RIO - O ator Milton Gonçalves, que há duas semanas foi anunciado novo presidente da Fundação Teatro Municipal do Rio, não irá assumir o cargo. A Secretaria Estadual de Cultura informou nesta terça-feira, 7, que a decisão foi tomada porque ele é membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, órgão consultivo da Presidência da República, desde o ano passado, e o acúmulo da função de presidente do Municipal configuraria "conflito de interesse". O nome do ator havia gerado controvérsia no meio erudito.
"Não aconteceu nada demais. Eu sou membro do conselho há algum tempo, e não acordei que não poderia estar nos dois ao mesmo tempo, porque a lei não permite. O erro foi meu. Cada um escolhe o que é melhor para si", disse Milton à reportagem do Estado, que lhe perguntara por que, entre as duas opções, ele ficou no conselho, e não no Municipal. "Eu me dou muito bem com o secretário (André Lazaroni, que irá se dividir entre o cargo e a presidência do teatro, recebendo apenas o salário referente ao primeiro) e com todos. Não há conflito algum. Não cheguei a ser nomeado, estava ainda me informando das coisas."
Segundo a secretaria, o Conselho recomendou que Milton não assumisse "cargos de direção em espaços culturais", pois isso seria incompatível com o fato de ele ser conselheiro e "com a influência de Milton junto à classe artística". Lazaroni, procurado pela reportagem, não deu entrevista. Em nota, disse: "Quero conduzir o trabalho privilegiando o diálogo com todos os setores do teatro. Um fator determinante para minha decisão foi propiciar uma economia na folha de pagamento, repassando a quantia que seria destinada ao salário do presidente do teatro para qualificar remuneração da equipe técnica, já que nosso Estado atravessa na atualidade uma crise de grandes proporções".
Na nota, a pasta informou que o diretor de óperas André Heller-Lopes, professor da Escola de Música UFRJ e que foi coordenador da área de ópera da prefeitura do Rio de 2003 a 2008, será o novo diretor artístico do Municipal, o número 2 da casa. É um nome que deve ser bem recebido pelo universo erudito, que havia reagido com surpresa ao de Milton. Isso porque o ator não tem experiência de gestão, tampouco familiaridade com as vocações do teatro: ópera, balé e música de concerto. Lazaroni afirmou na nota que Heller-Lopes terá "toda a liberdade de criação, dando acesso a todos os públicos, incluindo o popular e o nacional".
No dia 23 de fevereiro, após ser anunciado novo presidente do teatro, Milton rebateu as críticas, dizendo que estava apto para a tarefa. Na ocasião, também foi criticada a possibilidade de a escolha do ator por Lazaroni ter intenções políticas - ambos são filiados ao PMDB, partido também do governador do Rio, Luiz Fernando Pezão. Tanto Lazaroni quanto Milton rechaçaram a inferência.