'A Gioconda é de época'

Entre a pílula e o choque de realidade, Marília Pêra emociona e faz rir com a fina dama de Duas Caras

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Por Patricia Villalba e RIO
Atualização:

Perua preconceituosa, vetusta senhora, fofoqueira. Gioconda era descrita assim na sinopse da novela Duas Caras, da Globo. Isso, até ela cair na pele da atriz Marília Pêra, para se tornar "a última dama da sociedade" e, talvez, a personagem mais versátil da trama, que vai da Lady Macbeth na invasão da Portelinha à quase chanchada do café-da-manhã na casa dos Barreto. No começo, a Gioconda era descrita como uma perua preconceituosa. Mudaram os planos? Quando me mandaram a sinopse, a mulher do Barreto era uma perua fofoqueira. Tenho a impressão de que mudaram os planos com a minha entrada. A Gioconda é de época, tem uma ética que não é dos dias de hoje. Ela é tanto cômica quanto dramática. O humor dela é coisa acrescentada por você? Não, o Aguinaldo (Silva, o autor) me disse que havia nela esse lado e eu aproveito. Há cenas que eu faço com extrema delicadeza, como as da invasão da Portelinha. E há as de humor, que quase chegam à chanchada. Duas Caras é mesmo sua primeira novela das 9? Sim. Eu inaugurei a Globo em 1965, e não me lembro a que horas as novelas entravam. Passei um tempo afastada e, depois, quando voltei à Globo em 1970, fiz novelas das 10. Depois, fiz várias novelas das sete e minisséries. Então, não tinha caído de novo no que se chama agora de horário nobre. Como você, que inaugurou a Globo, vê a transformação das novelas? Muitas coisas mudaram. Hoje, o processo cresceu muito e há a idéia de que as cenas precisam ser menores e grandiosas. O autor tem de inventar histórias mirabolantes para prender o telespectador, é uma coisa insaciável. Tenho um pouco de nostalgia. Sonho com uma novela calma, que não precise dar um choque térmico a cada minuto. Li uma história de que você, quando menina, ficava encantada nas cochias dos teatros onde seus pais trabalhavam, ao ver as atrizes, lindas e perfumadas. Hoje você se sente uma delas ou já não vê a profissão com tanto glamour? Acho que é influência da Dulcina de Moraes - o cabelo e a boca vermelhos, perfumadíssima, sorridente. As atrizes têm de ser glamourosas, bonitas, delicadas. Respeito uma atriz que ache que não precisa de nada disso, que prefira uma moda lixo, mas eu não consigo. Quando eu era pequena, uma tia me dizia "Marília, você é pobre, pára com isso!". É um jeito meu, estou sempre toda arrumadinha. Elas por ela Milú, de Cobras & Lagartos "Divertidíssima, iconoclasta. Nunca me preocupei em fazer só grandes personagens, dramáticos ou clássicos, para ter tal coisa no currículo. Fico querendo brincar em todos os lados, e brinco na chanchada também. Fazia esse exercício na Milú" Rafaela, de Brega & Chique "Para definir em poucas palavras, é a cara da (atriz) Dulcina de Moraes. Se a Dulcina estivesse viva naquela época em que a novela foi produzida, faria a Rafaela daquele jeito que eu fiz." Juliana, de O Primo Basílio "Medo dela, um demônio. Quando o (diretor) Daniel Filho me convidou para fazer, me deu muito medo. Foi uma personagem riquíssima, que me fez sofrer muito enquanto a carreguei, mas que me fez muito feliz."

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