Nas mais de 30 novelas que tem no currículo, Ilva Niño perdeu a conta de quantas empregadas domésticas interpretou. Uma delas entrou para a história da TV: a Mina, sempre chamada aos gritos pela Viúva Porcina em Roque Santeiro (1985).
Pernambucana e discípula de Ariano Suassuna e Paulo Freire, Ilva foi para o Rio logo após o Golpe de 64, no clima pesado da prisão do governador Miguel Arraes. Já nos anos 70, foi levada para a TV por ninguém menos que Dias Gomes. A atriz chegou a decidir que não voltaria a interpretar uma empregada. Mas não resistiu à Ernestina de Cama de Gato, que faz um charmoso par romântico com Péricles, papel de Tony Tornado. "Ela tem uma história só dela", resume a atriz, dando a dica de que ninguém merece o papel da empregada que entra muda e sai calada de cena.
Qual foi a primeira empregada doméstica da sua carreira?
Acho que foi em Sem Lenço, Sem Documento (1977). Era a Cotinha da Vieira Souto. Ela mesma se chamava assim, uma personagem muito boa, que me deu uma projeção muito maior que a Mina. Mas a novela em si, apesar da música do Caetano, não fez tanto sucesso quanto Roque Santeiro.
A Mina, então, foi sua melhor personagem?
É que a novela era realmente fantástica. Na época, fui à Itália e gritavam meu nome daquele jeito "Miiiiinaaaa!". E a parceria com a Regina Duarte (Porcina) foi maravilhosa, porque ao lado de uma atriz como ela, você não tem como cair, só fica em alta na cena. Mas a gente tem carinho mesmo pela personagem atual.
E o que a Ernestina tem de mais especial?
Eu já tinha dito que não iria mais fazer papel de empregada, mas ela é uma personagem maravilhosa. Tem mesmo uma história, sabe? Tem um marido que a ama de verdade, um filho de criação que a quer muito bem.
Pelo fato de você ter interpretado tantas mulheres do povo, a resposta nas ruas é imediata?
Sim, muito. Quando faço empregada, as pessoas dizem "Ah, eu queria ter uma empregada como você!".
Por que empregadas fazem tanto sucesso nas novelas?
Não é de hoje que isso acontece. Nas comédias de Molière, por exemplo, os empregados são os mais coloridos. Mas a empregada tem de ser gente dentro da história para fazer sucesso. Ela tem de ter vida própria, e tem de transmitir essa vida, essa quentura de gostar de viver.