A autêntica mãe de novela

Hilda Rebello tem uma história e tanto. Mas, se deixar, ela só fala do filho, Jorge Fernando

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Por Patricia Villalba
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Há uma pergunta, por sorte recorrente, que Hilda Rebello responde sempre com gosto. "Quando me param e perguntam 'a senhora não é a mãe...', eu já vou logo dizendo 'sou sim!'", conta a atriz, mãe do diretor Jorge Fernando, com quem divide o set de gravação há 20 anos - hoje, ela é a Nereide da novela das 7, Caras & Bocas.Dona Hilda é presença simpática e afetiva nas novelas dirigidas pelo filho desde que fez figuração como uma das aias da Rainha Valentine (Tereza Rachel) em Que Rei Sou Eu? (1989). O primeiro trabalho na TV foi a própria entrada dela na profissão, desejo adiado por pelo menos 50 anos. Quando "mocinha", lá pelos 13 anos, Dona Hilda queria ser atriz. "Tinha um teatrinho onde eu representava, meio de brincadeira. Participei de algumas peças no clube do bairro (Engenho Novo, no Rio) também", conta ela, hoje com 84 anos. Mas o pai severo queria uma filha professora, jamais atriz. "Ele achou por bem que eu não fosse artista. Tinha sido muito namorador e eu acho que, também por isso, tinha uma impressão ruim do meio artístico", pondera ela.Já que não pôde ser atriz, Hilda virou costureira. "Professora primária", como era a vontade do pai, não quis ser. "Depois, virei professora de corte e costura, veja só", diverte-se.Casou-se, teve dois filhos (além de Jorge, a produtora de teatro Maria Rebello) e ficou viúva, aos 62 anos. Deprimida, foi parar na Escola de Teatro Tablado quase por acaso. "Eu ia sempre ver os ensaios de uma peça que o Jorge estava montando com a Louise Cardoso. E ela, vendo meu interesse, me falou sobre um curso de teatro da Maria Clara Machado para a terceira idade."Do curso, Hilda pulou para a figuração em Que Rei Sou Eu?, e dali para pequenos papéis. "Entrava muda e saía calada. Mas o Jorge notou a minha expressão de felicidade, sabe? E passou a me chamar. Comecei com uma fala aqui, outra ali", detalha. Com 65 anos, dona Hilda teve a carteira de trabalho assinada pela primeira vez, como funcionária da Globo. Cinco anos depois, entrou para o Guinnes Book, como a atriz que estreou no teatro em idade mais avançada - aos 70 anos. "Até hoje não me tiraram o título", orgulha-se.Sem estrelismos, mas com simplicidade e franqueza admiráveis, a atriz comemora a capacidade de decorar o texto de suas cenas na novela. "Para mim, quanto menos fala tiver, melhor. Eu ainda estou conseguindo decorar, com 84 anos. Minha filha, é uma grande felicidade!"Mas orgulho mesmo ela tem do filho. Tanto, que se o interlocutor bobear, ela mal fala de si, para contar toda a vida artística do "Jorginho", uma história que começa nos teatrinhos com figurino de papel crepom, aos 5 anos. "Ele é o meu cartão de visita", resume.Mãezona assumida, ela não duvida que a vontade reprimida de ser atriz acabou sendo transmitida para o filho. "Tudo o que eu pude fazer para ele realizar esse desejo, eu fiz." Ela admite ter se realizado com a oportunidade de estar nos bastidores da TV ao lado do filho, mas garante não ter sentido, em nenhum momento da vida, rancor pela decisão do pai que a afastou da vida artística na juventude. "Hoje, eu sei que não foi meu pai, mas Deus - ele sabia que eu precisaria da profissão mais tarde", filosofa. "É agora, na terceira ou quarta idade, que eu preciso desta alegria, para me manter bem assim. E quem garante que eu estaria bem assim se tivesse começado antes?"

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