caras de Pau. Nos últimos anos, migrou para a dramaturgia, como colaboradora de outros autores. Ficou no time de Walcyr Carrasco por cinco anos, e trabalhou nas novelas 7 Pecados (2007), Caras & Bocas (2009) e Morde & Assopra (2011). Em 2014, integrou o time de Daniel Ortiz em Alto Astral. Todas essas novelas ocuparam a faixa das 19h. “Já sou uma veterana no horário”, brinca.
“A grande diferença é que agora eu pude colocar numa história a minha personalidade”, explica. “Sou observadora do mundo. O humano me interessa e me comove. Seja uma situação risível ou o drama, eu vou procurar o lugar humano dessas situações.”
Pega Pega é uma comédia romântica policial. Por mesclar três gêneros, a autora optou por não dividir o elenco em núcleos. “Fiz personagens o mais humanos possíveis. Como os atores trabalham bem em todos os gêneros, posso ‘brincar’ com eles. O público estará propenso a rir ou chorar com todos os personagens”, avisa.