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Zélia Duncan estreia no musical em ‘Alegria, Alegria’, homenagem à Tropicália

O musical tem estreia marcada para o dia 11 de maio, no Teatro Santander, em São Paulo

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Por Ubiratan Brasil
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Filho de pais simpatizantes da esquerda, o diretor Moacyr Goes recebeu, quando jovem, uma educação esmerada. Eram os anos 1960, época de grande efervescência cultural no Brasil, motivada principalmente pelo repúdio ao governo militar. “Eles eram verdadeiros libertários, mas, quando eu queria ouvir certo tipo de música como as do tropicalismo, era obrigado a escutar na vitrola da empregada, pois era produtor contrarrevolucionário”, diverte-se ele que, apaixonado pelo movimento que sedimentou novos rumos na canção brasileira, fez uma detalhada pesquisa para escrever e dirigir o musical Alegria Alegria, com estreia marcada para o dia 11 de maio, no Teatro Santander.

Cantora vai estrear o musical 'Alegria, Alegria', homenagem à Tropicália, em maio Foto: Alex Silva/Estadão

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Trata-se de um projeto ousado – além de evitar as características básicas de um musical (como a tradicional trama pontuada por canções que ajudam a narrar a história), mas sem deixar de sê-lo, Goes convidou para capitanear o projeto uma intérprete também sempre disposta a enfrentar desafios artísticos: Zélia Duncan. “Conheço Zélia desde os anos 1990, quando lhe dei aula na CAL (Casa das Artes de Laranjeiras), no Rio. Naquele momento, ela já delineava as características que norteariam sua carreira”, comenta Goes. “Zélia sempre foi tropicalista, carregando uma gana por experimentos, sem medo dos embates estéticos.”

Não temer barreiras é, de fato, o cerne de Alegria Alegria. O espetáculo tem o tropicalismo, que completa 50 anos, como fonte de inspiração. Em outubro de 1967, Caetano Veloso lançou Alegria, Alegria, enquanto Gilberto Gil apresentava Domingo no Parque. A surpresa foi geral e o movimento cresceu até que, no ano seguinte, o show Momento 68 oficializou o lançamento do LP Tropicália, o disco manifesto do tropicalismo.

“Pode-se dizer que Alegria, Alegria e Domingo no Parque representam duas faces complementares de uma mesma atitude, de um mesmo movimento no sentido de livrar a música nacional do ‘sistema fechado’ de preconceitos supostamente ‘nacionalistas’, e dar-lhe, outra vez, como nos tempos áureos da bossa nova, condições de liberdade para a pesquisa e a experimentação, essenciais, mesmo nas manifestações artísticas de largo consumo, como é a música popular, para evitar a estagnação”, escreveu o poeta Augusto de Campos, no Estado, em 25/11/1967.

O disco Tropicália definitivamente revelou o interesse artístico daqueles músicos, ou seja, a sintonia com a cultura pop internacional e, ao mesmo tempo, a dedicação à preservação de ideias defendidas pelos modernistas de 1922, especialmente a da valorização da cultura brasileira. “A Tropicália é a tradição fiel do melhor na cultura brasileira que é o mosaico: a convivência das diferenças, o amor pela nossa produção cultural, mas também a abertura para sorver o que há de melhor lá fora”, comenta Goes. “E a sensação de liberdade produz alegria.”

Assim, o diretor escreveu um musical (o primeiro em sua carreira) sem nenhuma conotação educativa. “Não quis algo didático, com datas marcando cada período histórico”, explica. “A história é contada não da forma tradicional, mas por meio de canções que se tornaram célebres durante o tropicalismo (e também velhos clássicos, como Coração Materno, de Vicente Celestino, que Caetano regravou), entremeadas por textos que escrevi e por poemas de Torquato Neto.”

Não à toa o trabalho de Caetano se tornou o eixo da encenação. “A Tropicália não foi obra dele, mas Caetano é a expressão mais radical e imperativa. Encarnou como poucos o movimento, inclusive a necessidade dos embates”, diz Goes. “Não bastasse isso, sua obra é extremamente bela – as letras têm conceitos, mas são lindas”, completa o diretor musical Ary Sperling.

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Goes conta que sempre pensou em Zélia para o projeto, que conta ainda com elenco de 13 atores. “Quando li o roteiro, fiquei comovida”, diz ela. “É um recorte histórico da Tropicália, que mostra como o movimento continua atual. São artistas que se arriscaram em um momento conturbado, com Caetano dando a cara pra bater. Era o talento misturado com a coragem. E isso me toca, pois sempre gostei de enfrentar riscos em minha carreira.”

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