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Após polêmica com Netflix, Spielberg anuncia serviço de streaming da Apple

A Apple TV+, que começa a operar no 2º semestre, vai contar com grandes nomes como o diretor, que traz nova versão de 'Histórias Maravilhosas' para a plataforma

Por Mariane Morisawa
Atualização:
Steven Spielberg na sede da Apple, na Califórnia Foto: Michael Short/Getty Images/AFP

CUPERTINO, CALIFÓRNIA - Demorou, mas finalmente a Apple entrou no mercado de serviços de streaming. A companhia anunciou na segunda, 25, em sua sede em Cupertino, na Califórnia, a Apple TV+, que começa a operar na primavera (outono no Hemisfério Norte) em mais de cem países, incluindo o Brasil. 

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A Apple TV+ vai reunir as séries originais da empresa até agora, com investimento estimado em US$ 2 bilhões este ano. “Queremos encorajar novas maneiras de ver o mundo”, disse Tim Cook, o CEO da empresa. “A Apple sempre tentou fazer do mundo um lugar melhor, e nós acreditamos em criatividade. Grandes histórias podem mudar o mundo.” 

A concorrência pode ter desejado parecer pouco preocupada – Ted Sarandos, diretor de conteúdo da Netflix, disse que a Apple, assim como a Disney, que também entra no mercado de streaming deste ano, estão atrasadas no jogo. Mas a Apple mostrou seu poder na apresentação, levando suas principais estrelas ao palco do Steve Jobs Theatre.

O primeiro foi Steven Spielberg, que traz uma nova versão de Histórias Maravilhosas, série da Amblin dos anos 1980. “Ficar maravilhado é nosso direito humano”, disse o cineasta. Recentemente, o cineasta se envolveu em polêmica com a Netflix por não concordar com a indicação de produções da empresa para as estatuetas do Oscar.

Na sequência do evento, apareceram Reese Witherspoon, Jennifer Aniston e Steve Carell, da série The Morning Show, sobre a dinâmica de poder entre homens e mulheres num programa de variedades matinal. “Estou muito animada de estar de volta à televisão”, afirmou Aniston. Witherspoon explicou que a série vai discutir assuntos importantes da sociedade hoje. Jason Momoa e Alfre Woodard falaram de See, série de Steven Knight sobre uma sociedade pós-apocalíptica em que todos os humanos são cegos. Kumail Nanjiani (de Doentes de Amor) baseou-se em sua experiência como imigrante para Little America, com histórias de imigrantes nos Estados Unidos. “Quero mostrar que não existe o outro”, ele disse. “Só há nós.” Até Garibaldo, da Vila Sésamo, foi, ao lado de Cody por conta de Helpsters, e Sara Bareilles cantou o tema de Little Voice, baseada no começo de sua carreira como cantora e produzida por J.J. Abrams, que também esteve presente no evento. 

Mas a grande estrela da manhã foi Oprah Winfrey, que vai fazer entrevistas e séries de documentários sobre temas como assédio sexual e saúde mental. “Esta é uma oportunidade única de usar a tecnologia e nossa humanidade para enfrentar os desafios assustadores de nossos tempos”, disse Winfrey. “Todos nós desejamos conexão, todos procuramos consenso.” 

Durante toda a apresentação, a Apple pareceu cutucar concorrentes no ramo da tecnologia e do entretenimento, como o YouTube e o Facebook, destacando que vai oferecer conteúdo de qualidade e procura por conexão. Winfrey acrescentou: “Temos 1 bilhão de aparelhos nos bolsos das pessoas. Era uma grande oportunidade de realmente causar impacto e encontrar maneiras de provocar mudança positiva”. A apresentadora e atriz também anunciou uma versão mundial e em larga escala de seus famosos clubes do livro. 

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A Apple TV+ chega num momento em que a companhia foca mais nos serviços do que nos equipamentos inovadores como o iPhone ou o iPod no passado. Além do streaming de séries, vai lançar na mesma época o Apple Arcade, com games desenvolvidos especialmente para a empresa, que também estará disponível no Brasil. Já o Apple News+ (disponível somente nos Estados Unidos e no Canadá) reúne mais de 300 revistas por US$ 9,99 por mês, além de jornais como o Los Angeles Times e o The Wall Street Journal

A companhia também vai lançar um cartão de crédito no celular, sem taxas e que ajuda a controlar a vida financeira. O cartão estará disponível apenas nos Estados Unidos. Gigantes. A Apple mergulha no streaming e na produção de séries de televisão num momento em que as companhias já estabelecidas investem pesado, e o mercado cresce. Segundo levantamento da FX Research, desde 2014, o número de séries roteirizadas nos serviços de streaming cresceu 385%. Em 2018, eram 160 séries no ar, o que representa 32% do total produzido – os canais abertos ficaram com 30% da produção. 

A maior plataforma de streaming é a Netflix, que alcança 139 milhões de assinantes em 190 países. A empresa investiu US$ 12 bilhões em conteúdo no ano passado, 35% a mais do que em 2017, com lançamento esperado de 250 produtos originais nos próximos anos.

Entre eles estarão as criações de Shonda Rhimes (de Scandal e Grey’s Anatomy), que tem um contrato de US$ 150 milhões em 5 anos, Ryan Murphy (American Horror Story, Pose), com um pacto de US$ 300 milhões também por 5 anos, e Kenya Barris (Black-ish), que fechou um acordo de US$ 100 milhões em 3 anos, além de Barack e Michelle Obama e Jenji Kohan (Orange is the New Black). 

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O novo filme de Martin Scorsese, O Irlandês, foi produzido pela Netflix, assim como Six Underground, superprodução de Michael Bay. O serviço também é forte nas produções locais. Cinco séries brasileiras têm estreia prevista para 2019, incluindo Ninguém tá Olhando, de Daniel Rezende, e Irmandade, de Pedro Morelli. 

A Amazon não divulga número de assinantes, mas pesquisa da Consumer Intelligence Research Partners (CIRP) estima o número em 100 milhões só nos Estados Unidos – onde o serviço inclui também descontos na entrega de produtos físicos, por exemplo. A plataforma de vídeo online está disponível em mais de 200 países, e a empresa está investindo bastante em conteúdo produzido fora dos Estados Unidos, anunciando séries no Reino Unido, na Alemanha, na Itália, na Espanha, na Índia, no Japão e no México.

Também foram anunciadas uma série de espionagem dos irmãos Russo (Vingadores: Ultimato), com episódios rodados em diversos países e línguas diferentes, e uma outra baseada no universo de O Senhor dos Anéis. A empresa teria adquirido os direitos sobre a obra de J.R.R. Tolkien por US$ 250 milhões, segundo o site Deadline. 

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No Brasil, a Globoplay também busca uma fatia do mercado, com produções nacionais originais e exibição de sucessos internacionais como The Handmaid’s Tale. HBO e FOX também têm serviços de streaming para seu conteúdo da televisão por assinatura. E mais novidade pode vir por aí, já que o CEO da Disney, Bob Iger, anunciou planos de expandir a presença internacional do Hulu.

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