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Montagem do musical ‘A Pequena Sereia’ se destaca pela quebra de tabus

Um príncipe vivido por ator negro e a protagonista mais disposta a justificar seu empoderamento são os grandes trunfos

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Por Ubiratan Brasil
Atualização:

Quando foi se inscrever para os testes do musical A Pequena Sereia, o ator Gabriel Vicente olhou a lista de personagens e, de cara, descartou o Príncipe Eric. “Normalmente, é escolhido alguém loiro, de olhos azuis e branco, o que não é o meu perfil”, contou ele ao Estadão. Daí sua surpresa quando foi convidado pela produção do espetáculo para tentar justamente esse papel - e foi escolhido. Assim, quando a peça estrear oficialmente no domingo, 17, no Teatro Santander, Gabriel estará vestindo trajes da realeza. “Para nossa representatividade, isso é muito importante”, assegura. “Especialmente quando uma criança negra na plateia observar que o príncipe também é negro.”

Fabi Bang vive Ariel no musical 'A Pequena Sereia'. Foto: Alex Silva/Estadão

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O efeito, de fato, deverá ser promissor. “Será um dos assuntos da temporada e vai ajudar a mudar conceitos como o dos papéis que são sempre interpretados pelos mesmos atores”, acredita Andrezza Massei, que vive a divertida vilã Úrsula. “E espero que logo chegue o dia em que o que celebramos hoje como novidade seja considerado algo corriqueiro”, completa Fabi Bang, que vive a sereia Ariel.

O momento também é celebrado por Róbson Nunes, que interpreta Sebastião, o divertido caranguejo encarregado de evitar os tropeços de Ariel em sua curiosidade de se tornar um ser humano. “Viver esse personagem é a confirmação da minha representatividade como ator negro. Outro trunfo é participar de um musical, gênero ao qual não estou acostumado”, conta ele, que se inspirou em profissionais do samba, como Thobias da Vai-Vai, para criar a alegria do papel. 

Gabriel Vicente intepreta oPríncipe Eric na montagem do musical 'A Pequena Sereia'. Foto: Alex Silva/Estadão

Montado inicialmente em 2018, A Pequena Sereia retorna mais ágil e com efeitos especiais mais elaborados. Conta a história de Ariel que, apesar de viver no fundo do mar, sonha em fazer parte do mundo dos humanos - especialmente depois de salvar o príncipe Eric de um afogamento. E, apesar de alertada por seu tutor, Sebastião, e pelo amigo Linguado (Lucas Cândido), ela aceita a proposta de sua tia Úrsula, a esperta bruxa do mar, a ceder sua bela voz em troca da possibilidade de viver fora do mar.

Cena do musical 'A Pequena Sereia', com Fabi Bang no papel de Ariel,Róbson Nunes como Sebastião eLucas Cândido, intepretando Linguado. Foto:

Sarcasmo

“Nesses quatro anos desde a primeira temporada, passamos por uma pandemia e eu tive uma filha, o que me fez olhar de forma diferente para Ariel”, conta Fabi. “Hoje, quando o pai vem com uma retórica autoritária, querendo mandar no seu destino, ela busca seu lugar e firma sua posição.” A atriz revela até mudanças no texto, que sinalizam uma adequação aos tempos modernos. “Antes, Sebastião dizia que ela devia dedicar-se a coisas de menina; agora, ele diz ‘coisas mais delicadas’. Não pode haver essa separação.”

Mudanças também são notáveis em Úrsula. “Depois da pandemia, tenho outro olhar para o mundo e ela acaba refletindo meu sarcasmo mais intenso, o que a torna mais interessante”, acredita Andrezza. “O musical continua com a magia do conto de fadas, mas não se esquece da diversidade do dia a dia”, pontua Stephanie Mayorkis, da IMM e EGG Entretenimento, produtoras do espetáculo.

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Andrezza Massei vive a divertida vilã Úrsula na montagem do musical 'A Pequena Sereia'. Foto: Alex Silva/Estadão

Serviço

A Pequena Sereia  Teatro Santander. Av. Pres. Juscelino Kubitschek, 2.041.  5ª/6ª, 21h.  Sáb., 16h e 20h.  Dom., 15h e 19h. R$ 75 / R$ 300

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