BBC desconhecia crimes sexuais de ex-apresentador, mas eram acobertados por medo

Funcionários sabiam de denúncias de que Jimmy Savile abusava sexualmente de fãs mas não as levavam adiante

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Por Redação
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LONDRES - A rede de televisão britânica BBC falhou muito em relação a Jimmy Savile, o falecido apresentador que mais tarde se descobriu ser um dos maiores molestadores sexuais da Grã-Bretanha, afirmou o relatório de uma ex-juíza divulgado nesta quinta-feira.

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O documento diz que membros do alto escalão da rede não foram informados do que ele fazia por causa de uma cultura empresarial que leva os funcionários a temerem fazer queixas, especialmente a respeito de astros conhecidos internamente como "O Talento".

Em 2012, a polícia britânica disse que Savile, uma das maiores celebridades do país nos anos 1970 e 1980, abusou de centenas de vítimas, a maioria meninos e meninas, ao longo de seis décadas, até sua morte em 2011, aos 84 anos de idade. Os abusos ocorreram nas dependências da BBC e em hospitais onde Savile era louvado por suas ações de caridade.

O relatório desta quinta-feira, elaborado por Janet Smith, ex-juíza da Corte de Apelações, e encomendado pela BBC, que é financiada com dinheiro público, concluiu que Savile abusou de 72 vítimas ligadas à sua atuação na BBC ao longo de quase 50 anos. Entre seus crimes estão o estupro de um menino de 10 anos e de uma menina de 13 anos.

"Estes acontecimentos serão uma fonte de tristeza e vergonha profundas para sempre", disse Rona Fairhead, presidente da BBC Trust, o organismo que administra o canal, em um comunicado no qual acata todas as conclusões do relatório e pede desculpas às vítimas.

Rona disse que, embora os eventos estejam no passado, despertaram sérios questionamentos sobre a cultura da BBC que continuam relevantes. Ela anunciou medidas para reformar a cultura interna da empresa.

Janet Smith disse que, embora alguns funcionários tenham falado sobre a conduta de Savile, esses relatos nunca foram levados adiante devido a uma cultura de "não se queixar sobre nada". Os empregados relutam em dizer qualquer coisa à administração que possa "abalar as estruturas" por medo de que isso prejudique suas perspectivas profissionais ou até cause sua demissão.

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Existia uma cultura ainda mais enraizada de deferência em relação ao "Talento". "Os indícios que ouvi dão a entender que o Talento era tratado com luvas de pelica e raramente era questionado", afirmou a juíza.

"A BBC precisa mostrar ao público que está levando as críticas atuais a sério e que fez, ou está fazendo, as mudanças necessárias e apropriadas para que estes acontecimentos terríveis não possam mais ocorrer."

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