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'Diálogos Sobre a Loucura’ retoma crise que impulsionou a reforma psiquiátrica no Brasil

Espetáculo do grupo Performatron se inspira na Crise da Divisão Nacional de Saúde Mental, ocorrida em 1978

Por Leandro Nunes
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É certo que a paixão ingênua que envolve uma profissão raramente é a mesma quando o jovem dá de cara com o mercado. Os ofícios que nascem colados a um ideal de humanidade, como a medicina, são também os mais vulneráveis em contato com a dura realidade. Em Diálogos Sobre a Loucura, que estreia nesta segunda, 2, na Oficina Cultural Oswald de Andrade, o grupo Performatron investiga abusos ocorridos em instituições psiquiátricas no País. 

A história tem inspiração direta no caso conhecido como Crise da Divisão Nacional de Saúde Mental, ocorrido em 1978, em plena ditadura militar, no antigo Centro Psiquiátrico Pedro II, hoje Instituto Municipal Nise da Silveira, no Rio. “Queremos entender como a burocracia de uma instituição pode afetar sua principal função de existir – que é cuidar da saúde de pessoas”, conta o autor e diretor Conrado Dess. 

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Na peça, um grupo de jovens médicos acompanha diariamente a rotina que submete pacientes a eletrochoque. “A prática deliberada de violência contra os pacientes era forma comum de tratamento”, diz Dess. Mas os profissionais não imaginavam que o centro médico também servia para interesses políticos e de violência. “Eles percebem que, além da falta de profissionais nos plantões e das agressões aos pacientes, havia certas alas, com acesso proibido, destinadas a pacientes ditos perigosos”, explica Dess. “Houve a forte suspeita de que o centro mantinha presos políticos”, completa. 

Ao registrar uma denúncia no Ministério da Saúde e solicitar a abertura das alas, o grupo é imediatamente demitido. “A classe médica brasileira acabou demonstrando apoio aos profissionais demitidos. A seguir, iniciou-se uma campanha pela reforma psiquiátrica”, conta o diretor.

A distância entre os anos 1978 e 2018 serve ao grupo como reflexão e entendimento do funcionamento das estruturas. “Entendemos que para compreender os sistemas que operam no Brasil atual é preciso olhar como eles foram construídos no passado”, afirma.  Para o grupo, a peça também traça um paralelo entre a juventude da época e de hoje. “Existem questões que ultrapassam essa distância histórica. Queremos pensar como os jovens podem trabalhar. A peça não trata apenas de reunir as vozes de artistas sobre um tema, mas de nos unirmos a inúmeras vozes que foram silenciadas em instituições psiquiátricas.”

Diálogos Sobre a Loucura é o segundo espetáculo do grupo criado em 2014. Em São Paulo Refúgio (2015), a companhia desenvolveu um trabalho a partir da convivência com refugiados na cidade e que se desdobrou em ações além do palco, como encontros e debates com o Movimento dos Sem-Teto do Centro e até uma festa temática no Teatro Oficina com comidas típicas, vestimentas tradicionais e manifestações culturais dos países de origem dos refugiados.

DIALÓGOS SOBRE A LOUCURA. Oficina Cultural Oswald de Andrade. Rua Três Rios, 363. Tel.: 3222-2662. 2ª, 3ª, 4ª, 20h. Grátis. Estreia hoje, 2. Até 15/8.

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