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A vida de Sócrates por um neo-realista

Feito para a televisão italiana por Rossellini, o filme retrata os últimos dias do filósofo grego

Por Antonio Gonçalves Filho
Atualização:

Não é só por ser a cinebiografia de Sócrates (470-333 a.C) uma produção para a televisão que torna o filme de Roberto Rossellini curioso. Afinal, era a TV italiana, que nunca foi lá muito melhor que a brasileira. De qualquer modo, em 1971, fazer um filme sobre o pensador grego era como tomar cicuta diante do público: um veneno de bilheteria, ainda mais porque a acusação que levou o filósofo grego a ser condenado à morte era a de ser ele o corruptor da juventude de Atenas - e o filme nem toca na sexualidade socrática, preferindo retratá-lo como homem de família. Rossellini sempre teve problemas com personagens homossexuais, invariavelmente retratados como perversos em seus filmes, da lésbica de Roma Cidade Aberta ao professor pederasta de Alemanha Ano Zero. Como explicar, portanto, seu interesse por um pensador que, criado na Grécia antiga, tinha a mesma atividade homossexual que outros cidadãos de Atenas, a não ser por sua paixão intelectual? E é justamente o pensamento socrático que sobra nesse filme parcial sobre a maior figura da filosofia antiga. Sócrates é visto pelo que sobrou dos diálogos de Platão, igualmente homossexual e ausente do filme, que acompanha o derradeiro período de sua vida, do julgamento à morte, passando pela insistência dos discípulos para que fuja da prisão. Produção artesanal e pasoliniana filmada na Espanha, Sócrates, lançado pela Versátil, traz, no entanto, um grande ator no papel-título (Jean Sylvère) e ótimos diálogos, entre eles o de Sócrates com sua mulher Xantipa, que, inconformada, lamenta ter sido o marido condenado "injustamente", ao que ele retruca no mesmo instante: " Você preferia que eu morressse justamente?"

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