Novo espetáculo do Cirque du Soleil, ‘Amaluna’ valoriza heroínas em um elenco com maioria feminina

O novo espetáculo do Cirque du Soleil, que inicia nesta quinta, 5, a temporada em São Paulo, no Parque Villa Lobos

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Por Ubiratan Brasil
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O empoderamento feminino norteia Amaluna, o novo espetáculo do Cirque du Soleil, que inicia nesta quinta, 5, a temporada em São Paulo, no Parque Villa Lobos. Referências shakespearianas permeiam a história da rainha Prospera que, para marcar a chegada à vida adulta de sua filha Miranda, comanda uma cerimônia que homenageia a feminilidade, a renovação, o equilíbrio e o renascimento. 

Cirque. Espetáculo 'Amaluna' apresenta maioria feminina no elenco Foto: Bianca Tatamyia

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Amaluna, uma união das palavras ‘ama’ (referência à mãe) e ‘luna’ (lua), tem um elenco majoritariamente feminino, fato inédito na história do Cirque. “É uma reflexão sobre o equilíbrio, do ponto de vista das mulheres”, conta a diretora Diane Paulus. Para tratar do assunto, o Estado convidou a premiada Deborah Colker, que criou, dirigiu e coreografou para o Cirque o espetáculo Ovo, estreado em 2009 e atualmente em turnê pela Europa, para conversar com Diane. Veja os principais momentos. 

Qual a principal diferença entre criar uma ópera ou um musical e criar para o Cirque? Existem algumas diferenças importantes. Uma, muito emocionante para mim, mas que foi também desafiadora, é que você trabalha com vários idiomas. Na ópera, há cantores de todo o mundo, mas, em um show do Cirque, vêm da China, da Rússia ou do Japão artistas que nunca estiveram fora do seu próprio país. E você precisa se comunicar em vários idiomas. Eu costumava sempre dizer que era como as Nações Unidas. E era importante que os intérpretes entendessem minha intenção e minha paixão porque eu realmente dependia deles para me comunicar. Isso foi muito desafiador, mas também muito profundo. Foi algo muito inspirador porque, quando você chega à frente da Grande Tenda e vê no alto as bandeiras que representam todos os diferentes países dos artistas envolvidos, percebe o poder da arte e do teatro, que supera qualquer linguagem ou barreira cultural. Ao mesmo tempo, você também está lidando em uma arena onde há o perigo físico. Então, os artistas realmente devem cuidar um do outro. É parte do vínculo em um show do Cirque du Soleil cada artista participar na montagem dos equipamentos para os colegas. Você está envolvido como uma trupe, uma metáfora do que é possível no mundo: como podemos nos unir e atravessar juntos o que às vezes parecem limites intransponíveis. Nós somos um só povo, de certa forma, e isso foi simbolizado pelo show.

E a parte técnica? Adorei poder ensaiar um número e imediatamente após estudá-lo num registro em vídeo. Porque você não pode pedir ao acrobata para repetir o movimento dez vezes seguidas, então o artista e o treinador assistem ao vídeo várias vezes para aperfeiçoar o movimento. Por fim, há números que os artistas não podem executar antes da apresentação porque são tão ousados e tão difíceis que eles precisam da adrenalina e da energia da performance para conseguir realizá-los. Houve certos números que só vi no ensaio final.

Você está acostumada a trabalhar com palavras, que servem a um propósito fundamental. Como foi criar um show no qual nenhuma palavra é usada? Com certeza, um desafio. Mas, para mim, foi como os grandes balés que contam histórias. Quando menina, em Nova York, tive a sorte de dançar com o NY City Ballet quando George Balanchine ainda estava vivo. Era um coreógrafo surpreendente. Carol Armitage, minha coreógrafa em Amaluna, também passou por Balanchine, então nos conectamos sobre como contar histórias por meio do movimento: expressão física, ação, movimento, gestos... Às vezes, Amaluna se parecia muito com uma história de balé para mim.

E a questão do gênero? Quando me disseram que a maioria dos shows do Cirque du Soleil tem um elenco de cerca de 70% do sexo masculino e que o objetivo com Amaluna era reverter essa proporção, aquilo me interessou. Mas era importante que houvesse homens para ter o Ying e o Yang. Estava apenas mudando o equilíbrio. Foi uma ideia poderosa e empoderadora. Sempre senti que a ideia de ser um show feminino e que celebra as mulheres agradaria também aos homens porque todos têm uma filha, esposa ou mãe. Comemoramos as relações, não uma batalha. 

O Cirque du Soleil é uma incrível fábrica de espetáculos. Houve algum aspecto complicado? Como diretora de teatro, gosto de ser muito espontânea e de improvisar. Existe um grau de espontaneidade e improvisação que não é possível dentro de uma organização tão complexa quanto a do Cirque. O processo de criação, antes mesmo de chegar aos artistas, é extenso. Então, é quase como se a sua improvisação acontecesse na sala de criação com seus colaboradores, mas não no palco. São ritmos diferentes: no Cirque, a criatividade e a improvisação acontecem durante um período muito mais longo em diferentes fases, enquanto no teatro você entra em uma sala e atira tudo para o ar e observa onde aquilo pousa. Não se pode fazer isso no Cirque. Mas há outras oportunidades para ser criativo e deixar a criatividade florescer. E isso acontece de diferentes maneiras.

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