Espetáculo 'Godspell' une hip hop e religião

Famoso musical dos anos 1970 ganha nova versão nacional que revela agruras da realidade sem perder a ternura

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Por Ubiratan Brasil
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O primeiro encontro foi estimulante – de um lado, o diretor, ator e intérprete Dagoberto Feliz disposto a não se prender às amarras do teatro musical e a propor formas mais livres de atuação; de outro, 13 atores, a maioria em início de carreira, ávidos para entrar de cabeça em uma nova experiência. O que os unia naquela segunda-feira, 30 de maio, em uma sala de ensaio, era o início da preparação do musical Godspell, que estreia em julho, no Teatro das Artes.

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“Quando eu soube que o Dagô iria dirigir a montagem, fiquei mais animado, pois sabia que haveria muito aprendizado”, Beto Sargentelli, jovem que constrói um sólido currículo em musicais (O Rei Leão, Jesus Cristo Superstar, We Will Rock You) e que viverá Judas. “E Dagô gosta de utilizar todos os recursos teatrais para contar uma história”, completa Leonardo Miggiorin, que será Jesus.

Baseado nas parábolas do Evangelho de São Mateus, Godspell foi escrito em 1971 por Stephen Schwartz e John-Michael Tebelak – a ideia nasceu em um projeto realizado por estudantes universitários em seu trabalho de conclusão e que acabou inspirando um musical de sucesso na Broadway. A proposta era também de servir de contraponto a outro espetáculo, Hair, ao enfatizar o legado do cristianismo e, principalmente, da personagem de Jesus como filho de Deus e salvador da humanidade.

“Minha intenção com o espetáculo é a de falar de amor, paz, união, solidariedade nos tempos atuais, quando isso parece ser extremamente difícil”, conta Dagoberto, cuja formação é a de músico – entre outras virtudes, é bacharelado em piano. “Assim, quero aproveitar que o texto original é composto por quadros e ir além, ou seja, utilizar formas teatrais que transformem a peça em algo mais criativo, mais próximo do cinema mudo e até mais melodramático.”

Amigos. Beto Sargentelli (Judas) e Leonardo Miggiorin (Jesus) Foto: Felipe Rau|Estadão

Godspell mostra como um grupo de 10 pessoas – arquétipos da sociedade pós-moderna e que podem ser encontrados em qualquer grande metrópole – tem seus caminhos cruzados por João Batista/Judas (no espetáculo, as duas personagens são interpretadas pelo mesmo ator, Beto Sargentelli) e por Jesus. Esse encontro inesperado altera as ações e o olhar de todos para a vida. “Isso vem de encontro à minha proposta que é a de considerar todas as tribos que habitam hoje nossa cidade”, continua Dagô. “Assim, convidei a (atriz, diretora, dramaturga e figurinista) Claudia Schapira para trazer seu olhar de hip hop e colaborar com um toque mais urbano, marginal.”

O projeto, como já foi dito, empolga o grupo nesse início de processo. “Dagô quer algo vivo todos os dias, um espetáculo lúdico e extremamente humano”, acredita Sargentelli. “Ele também pretende brincar com os clichês do musical, além de apostar na fantasia sem parecer alienado”, completa Miggiorin, que já ostenta barba e cabelos compridos.

Apesar do tema religioso, o que justifica a presença de canções gospel, o musical é profundamente marcado pelo rock. “É um ritmo vibrante, necessário para contar uma história como essa”, observa o diretor musical Carlos Alberto Júnior. E, a julgar pelo ensaio acompanhado pelo Estado, momentos marcantes não faltarão, como o encantador solo cantado por Pedro Navarro e a vibrante voz de Juliana Peppi, jovens talentosos que logo se consagrarão como protagonistas.Primeira montagem nacional teve Antonio Fagundes A primeira montagem brasileira de Godspell aconteceu em 1973, com Antonio Fagundes vivendo Jesus e sua então mulher, Clarice Abujamra, assinando a coreografia. A direção foi de Altair Lima, que já havia produzido anteriormente Hair.

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Dez anos depois, Fernando Eiras viveu o filho de Deus em uma montagem carioca. Em 2002, Miguel Falabella produziu uma nova versão, com grandes nomes do teatro musical, como Fred Silveira (no papel de Jesus), Sara Serres, Amanda Acosta e Paula Capovilla. E, em 2012, surgiu a mais recente versão de Godspell, no Teatro Commune, em São Paulo. 

No cinema, a versão de 1973 tornou o musical mundialmente conhecido a ponto de uma de suas canções, Day by Day, apresentada no álbum original, figurar na lista das mais ouvidas da revista Billboard.

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