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A Itália fascista pelo gênio de Bertolucci

Baseado em Moravia, diretor fez obra-prima sobre os horrores da ditadura de Mussolini

Por Antonio Gonçalves Filho
Atualização:

Um dos mais ambiciosos filmes dirigidos pelo italiano Bernardo Bertolucci chega às locadoras na terça-feira, O Conformista (Lume Filmes), baseado no romance homônimo de Alberto Moravia. Inventário do fascismo a partir da desestruturação psicológica de um homem, o filme acompanha em flashback a ascensão e queda do fascista Marcelo Clerici (Jean-Louis Trintignant), fixado na idéia de normalidade. Como o título sugere, essa submissão voluntária à regra, esse desejo de integração à massa - uma obsessão contemporânea - conduz Clerici ao fascismo durante a ditadura de Mussolini. Filho de uma família burguesa disfuncional, o burocrata, integrado à polícia secreta do Duce, casa-se com uma mulher rica e medíocre e aproveita a lua-de-mel para cumprir uma missão em Paris: matar seu ex-professor de faculdade, opositor do regime fascista. Sem suspeitar do ex-aluno, Quadri recebe Clerici em casa, que fica atraído pela mulher bissexual do mestre. Traumatizado por uma experiência homossexual na infância - foi seduzido pelo chofer da família, Lino (Pierre Clementi)-, Clerici tenta matar esse desejo literalmente, eliminando os dois. Essa parábola política sobre o horror da uniformização comportamental e cultural dá ao requintado Bertolucci a oportunidade de pintar com talento o quadro negro da Itália entre o nascimento e morte do fascismo.

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