'Céus' trata o terrorismo como pretexto para falar da humanidade em extinção

Do libanês Wajdi Mouawad, ‘Céus’ propõe a investigação de um atentado por uma equipe bastante suspeita

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Por Leandro Nunes
Atualização:

Se as imagens de Exércitos e seus pelotões na Segunda Guerra Mundial soam antigas nas páginas de livros, o combate contemporâneo entre países – lembre-se da queda das Torres Gêmeas em 2011, ou de ataques a programas e redes de computadores – mostra como a estrutura bélica se transformou desde a Guerra Fria. Quem não mudou muito foi o teatro e sua intenção de falar sobre o humano. Estreia hoje, 27, no Teatro Vivo, o espetáculo Céus, texto do libanês Wajdi Mouwad sobre terrorismo e humanidade. 

Na peça dirigida por Aderbal Freire-Filho, um conjunto de profissionais é designado para ocupar uma sala privada com o objetivo de investigar um atentado terrorista em algum lugar do mundo. As figuras não sabem onde estão, embora seja uma unidade de falantes de língua francesa. “Podemos pensar em terrorismo como consequência de uma humanidade que não encontra paz”, explica o diretor. “De um lado, jovens arregimentados para essas batalhas, e de outro, mais jovens que buscam vingar-se desses ataques, que levaram amigos e familiares.”

Catarse. Trabalho e problemas pessoais movimentam cena Foto: Léo Aversa

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Diante desse confinamento, as personagens se tornam, mais que o motivo da reunião, peças fundamentais de uma missão maior. “Surgem duas pistas diferentes e eles se organizam para segui-las. Aos poucos, aparece uma ligação entre parentes desses agentes”, conta o diretor.

No palco, além da grande mesa na qual são discutidos o destino e a segurança de milhões de pessoas, a peça do autor de Incêndios, também dirigida por Freire-Filho, traz um ambiente particular, o quarto desses especialistas, local que serve de catarse para angústias universais. “A dramaturgia acaba riscando uma hipotenusa, diante de dois arcos, ou retas perpendiculares, ligadas uma à outra, uma vez que o propósito de seu trabalho se mistura com a fatalidade de suas vidas pessoais”, explica o diretor. Como exemplo, Freire-Filho cita a única mulher da equipe, uma pesquisadora de idiomas e tradutora. “Ela é a que mais sofre, pois tem um passado de trauma e violência. Na peça, esse trânsito do quarto à mesa de trabalho está desvendado, o que alimenta a ação.”

Freire-Filho acrescenta que Céus – a peça integra com Incêndios, Florestas e Litoral, a tetralogia Sangue das Promessas – cria uma dimensão mais que mítica na lida dessas pessoas com a realidade do atentado, a força bruta do conservadorismo, e da política anti-imigração de alguns países europeus e os EUA. “Trata-se de uma mitologia moderna, tragica mesmo, porque coloca as personagens em estado de terror diante desse mundo e consigo mesmas.”

CÉUS. Teatro Vivo. Av. Dr. Chucri Zaidan, 2.460. Tel.: 3279-1520. 6ª, 20h, sáb., 21h, dom., 17h. R$ 70 / R$ 40. Estreia hoje, 27. Até 10/12. 

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