Lázaro Ramos e Taís Araújo falam do encanto da peça sobre Luther King

Casal está junto em 'O Topo da Montanha'

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Por Ubiratan Brasil
Atualização:
Lázaro e Taís. No início, o texto não os seduziu Foto: Alex Silva|Estadão

Os biógrafos de Martin Luther King Jr. (1929-1968), um dos mais importantes líderes do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos e no mundo, relatam que, no seu último dia de vida, ele participou de situações prosaicas, como uma guerra de travesseiros. Mas Luther King também ficou algumas horas sozinho no quarto do hotel em Memphis, onde foi assassinado no dia 4 de abril de 1968.

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É durante esse período, do qual não se sabem detalhes, que a jovem dramaturga Katori Hall ambienta a peça O Topo da Montanha, que estreia na sexta-feira, dia 9, no Teatro Faap. "O texto fala da coragem de um homem na luta pelos direitos humanos", observa o ator Lázaro Ramos, que vive o pastor Luther King, além de dirigir a montagem. "Mas ele não usa a agressão como arma de luta, mas, sim, a dignidade e a tolerância para conseguir o respeito do próximo."

Na peça, Katori Hall se aproveita do mistério que cerca aqueles momentos para criar um encontro hipotético entre Luther King e Camae, uma misteriosa e bela camareira em seu primeiro dia de trabalho no hotel. Vivida por Taís Araújo, ela confronta o líder, questionando-o sem temor, estimulando um tenso e bem-humorado jogo de provocações, que vai ressaltar sua humanidade.

O casal Taís Araújo e Lázaro Ramos emociona-se quando fala sobre sua montagem de O Topo da Montanha. “A peça tem um discurso duro, de quem quer ser escutado”, comenta o ator e diretor. “Ao mesmo tempo, revela como um líder também tem suas fragilidades”, completa a atriz.

O título faz referência ao último discurso de Martin Luther King, proferido em Memphis, no Tennessee – mais especificamente na Igreja de Mason, no dia 3 de abril de 1968, um dia antes de seu assassinato, cometido na sacada do Hotel Lorraine, onde ele estava hospedado no quarto 306.

No encontro com a camareira Camae, o líder é confrontado em seus valores mais íntimos. “Ela faz com que Luther King reflita sobre suas próprias ações”, comenta Taís que, como Lázaro, não se sentiu atraída pelo texto em seu primeiro contato. “A primeira impressão que tivemos é de se tratava de uma peça americana demais.”

A primeira pessoa a fazer uma referência sobre O Topo da Montanha foi o diretor Dennis Carvalho que, há dois anos, ao assistir à montagem de Nova York, voltou empolgado. “Lázaro, essa peça você tem que fazer”, disse. Pouco tempo depois, foi a vez de outro encenador, João Falcão, com quem Lázaro interpretou um de seus primeiros sucessos no palco, A Máquina. “João não só fez a mesma intimação amiga, como trouxe o texto para eu ler”, conta o ator que, curioso diante de tantas recomendações, decidiu dar uma espiada.

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Pediu uma tradução, mas não se entusiasmou. A mesma reação teve Taís – para ambos, a peça parecia dizer mais aos americanos, ou seja, buscava humanizar um personagem muito caro à história daquele país. Nem mesmo o fato de o texto ter sido interpretado por Samuel L. Jackson e Angela Basset na Broadway foi determinante.

A montagem parecia definitivamente afastada até que o acaso entrou em ação – quando foi entrevistar o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, para seu programa de TV, Espelho, Lázaro foi procurado pelo chefe de gabinete Silvio José Albuquerque e Silva. “Gostaria que você lesse uma peça que traduzi e que me pareceu interessante”, disse ele, entregando-lhe sua versão de O Topo da Montanha.

Ao ver o título, Lázaro não se animou. Certa noite, Taís resolveu folhear a peça. Ficou impactada – admirador e conhecedor de Martin Luther King, Silvio Albuquerque acrescentara um toque de humanismo que tornou o texto em algo comovedor. “Ri e chorei muito, o que me fez perceber finalmente que poderia ser montado no Brasil.”

Graças à sua insistência, Lázaro baixou a guarda e leu a versão – ficou igualmente tocado. O casal decidiu, então, investir no projeto, com João Falcão na direção. “Mas, como tivemos que adiantar os ensaios, pois ficamos comprometidos com o seriado Mister Brau, João não pôde participar.” Nesse ponto, Taís insistiu para Lázaro assumir o comando.

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“Dirigir não estava em meus planos, principalmente porque conciliar a direção com a atuação era algo que eu sempre disse que não faria. Taís me convenceu a encontrar e acreditar na força de Martin Luther King”, explica Lázaro.

A decisão foi extenuante, mas também recompensadora. Com Fernando Philbert na codireção, Lázaro começou a dar contornos a uma versão com toque de brasilidade. Um exemplo: não se prendeu à tradição das montagens estrangeiras de, no cenário, reproduzir com exatidão o quarto do hotel onde o ativista foi assassinado. Assim, a cenografia de André Cortez usa uma estrutura de metal que facilita a revelação de uma grande surpresa no final.

“Também não me preocupei em ser uma reprodução fiel do Luther King no palco, encenando seus mínimos gestos”, disse. “É uma apropriação nossa, que permitiu compartilhar nosso afeto durante o ensaio. Com isso, entendemos perfeitamente o grande ensinamento deixado por esse homem.”

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O carinho vai se estender pela plateia da estreia na sexta, quando personalidades confirmaram presença: o próprio Joaquim Barbosa, Emicida, Milton Gonçalves, entre outros.