Breno Silveira estreia no musical com versão de seu '2 Filhos de Francisco'

Espetáculo inspirado no filme de sucesso do diretor, de 2005, entra em cartaz em São Paulo no dia 5

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Por Ubiratan Brasil
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“Corta!”, gritou o diretor Breno Silveira, um gesto automático para quem trabalha no cinema desde 1995. O riso do elenco, no entanto, traz Silveira de volta à realidade: ele está em um teatro, preparando-se para estrear como encenador justamente com uma história que conhece muito bem. 2 Filhos de Francisco – O Musical, que estreia no Teatro Cetip no dia 5 de outubro, é baseado no filme que Silveira dirigiu em 2005 e que se tornou um dos maiores sucessos do cinema nacional, atraindo cerca de 5,3 milhões de espectadores.

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“É uma história que está no meu coração e, por isso, fiquei curioso em saber quem dirigiria a montagem teatral”, contou ele ao Estado, em meio a um ensaio. Sim, o anúncio de que Breno seria o responsável pelo musical não foi imediato e, quando o diretor já confessava ter alguma esperança, veio o telefonema da Time For Fun, empresa responsável pela produção. Mesmo sem nenhuma experiência de palco, ele aceitou justamente por ser um projeto que trata com carinho.

2 Filhos de Francisco acompanha a trajetória pessoal e artística de uma das mais famosas duplas de música sertaneja do Brasil, os irmãos Zezé Di Camargo e Luciano. Uma história de sofrimentos, mas coroada de sucesso e que tem em Francisco, o pai dos músicos, uma figura central – é graças à sua persistência e à sua crença no talento de seus garotos que eles conseguiram deixar o anonimato.

No ensaio: os atoresRodrigo Fregnan,Beto Sargentelli,Bruno Fraga eLaila Garin.Foto: Nilton Fukuda/Estadão Foto:

“Se no filme o foco estava na formação da dupla, no musical Francisco assume um protagonismo, pois a história se passa em sua cabeça”, conta Silveira. “Também Helena, a mãe dos garotos, ganha mais destaque porque sempre cantou e cuidou da afinação dos filhos.” Para garantir a manutenção da emoção, o elenco foi cuidadosamente formado. A dupla de músicos é formada por Beto Sargentelli (Zezé Di Camargo) e Bruno Fraga (Luciano), que atuam muito próximos de dois artistas com grande experiência: Rodrigo Fregnan vive Francisco enquanto Laila Garin é Helena.

Sargentelli e Fraga fizeram muita pesquisa – inclusive com os próprios cantores que inspiram seus personagens –, o que garantiu uma impressionante fidelidade aos originais. “Fiz um trabalho de preparação vocal, mas não apenas a que canta, mas também a forma como Zezé fala, tentando soar como ele sem parecer caricato, excessivo”, conta Beto. “Estudei seu jeito de falar, o sotaque, além de ter assistido a muitos vídeos para descobrir seus trejeitos nos shows, a forma como anda no palco, como canta, as expressões.”

Já Fraga se apegou à brasilidade que m-arca Zezé Di Camargo e Luciano. “Esse é um musical em que as canções não contam necessariamente a história, portanto, era importante descobrir o que os fizeram tão famosos”, observa o ator.

A transformação dos dois impressionou Breno Silveira. “Aos poucos, eles foram se aproximando dos dois cantores, até nos detalhes.” Por outro lado, Laila e Fregnan não buscaram ser fiéis à semelhança. “Muito pelo contrário”, reforça a atriz, que se tornou nacionalmente conhecida ao apresentar uma interpretação muito particular de Elis Regina. “Helena é um motivo para se mostrar o interior goiano que ajudou a criar a forma sertaneja de Zezé e Luciano.”

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O diretor Breno Silveira.Foto: Nilton Fukuda/Estadão Foto:

E, se também evita ser uma cópia de Francisco, Fregnan tem outra particularidade: não canta. “Como a história é uma espécie de sonho do Francisco, eu queria um ator que não cantasse”, explica o diretor. Com uma honrada carreira no teatro (cujo arco vai de Nelson Rodrigues a Gogol), Fregnan abraçou o desafio. “A principal tarefa foi descobrir um jeito de falar de emoção sem medo, sem ter a vergonha de revelar um sentimento desbragado.”

O grande teste é a cena em que a dupla canta seu maior sucesso, É o Amor, de 1991. A emoção limpa os ouvidos até de quem torce o nariz para esse tipo de música – um feito também conquistado por Breno em seu longa apaixonado. “As pessoas se veem de alguma forma ali.”

Estudo da sanfona ajuda ator a melhor entender Zezé

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Foram dez espetáculos no formato Broadway até Beto Sargentelli protagonizar um musical essencialmente brasileiro. “É preciso criar uma versatilidade de estilos e descobrir onde varia o estilo vocal, além das diferentes construções corporais e de posturas”, conta ele que, aos poucos, se tornou um dos principais atores do musical brasileiro graças à sua bela presença em cena e, principalmente, à força vocal.

Com marcantes passagens em espetáculos como Jesus Cristo Superstar, O Rei Leão, Mudança de Hábito e Godspell, Sargentelli é um perfeccionista. Antes mesmo de os ensaios começarem, ele iniciou um curso para tocar sanfona e se familiarizar com instrumento tocado por Zezé quando jovem. “Tentei desenvolver um pouco essa habilidade para entender como foi o processo para ele”, explica. “Entendo que, se tivesse domínio do instrumento, eu poderia sentir melhor a história.”

Reflexos: Beto Sargentelli, Zezé, Luciano e Bruno Fraga. Foto: Marcos Mesquita Foto:

Zezé e Luciano visitaram duas vezes o ensaio

Zezé Di Camargo e Luciano visitaram duas vezes os ensaios de 2 Filhos de Francisco – O Musical. O suficiente para modificar a rotina do elenco, animado com visitantes que conheciam aquela história melhor que ninguém. “Zezé foi supersimpático: chegou já contando piada”, lembra Beto Sargentelli, que vive o artista no espetáculo. “Falamos sobre Beatles, Elvis Presley e como ele gostava de ouvir todo tipo de música, assim como eu.”

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Simpático, Zezé conquistou ainda mais os artistas ao comentar, em tom de brincadeira, que o musical já poderia se considerar um grande sucesso porque o ator que vai interpretá-lo é mais bonito, mais alto e mais novo. 

“Vi apenas duas cenas, pois não quero estragar a surpresa”, conta Zezé. “Mas fui às lágrimas quando vi Laila (Garin), que vive minha mãe, cantando. Não conheço atores de musicais, mas fiquei impressionado com sua qualidade vocal.” 

Teatro Cetip. Rua dos Coropés, 88. 5ª e 6ª, 21h. Sáb., 17h e 21h. Dom., 16h e 20h. R$ 50 / R$ 200.

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