Ainda vale tudo?

Novela, que se mantém atual, fez a impunidade cair na boca do povo e ajudou a entender o País

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Por Patricia Villalba
Atualização:

Valia a pena ser honesto no Brasil de 1988? Olhando 20 anos para trás, a pergunta levantada pela novela Vale Tudo, da TV Globo, soa ainda atual, e ainda parece ter resposta difícil. E a novela continua moderna - em tema, forma e estrutura - e mantém a aura de hit que ostentou nos sete meses em que ficou no ar, algo que vai muito além do mistério "quem matou Odete Roitman?". Veja também:  Reginaldo Faria: Hoje, a banana teria outro destinatário Odete Roitman, nunca houve vilã como a interpretada por Beatriz Segall - Nazaré Tedesco (de Senhora do Destino) e Bia Falcão (de Belíssima) devem muito a ela. Heleninha Roitman, nunca houve uma alcóolatra tão convincente na TV quanto aquela de Renata Sorrah. E nunca uma novela teve um final tão ousado quanto aquele, com o inescrupuloso Marco Aurélio (Reginaldo Faria) fugindo do País pilotando um avião, e dando uma banana para o Cristo Redentor. Vale Tudo juntou "dois dos melhores autores de novela dos últimos tempos: Gilberto Braga e Aguinaldo Silva", nas palavras do mestre Silvio de Abreu (além dos dois, Leonor Basséres escrevia os capítulos). "Cada um desenvolvendo de maneira igualmente brilhante as suas especialidades como novelistas: o gosto sofisticado de Gilberto e o iminentemente popular de Aguinaldo, uma mistura maravilhosamente explosiva", observa o autor. No pós-censura, o País quase à deriva num caos econômico, a novela conseguiu resumir em seus 30 personagens o que seria a alma do brasileiro de então, suas frustrações, seu medo do futuro e sentimento de "salve-se quem puder" que acalentava. Muito vilã, mas de certa forma meio heroína, Maria de Fátima (Glória Pires) parecia ser a senha das inversões de valores que estariam por vir na sociedade. A audiência ficou chocada ao vê-la pisotear o orgulho da mãe, a batalhadora Raquel (Regina Duarte), para subir na vida. Hoje, veja só, boa parte da maldade de Maria de Fátima pareceria coisa trivial, atitudes necessárias de quem está na batalha - como Bebel, de Paraíso Tropical, também de Gilberto Braga. Mas o politicamente correto não suporta mais um vilão sem castigo, como foi Marco Aurélio. "Cada final é um final, tudo depende do momento. Naquela hora, o que me parecia denúncia era o Marco Aurélio livre dando a famosa banana. A novela cumpriu sua função. Colocamos o assunto impunidade no ar", avalia Gilberto, quando questionado se a TV de hoje é menos provocativa do que a daquela época. "Mais tarde, portanto, eu não tinha motivo para me repetir."

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