PUBLICIDADE

Em cartaz, 'Cargas D'Água - Um Musical' exibe inúmeras qualidades

Em cartaz na Cia da Revista, peça mostra o poder inigualável do pequeno espetáculo

Foto do author Ubiratan Brasil
Por Ubiratan Brasil
Atualização:

Uma das certezas que rodeiam os musicais garante que qualidade é diretamente proporcional ao investimento da produção. Um pequeno mas valoroso espetáculo em cartaz em São Paulo desponta como honrosa exceção – Cargas D’Água – Um Musical de Bolso, em cartaz em curta temporada no Espaço Cia da Revista, é uma pequena joia a ser descoberta, desde a qualidade de seu texto até a singela interpretação de seu trio de atores.

Escrito por Vitor Rocha, autor também de Casusbelli, o musical traz um toque de brasilidade que, curiosamente, não o torna um produto com interesse regional. A história se passa no sertão mineiro, onde um menino perde a mãe e é obrigado a viver com o padrasto. Este, egoísta e mandão, trata o garoto somente por “moleque”, a ponto de o menino se esquecer do próprio nome e responder apenas por Moleque. 

Charles, Moleque e Pepita. Vitor Rocha, André Torquato e Ana Paula Villar: poética e humor Foto: TOMAZ QUARESMA

PUBLICIDADE

O consolo, ele encontra em um peixe que, ao se recusar a matar, torna-se o principal amigo de Moleque. Vivendo em um balde, o bicho ganha o nome de Cargas D’Água, expressão que escuta do padrasto e que imediatamente caiu no seu agrado.

Carregando o balde pela imensidão do sertão, Moleque quer chegar até o mar, onde finalmente dará a liberdade para o amigo. No caminho, ele vai encontrar personagens tão peculiares quanto ele, como o homem que oferece lágrimas em pequenas garrafas – a primeira foi preenchida justamente a partir de seu próprio choro. 

Vitor Rocha nasceu em Minas Gerais, quase na fronteira com São Paulo. Bom ouvinte, alimentou-se da prosódia mineira ao longo de sua juventude, uma forma peculiar de falar em que a poesia ornamenta as palavras. “Inicialmente, pensei em escrever um monólogo – apenas Moleque e o balde. Mas, aos poucos, percebi que a jornada até o mar exigia a presença de outros personagens”, conta ele, cuja imensidão do talento contrasta com sua pouca idade: 20 anos.

Assim, além do vendedor de lágrimas, Moleque, ao longo de sua jornada, conhece Charles e Pepita, casal que comanda um circo em decadência – os demais atores abandonaram a companhia à medida que o público minguava.

Acolhido, Moleque não apenas ganha uma função artística como finalmente toma o rumo do mar. Com dez músicas compostas por Rocha (que também assina a direção), Cargas D’Água garante a aprovação da plateia logo em seus minutos iniciais, quando seus supostos defeitos (cenário reduzido a caixotes, ausência de música ao vivo, figurinos suntuosos) são transformados em qualidade graças à imaginação criativa.

Publicidade

Rocha se divide em vários papéis, como o Padrasto, o vendedor de lágrimas e, finalmente, em Charles. O envolvimento com que se dedica a cada um, além de revelar uma voz acolhedora, transforma sua presença em cena em um espetáculo à parte. Ana Paula Villar é Pepita, entre outros papéis, e desperta uma simpatia imediata, graças especialmente a seu sorriso encantador.

Moleque ganha interpretação de André Torquato. Brasiliense, despertou atenção da crítica ao participar de Gypsy, maravilhoso musical dirigido e concebido por Charles Möeller e Claudio Botelho, em 2010. Ele ainda participou de As Bruxas de Eastwick, O Mágico de Oz e Priscilla – Rainha do Deserto antes de viajar para os EUA, onde permaneceu por cinco anos. Retorna agora mais amadurecido, mas com o talento intacto – além de uma voz cristalina, exibe os trejeitos que tornam Moleque um personagem encantado. Cargas D’Água torna sua volta em um momento único e triunfal.

Resistir de portas abertas

Sob risco de fechar, Cia da Revista organiza programação especial para manter espaço e saldar dívidas

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Leandro Nunes

Nas últimas terça e quarta, o espaço da Cia da Revista estava lotado. O endereço na Alameda Nothmann ocupado desde 2014 passa por dificuldades para se manter aberto. Para tentar saldar as dívidas e agitar a região, criaram a programação Estado de Emergência, que já recebeu Dagoberto Feliz e Danilo Grangheia no bem-sucedido Palhaços, conta Heloisa Maria, uma das fundadoras da Cia da Revista. “De dois anos para cá, tem sido difícil manter as portas abertas sem apoio. São Paulo não pode perder mais um espaço cultural.”

Antes, o grupo tinha o Mini Teatro na Praça Roosevelt, alugado por quase a metade do valor que pagam no galpão na Nothmann, mas o tamanho do espaço impedia o desenvolvimento de outros projetos, como armazenar e expor figurinos e cenários concebidos ao longo de duas décadas de história. Agora, os 400 m² correm o risco de fechar, o que significa organizar uma força-tarefa com artistas, amigos e público para turbinar a programação nos próximos meses. Heloísa anuncia para o dia 16 a apresentação de BadeRna, com Luaa Gabanini, e, no dia 17, o show Soledade de Cida Moreira. As duas apresentações têm preços especiais de R$ 40 a R$ 100. 

Publicidade

CARGAS D’ÁGUA –UM MUSICAL DE BOLSO. Espaço Cia da Revista. Al. Nothmann, 1.135; 3791-5200. Dom., 15h. R$ 30 e R$ 60. Até 27/5 

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.