Análise: Claudia Jimenez, a solidão no palco e a provocação na telinha

Atriz era ovacionada ao fim de cada apresentação, por seu retrato solitário contundente, que contrastava com as personagens que talhou com sua verve cômica

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Por Rodrigo Fonseca
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Revelada pelo teatro no fim dos anos 1970, quando participou de A Ópera do Malandro, no papel de Mimi Bibelô, Claudia Jimenez, que morreu neste sábado, 20, foi parar na TV no início da década de 1980, levada pelo diretor Mauricio Sherman para participar do programa Viva o Gordo, com Jô Soares. Foi no mesmo período em que se destacou no cinema, como a Olga do Gabriela (1983), de Bruno Barreto, e em Urubus e Papagaios (1985), de José Joffily. Nas telonas, viria a ser premiada com o Candango de Melhor Atriz no Festival de Brasília de 1991 por O Corpo, em empate com sua colega de cena Marieta Severo.

Mas foi na televisão que ela imortalizou seu humor debochado, com tiradas sobre o desejo, as acomodações da vida cotidiana e as rotinas da classe média que disparava em programas de TV que fizeram história nos anos 1990. Como Dona Cacilda, na Escolinha do Professor Raimundo, fez do nome de seu personagem um bordão espichando a letra l de um jeito jocoso e erotizado, fazendo o povo brasileiro rir, de segunda a sexta com seu “Cacilllllllda!”.

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A partir de 1996, ao assumir o papel de Edileuza, no humorístico Sai de Baixo, celebrizou uma crônica de costumes da decadência de uma família do Arouche, sob a ótica de uma doméstica. Alcançou, na primeira temporada do programa, uma alquimia singular com Tom Cavalcante, no papel do faz-tudo Ribamar. Os dois representavam o ideal do casal de baixa renda que se vira apesar de todas as vicissitudes financeiras e dos conflitos com patrões de verve aristocrática, como o Caco Antibes de Miguel Falabella. Num estalo, Edileuza caiu no gosto do público, como aconteceu com Cadilda, embora a humorista tenha se retirado do programa em 1997.

Nas novelas, Claudia também teve espaço nobre. Foi a Bina de Torre de Babel (1998); a Dagmar de As Filhas da Mãe (2001); a Consuelo de América (2005); a Custódia de Sete Pecados (2007), considerado por muitos o trabalho mais inspirado da atriz no audiovisual; a Violante de Negócio da China (2008); a Mãe Iara de Aquele Beijo (2011); a Zélia de Além do Horizonte (2013); e a Lucrécia de Haja Coração (2016).

Garçonete da lanchonete de Edmundo (Victor Fasano), morava junto com sua amiga Sandra (Adriana Esteves). Foto: Arquivo / Estadão

Em sua parceria com Falabella – que fez dela a estrela do fenômeno popular teatral Como Encher um Biquíni Selvagem -, ela ainda participou de séries como A Vida Alheia (2010) e Sexo e as Negas (2014).  Com seu carisma singular, Claudia empregou seu ferramental cênico em prol da dublagem, ao ser escalada para emprestar a voz à mamute Ellie da franquia A Era do Gelo, formando par com o personagem dublado por Diogo Vilella.  Em sua passagem por narrativas de perfil pop, Claudia fez ainda Os Trapalhões no Auto da Compadecida (1987), sob a direção de Roberto Farias, que destacava a habilidade que a atriz tinha em amplificar o tom irônico das falas de Ariano Suassuna. No fim dos anos 2000, em meio a seus compromissos televisivos, a atriz voltou aos palcos e arrebatou a crítica com um desempenho memorável em No Natal a Gente Vem te Buscar, de Naum Alves de Souza, que montou em 2008 para comemorar seus 30 anos de carreira. Era ovacionada ao fim de cada apresentação, por seu retrato contundente da solidão, que contrastava com as personagens que talhou com sua verve cômica.

Claudia Jimenez em 1998, na peça 'Como Encher um Biquini Selvagem' Foto: acervo estadão
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