Depois dos espetáculos O Mala (2008), Que Tal Nós Dois? (2018) e Divórcio (2019), Isser Korik e Otávio Martins retomam a parceria na peça Quando Tudo Estiver Pronto, do dramaturgo americano Donald Margulies, que estreia nesta sexta, 21, no Teatro Folha. Na peça, Isser assume a direção e Otávio sobe ao palco como ator. É a primeira montagem no Brasil desse texto do premiado Margulies, autor também de peças como Sight Unseen.
A tradução é assinada pelo próprio Isser Korik. “Não tenho conhecimento de nenhuma outra montagem (da peça no País). Eu traduzi o texto, partindo do ponto de vista da dramaturgia. A história se passa no Brooklin, em Nova York, em uma típica família tradicional judia, não ortodoxa. Muitos valores da cultura judaica estão colocados no texto”, comenta Isser.
“Também sou judeu e me considero muito inserido na cultura judaica como um todo. Então, conduzi a tradução/adaptação do texto, buscando causar no espectador brasileiro o mesmo impacto que o autor buscou em seu público americano. Para isso, optamos por mudar nomes de pessoas, lugares e costumes típicos da comunidade judaica de Nova York, por seus equivalentes na comunidade judaica paulistana. De resto, seguimos totalmente a estrutura dramatúrgica do original”, completa o diretor.
A trama gira em torno da morte de uma jovem mãe, interpretada por Patrícia Pichamone, que pertence a uma família judia. Uma semana depois, no entanto, o impossível acontece: ela retorna de sua cova para colocar sua casa e sua família em ordem. Nesse processo, ela vai reencontrar o marido (Otávio Martins), o filho (Filipe Ribeiro), a sogra (Lilian Blanc), o sogro (Sylvio Zilber) e cunhada (Eliete Cigaarini).
Esse retorno, inevitavelmente, afetará a todos. “As dinâmicas familiares colocam cada membro da família em papéis específicos em relação aos demais. A falta de um desses familiares demanda a construção de novas pontes entre os sobreviventes”, comenta o diretor.
O texto, então, instiga o público a reflexões diante dessa chance de se voltar ao mundo dos vivos e colocar as coisas nos trilhos. “A morte, por mais previsível que seja, sempre nos pega de surpresa e 'no meio' de alguma coisa. Ninguém agenda a morte. Então, deixar pendências é condição inevitável. E ficamos sempre com a sensação de que alguma coisa ficou por arrumar. Margulies responde à eterna pergunta 'se pelo menos pudesse ter feito aquilo antes de ir...', trazendo a personagem de volta para resolver a pendência. Leva a plateia a questionar 'será que seria mesmo melhor assim?'”, pondera ele.
Para Isser, os textos de Donald Margulies carregam muito conteúdo emocional e dão espaço generoso para o brilho dos atores. “As situações conduzem a reflexões que levam a plateia a se identificar com os sentimentos dos personagens”, observa.
Essa peça em específico chegou a ele pelas mãos de Otávio Martins, que ficou interessado pela obra do Margulies e foi atrás de alguns textos dele. "Quando Tudo Estiver Pronto estava no pacote. Não era dos textos mais conhecidos do autor, mas a temática chamou a atenção.”
A montagem de Quando Tudo Estiver Pronto, aliás, marca o quarto projeto de Isser Korik e Otávio Martins juntos. Os dois se conheceram em 2004, quando Otávio produziu e atuou na peça Os Jogadores, dirigido por Hugo Coelho. O primeiro trabalho da dupla foi quando Isser dirigiu Otávio em O Mala, de Larry Shue, em 2008.
“Desde aquela época, acompanhamos com mútuo interesse os trabalhos um do outro, sempre trocando ideias e impressões que nos beneficiavam”, conta Isser. “No ano passado, resolvemos retomar a parceria e montamos Que Tal Nós Dois?, em que eu dirigi e ele atuou, e Divórcio!, no qual invertemos os papéis. Essa inversão nos coloca em um ambiente de confiança mútua, porque, para brilharmos como atores, precisamos entregar o comando a um diretor que sabemos que extrairá o máximo de nós.”
Quando Tudo Estiver Pronto. Teatro Folha. Shopping Pátio Higienópolis. Av. Higienópolis, 618. Estreia: 21 de junho. Temporada até 15 de setembro. Sexta, 21h30; sábado e domingo, 20h. Ingresso: R$ 70
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