Espetáculo leva público para a cama no Festival Internacional de São José do Rio Preto

Na peça de Fernando Rubio, atrizes resgatam intimidade ao contar histórias embaixo dos lençóis

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Por Leandro Nunes
Atualização:

Se a arte contemporânea e sua influência no palco deixam rastros de que categorias e linguagens foram implodidas, a sensação de que a conexão entre pessoas perdeu para um mundo fragmentado também é preocupação da arte. Em busca dessa utopia concreta de reatar laços, o argentino Fernando Rubio instala camas-teatro no espetáculo Tudo Que Está Ao Meu Lado, na 18.ª edição do Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto, com abertura nesta quinta, 5, até sábado, 14.

A montagem que já passou por cidades do mundo, no meio de um lago holandês, em vinhas, na Cordilheira argentina, e à beira do Hudson River Park, em Nova York, traz camas e um elenco formado por atrizes deitadas em cada uma. No FIT, a montagem será apresentada em parques, praças e em uma represa da cidade. Com duração de 15 minutos, o espetáculo convida uma pessoa para tirar os sapatos e deitar-se ao lado da atriz. “A posição horizontal é algo aprendido e repetido diariamente”, conta Rubio. “Na peça, essa ação transforma o ato privado inevitável em público e continua a construir um evento íntimo.”

'Tudo Que Está Ao Meu Lado'. Montagem já foi apresentada em um lago na Holanda, na Argentina e em Nova York Foto: VICTOR NATUREZA

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Para o artista, as camas espalhadas ao ar livre também configuram uma instalação para o público ao redor. “Todos os ruídos, vozes, o clima, mudanças de iluminação e o inesperado atravessam o espaço aparentemente calmo, o que oferece infinitas possibilidades, ao mesmo tempo em que não alteram a estrutura principal do trabalho.”

O trabalho com as atrizes convidadas compõe a construção de uma relação um a um, com voz, olhares e expressões construídas e oferecidas para o espectador ao seu lado. “A ação deve ser econômica. Não há outra maneira de estabelecer um vínculo mais profundo com esse trabalho, a não ser deixando que se revelem espaços nem sempre visíveis ou decodificáveis em uma emoção.”

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Na curadoria desta edição que compôs a grade de 20 espetáculos – de países como Finlândia e França, e do Rio, Paraná, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Sul e São Paulo – o FIT renova um olhar para as artes cênicas e o espaço público, a partir de obras que empunham certa elaboração de discursos e experimentação de linguagens. “Há uma sintonia com o momento do País e trabalhos desenvolvidos que refletem sobre temas políticos e sociais”, explica Janaína Leite, uma das curadoras, sobre montagens como Cabaret Macchina, do Paraná. “Mesmo que seja um espetáculo de rua, o grupo desenvolve ações além do que é feito tradicionalmente no gênero.” 

Há montagens que lançam mão de discursos contra homofobia e racismo e ainda elaboram uma linguagem como suporte para as ideias, como é o caso de Isto É Um Negro?, de São Paulo. “A performance é importante por provocar o teatro e colocá-lo nos limites do corpo e da relação com o público. A urgência do tema acaba ganhando contornos sombrios e revelando contradições. É sair do teatro com mais problemas que soluções”, continua Janaína. 

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O espetáculo Tarde de Ventania, da companhia francesa Non Nova, é um furacão colorido feito com sacolas plásticas e guiadas por ventiladores. A montagem da artista Phia Menard faz parte de um experimento visual com os quatro elementos – terra, água, fogo e ar. “Ela encontra uma poética do corpo que permite uma transmutação do artista e da cena”, conta Janaína sobre o espetáculo que desembarca em São Paulo no dia 18, quarta, às 13h, 15h e 17h, no Sesc Parque Dom Pedro II. 

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