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Atriz Queen Latifah vive Bessie Smith no telefilme 'Bessie'

Atração será exibida pela HBO nos EUA, a partir de 16 de maio

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Por Redação
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Nos primeiros 10 minutos de Bessie, a nova cinebiografia de Bessie Smith (1894-1937) na HBO, vemos a lenda do blues cantar, chorar, dançar, cortar um homem e beijar, sensualmente, tanto homens como mulheres. As bebedeiras vêm mais tarde. Numa festa na casa do promotor do Harlem Renaissance e encrenqueiro Carl Van Vechten, uma Bessie bêbada, interpretada por Queen Latifah, maltrata o hino Work House Blues para uma plateia que incluía Langston Hughes, depois atira uma bebida na cara do anfitrião, quando ele usa um epíteto racial. 

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“Era toda emoção que poderia ter pedido”, disse Queen Latifah. O telefilme é um projeto muito cobiçado por Latifah, de 45 anos, que fez uma audição para o papel pela primeira vez em 1992. Ela sempre acreditou que fazer Bessie no filme, que estreia nos EUA em 16 de maio, apresentaria a cantora pioneira, mas menos conhecida, a uma nova geração de fãs. No correr dos anos, ela viu o roteiro pular de pessoa para pessoa enquanto prosperava para conquistar um mini-império de entretenimento, chegando finalmente à condição de ajudar a desenvolver ela própria o filme. 

Hoje uma cantora, atriz, executiva, personalidade da TV, representante de cosméticos e escritora, Queen Latifah, depois de esperar mais de duas décadas, conseguiu adaptar a vida desregrada, mas poderosa, de Bessie.

Dom. 'Bessie Smith não tinha medo de estar errada, medo de lutar ou de dizer o que pensava' Foto: The New York Times

“Sempre foi importante interpretar personagens femininos fortes”, disse Latifah, como fez em sua série de TV nos anos 1990 Living Single e seu papel como Matron Mama Morton em Chicago, que lhe rendeu uma indicação para o Oscar em 2003. Quando conseguiu acertar a realização de Bessie como estrela e produtora, depois de a HBO entrar no barco em 2009, ela entregou a tarefa de escrita e direção a outra mulher negra, Dee Rees. 

“Não era um pré-requisito”, disse Latifah, durante o café num hotel de Manhattan, “mas foi ideal.” Ela estava sem maquiagem, trajando uma calça de moletom estampada, jaqueta do Exército e tênis, com olhos sonolentos após um voo matinal de Los Angeles, onde mora. 

Assim como Latifah, Bessie Smith cuidava de criar um mundo onde se sentisse em casa. Apelidada de Imperatriz do Blues, Smith foi durante algum tempo a artista negra mais bem paga dos EUA, escapando de uma origem pobre em Chattanooga, Tennessee. Ela não tinha limites: bissexual, mantinha encontros amorosos depois de casada; era chefe de um show ambulante que empregava dezenas de pessoas; e uma personalidade impudente que se apresentava tanto para audiências brancas como negras. “Ela não tinha medo de estar errada, de lutar ou de dizer o que pensava, e isso é um dom”, afirmou Queen Latifah. “Ela me deu todo o trabalho que poderia encarar.” Pôr Bessie na tela exigiu um novo nível de intimidade de Latifah, nascida Dana Owens. Nas cenas de alcova, despida, com homens e mulheres, ela é vulnerável num instante, sexy e bombástica no seguinte. 

“Esta é a história de Bessie, e ela precisava ser contada.” Separadas por gerações, Bessie, que influenciou gente da estirpe de Billie Holiday e Janis Joplin, e Queen Latifah, uma das primeiras mulheres rappers a ganhar um disco de ouro, são parte de um contínuo de mulheres em música que aproveitaram suas chances e, apesar das dificuldades, expandiram seus círculos. Uma precursora pode ser Ma Rainey, a mulher do blues que ensinou Bessie sobre como estar no palco, e no filme é interpretada, como mentora e uma libertária sexual, por Mo’Nique. “As questões que elas enfrentavam são as mesmas de agora, igualdade de gênero e salarial”, observou Mo’Nique. “Aquelas mulheres chegaram na hora para nos mostrar, hoje, aqueles planos de ação.” 

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O roteiro para uma cinebiografia de Bessie foi adaptado inicialmente da biografia Bessie, do escritor e músico Chris Albertson, de 1972. Dee Rees, de 38 anos, foi encarregada de escrever sua versão do roteiro em 2012, um ano depois de estourar no cinema indie com Pariah, uma história autobiográfica sobre amadurecimento lésbico. “Ela era uma mulher negra homossexual do Tennessee”, informou Rees. “Sinto uma afinidade. Vi Bessie como uma feminista radical.” Parte disso era sua irrestrita sexualidade. No filme, Bessie teve uma namorada, um marido e um amante. 

Para qualquer um que usar seu desempenho para equiparar com suas relações extratela, Queen Latifah, que oficiou um casamento em grupo de pessoas do mesmo sexo e heterossexuais no Grammy de 2014, foi enfática. “Conheço pessoas que verão essa oportunidade”, disse ela. “Isso não é problema meu. É por isso que a chamam de vida privada, porque é algo que preciso desfrutar sozinha.” 

Como muitas cinebiografias, o panorama histórico que Bessie apresenta é borrado. Sua morte, aos 43 anos, num acidente de carro que provocou muitos artigos sensacionalistas e imprecisos, não é representada. 

Para Queen Latifah, a vida turbulenta de Smith foi “difícil de assistir” na tela, mas a experiência de interpretá-la foi única. “É preciso soltar o cinto de segurança. Nesse papel, eu preciso ser livre.” / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIKBESSIE SMITH - CANTORATambém chamada de Imperatriz do Blues, foi a mais popular, e bem paga, cantora de blues dos anos 1920 e 1930. Morreu em 1937 e seu velório teve mais de 10 mil pessoas.

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