Em 'Oeste Verdadeiro', Sergio Guizé vive ladrão com talento para ser artista

Texto de Sam Shepard cria embate entre irmãos que se enganam diante do sucesso de uma boa história

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Por Leandro Nunes
Atualização:

Foi na sujeira e no crime de Hotel Lancaster (2006) que surgiu o desejo de continuar um trabalho abrigado nos obscuros interesses do ser humano. O texto do dramaturgo Mário Bortolotto, que acompanhava um encontro entre traficantes e prostitutas horas antes do ano novo, tinha Sergio Guizé no elenco. Nesta sexta, 7, ele volta aos palcos em Oeste Verdadeiro, sob direção de Bortolotto. 

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Na montagem, o ator vive Lee, um jovem errante que passa seu tempo no deserto e se sustenta por meio de roubos. Ele interrompe esse período de isolamento para visitar a mãe (Mara Faustino), mas ao chegar descobre que ela está viajando e que o irmão, Austin, um roteirista de cinema, está cuidando da casa. A receita está dada para uma batalha com tons de competição dos bíblicos Esaú e Jacó. “Eles são opostos e carregam certo desprezo um pelo outro”, conta o ator que viveu o sucesso de João Gibão na novela Saramandaia e Candinho de Êta Mundo Bom! “Mas também percebem coisas que faltam em suas próprias vidas”, completa o ator Carcarah, no papel de Austin.

Assim que o desonesto Lee chega e descobre ter tanto talento quanto seu irmão para as artes, entra em choque com Austin, que está em busca do sucesso. “Austin está escrevendo um roteiro romântico e vai ser atrapalhado pelo irmão vagabundo e bêbado”, explica Bortolotto. Enquanto o irmão tenta vender seu projeto para um agente gay de Hollywood (Walter Figueiredo), o personagem de Guizé seduz o homem a aceitar uma ideia sua com uma aposta em uma partida de golfe. Um detalhe é que Lee mal sabe escrever. “O autor também revela os bastidores da criação cinematográfica e artística, na qual os acordos são feitos levando em conta outros interesses”, explica também Figueiredo.

Ator. Selvagem e bêbado, ele vai criar seu 'Oeste Verdadeiro' Foto: Werther Santana/Estadão

A escrita, que poderia unir os irmãos, torna-se mais um motivo de competição. No início, Austin ajuda Lee na transcrição de seu Oeste Verdadeiro, um antigo símbolo norte-americano de prosperidade e oportunidades, como o irmão roteirista, mas que também possui um lado selvagem, tal qual Lee. 

Para Bortolotto, que já montou outra peça de Shepard, Criança Enterrada, o autor retrata o realismo e a dureza das relações familiares. Na trama, Dodge e Halie tentam administrar suas terras e a própria sanidade, enquanto cuidam dos filhos. Um dia, um neto sumido volta à casa, mas ninguém parece reconhecê-lo. “São relacionamentos cheios de problemas, principalmente com a figura paterna, como na vida do próprio autor.” O diretor lembra que Shepard carrega em suas obras as revoltas de sua própria vida. O ator e dramaturgo norte-americano já foi detido por dirigir alcoolizado. Em 2017, ele completa 74 anos.

Além da temporada no Cemitério dos Automóveis, Guizé planeja levar a peça para o Rio e circular pelo País. Neste ano, ele vai gravar Mulheres Alteradas, filme de Caco Galhardo, ao lado de Deborah Secco e Luciana Paes, e também se prepara para a próxima novela das 21h, de Walcyr Carrasco.

OESTE VERDADEIRO Cemitério dos Automóveis. R. Frei Caneca, 384. Tel.: 2371-5743. 6ª, sáb., 21h, dom., 20h. R$ 40 / R$ 20. Estreia hoje, 7. Até 11/6

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