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'Em Comédias Furiosas', propaganda de uma operadora de celular une sujeitos cansados da civilização

Peça de Leonardo Cortez narra quatro histórias unidas por uma estranha cabra

Por Leandro Nunes
Atualização:

Nos últimos anos, o humor e seus artistas parecem enfrentar a mais difícil missão: fazer rir. No teatro paulistano, a fartura de dramas e seus autores especializados podem até justificar essa numerosa oferta, mas a demanda do público é a de que gargalhar é tão natural quanto se emocionar. Nesse front, Leonardo Cortez estreia nesta sexta, 31, Comédias Furiosas, no Teatro Cacilda Becker. 

O texto da peça já existia, conta o autor, mesmo que não finalizado. Foi quando estreou Pousada Refúgio em 2018, sobre tipos urbanos que buscavam a fuga da angústia das cidades em um retiro ‘gourmet’. Já em Comédias Furiosas, Cortez abandona suas personagens ao stress da capital e deseja tirar humor em um conjunto de cenas que, à primeira vista, surgem envoltas em um mistério de selfies e propagandas. “Quis trazer personagens que estivessem na iminência de explodir em situações de trabalho, na família e na interação virtual.”

Animal.Ninguémé o que parece ser Foto: JOÃO CALDAS FILHO

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As quatro histórias que serão contadas na encenação de Marcelo Lazzaratto estão interligadas com a cena que abre a montagem. Um corpo cai do alto de um prédio no meio do trânsito. Quem está lá embaixo tem as reações diversas, mas não menos inéditas, com a mulher (Gláucia Libertini)que fica ao telefone reclamando para o marido da difícil dupla jornada de mãe e funcionária. Em seguida, um publicitário (Maurício de Barros) passa mal e vai até a casa de seu sócio (Daniel Dottori), enquanto tenta investigar se foi traído pela mulher. 

Para além da dramaturgia de Cortez, vale prestar atenção à encenação de Lazzaratto, pois ela oferece pistas, como easter eggs, nos videogames. A figura de uma cabra estará em toda peça. “Ela faz parte da propaganda de uma operadora de celular”, explica o diretor.

Aos poucos, a vida de um pintor recluso (Cortez) parece mais com a rotina de um trabalhador de um matadouro. “Com o tempo, o que é visto é incompatível com o que é dito. Tudo é afetado. O texto diz uma coisa e a cena sugere outro”, afirma Lazzaratto. 

A grande obra do artista é um retrato de sua mulher ideal, e ele fica chocado quando o secretário de Cultura de uma cidade diz que a mulher parece sua mãe. Em outra cena, um diretor de cinema tem a autoria do filme questionada no dia em que recebe um grande prêmio. “Em mundo virtual, essas experiências são realidade próprias, uma espécie de autoengano”, diz o diretor. 

Seja online ou offline, a cabra da propaganda estará dissolvida nas cenas como um espectro. Ela pode ser a resposta para a fúria das personagens ou, quem sabe, uma manipuladora cruel, que ri solitária. Essa missão fica com plateia.

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COMÉDIAS FURIOSAS. Teatro Cacilda Becker. R. Tito, 295. Tel.: 3864-4513. 6ª, sáb., 21h, dom.,19h. Grátis. Estreia hoje, 31. Até 23/6. 

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