A sem-noção e o boko moko

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Por Mário Vianna
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Em Triunfo, a fictícia cidade de A Favorita, só se compra rifa depois que dona Irene (Glória Menezes) escolhe seu bilhete. Porque, de uma coisa, todos têm certeza: dona Irene não vai ganhar. Desde o primeiro capítulo, a mulher não dá uma dentro. Começou apoiando a ex-presidiária Flora contra tudo e contra todos. Fez a caveira de Donatela. De uns tempos pra cá, ataca o novo namorado de Lara, Halley, sem imaginar que faz campanha contra o próprio neto desaparecido. Campeã imbatível dos sem-noção, Irene seria bem capaz de acreditar nas desculpas esfarrapadas de Damião (Malvino Salvador) toda vez que é surpreendido com Dedina (Helena Ranaldi) - aliás, o casal adúltero mais flagrado da TV. Só estão faltando na fila dos xeretas a avó de Lara e o marido traído. E olha que a velha é capaz de botar a culpa no prefeito. Mais esquisito ainda é Cassiano (Thiago Rodrigues). Ele é honesto, ama com sinceridade, é carinhoso com os avós e nunca dá piti com os pais. Despontou para o estrelato com uma música dor-de-cotovelo, mas quer largar a vida de artista e se dedicar à carreira de operário na fábrica. No início dos anos 60, Cassiano seria um boko moko - apelido que uma propaganda de guaraná dava a quem fosse cafona, sem graça. Cassiano peca pela falta de ambição. E é nisso que ele se destaca de Halley (Cauã Reymond). Desta vez, a mocinha não hesita entre o verdadeiro amor e uma paixão fogo de palha, entre o honestíssimo e o bandidaço. Os dois candidatos são apaixonados por ela, mas Halley tem "a" pegada da fome - de ar, de comida, de prazeres. Cassiano parece o menino ensinado pela mãe a não aceitar nada na casa de estranhos, mesmo estando faminto. É complicado apresentar a ambição como um pecado mortal. Obviamente, ambição faz mal quando é desmedida - mas água demais também não faz bem. Os ambiciosos movem o mundo - e não é à toa que nove entre dez vilões querem conquistar algo. O bom-mocismo de Cassiano esconde um acomodado, que não perde a chance de beliscar o ?lado rico?, sem perder a pose de "Pobre, porém limpinho". *** Na semana passada, esta coluna chamou a cidade imaginária de Três Irmãs de Guaramirim. Leitora e ótima ouvinte, Graziela de Moraes corrigiu: o certo é Caramirim. e-mail: mvianinha@hotmail.com

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