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Brasil volta a realizar o Prêmio Molière de Teatro

Conhecido como o 'Oscar do Teatro Nacional', tradicional premiação retorna com apoio do 'Estado'

Por Leandro Nunes
Atualização:

Após um hiato de quase 25 anos, o Prêmio Molière, conhecido como o ‘Oscar do Teatro Nacional’, volta a ser realizado com edição ainda neste ano, em São Paulo e no Rio de Janeiro. O acordo foi firmado na França pelo produtor cultural Francisco Britto, que assinou o direito de uso do nome Molière no Brasil. A festa tem apoio do Estado.

A primeira mudança é que a marca pretende se estender com ações além da habitual premiação. “No Brasil, teremos um projeto cultural, com exposição, documentário, portal”, anunciou o produtor que esteve na cerimônia francesa na última terça, 29, na Salle Pleyel. “O teatro vem se profissionalizando cada vez mais, mas falta um pouco de espaço para mostrar tudo isso.” 

França. Festa chegou à 30ª edição, unindo a produção pública e privada em 19 categorias Foto: JOEL SAGET

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A primeira edição no Brasil foi criada e patrocinada pela empresa aérea Air France e teve 31 cerimônias, entre os anos 1963 e 1994. Ao longo desse período, entregou troféus para artistas do quilate de Cleyde Yáconis, Fernanda Montenegro, Antunes Filho, Marília Pêra, Flávio Rangel, Ademar Guerra, Consuelo de Castro, Jorge Andrade e Paulo Autran. 

Na época, os vencedores nas categorias ator, atriz, diretor, dramaturgo e prêmio especial recebiam uma réplica do busto de Molière e uma viagem para Paris. “Molière, o grande clássico francês, nos facilitou muito nessa busca. Foi para nós brasileiros um dos mais importantes modelos clássicos que influenciaram a nossa dramaturgia, sobretudo a comédia brasileira”, lembra Juca de Oliveira, em depoimento ao projeto. “A reedição do prêmio ajudará muito o teatro brasileiro como expressão cultural e incentivará os artistas na consolidação de suas carreiras”, conta o ator e diretor que foi premiado em 1968, na peça Dois na Gangorra, e, em 1972, em Um Edifício Chamado 200

+ Prêmios de Paulo Autran para todos os olhos

O ator, autor e diretor Marcos Caruso lembra da responsabilidade que era ser premiado. “Quem tinha um Molière é porque havia chegado ao topo de sua trajetória. Os maiores atores e atrizes e diretores e autores do cenário teatral brasileiro foram merecidamente agraciados e orgulham-se, como eu, de ostentar o busto de Molière. Hoje não há similar no Brasil.” 

Para Eva Wilma, o troféu e a passagem para Paris viabilizavam o encontro com as artes cênicas na Europa. “Além de ter seu trabalho reconhecido aqui, a gente tinha chance de ter contato com espetáculos apresentados nos teatros dos grandes centros como Paris, Londres, Berlim e Roma.” Quando o assunto é política, ela atriz acredita que os prêmios acabam cumprindo parte da homenagem que seria responsabilidade do governo. “O teatro brasileiro sempre foi órfão dos governos. Não deste ou daquele. Mas de todos. Uma ajudinha aqui, outra ali, mas o certo é que os governos de hoje, de ontem e de sempre nunca trataram o teatro como produto cultural que deve ser prestigiado.”

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Nesta edição, um corpo de jurados vai contemplar produções que estiveram em cartaz entre 2015 e 2017. Além disso, o número de categorias aumentou de 6 para 12: atriz, ator, atriz coadjuvante, ator coadjuvante, diretor, cenógrafo, figurinista, projeto de iluminação, espetáculo, teatro infantil, musical e revelação do ano. 

Com um conselho consultivo formado por Francisco Britto, Cassia Kiss, Marcelo Serrado, Paulo Betti e Odilon Wagner, o prêmio terá ações e eventos ao longo do ano para aquecer os motores e chamar a atenção de novos apoiadores. Entre elas está uma exposição, com curadoria de Bia Lessa, que retoma o período dos últimos 25 anos da produção teatral no País, reunindo cenários, figurinos, fotografias, imagens e documentos, e a produção de um documentário a ser exibido no canal Arte 1. Mesmo assim, a preocupação é olhar para a frente afirma o produtor Roberto Halfin, que também integra o conselho. “Vamos revisitar, manter algumas coisas para fazer a conexão com o passado, mas olhar o teatro de 2018 para a frente, para não ser démodé, velho. Daí a ideia de que seja um projeto cultural.”

Com o objetivo de estimular a criação, o prêmio também planeja promover um concurso entre escolas de teatro de São Paulo e do Rio para a produção de textos teatrais. Os selecionados poderão se apresentar nas cerimônias de premiação das duas cidades Para Halfin, a maior preocupação sobre o retorno do prêmio no Brasil é “olhar para o futuro”, explica. “O objetivo é que seja uma festa da classe teatral premiando os melhores que ela mesma reconhece.” / COLABORAÇÃO ANDREI NETTO

l Criado em 1963 e patrocinado pela empresa aérea Air France, o Prêmio Molière realizou edições no Brasil até 1994. Lembrado como o Oscar do Teatro Nacional, a cerimônia contemplava os melhores artistas do ano nas categorias atriz, ator, diretor, autor, cenógrafo ou figurinista, um prêmio especial e teatro infantil, criado posteriormente. Quem vencia, levava a réplica do busto de Molière que está na Comédie-Française e uma passagem para Paris.  l Entre os grandes vencedores do Molière estão Antunes Filho e Fernanda Montenegro, com cinco troféus cada um, e o tricampeão Ítalo Rossi, que venceu nos anos 1985, 86 e 87.

Resgate da história e lançamento de novas categorias 

Na reedição do prêmio, as categorias são: atriz, ator, atriz coadjuvante, ator coadjuvante, diretor, cenógrafo, figurinista, projeto de iluminação, espetáculo, teatro infantil, musical e revelação do ano.

Os jurados vão considerar peças que estiveram em cartaz entre 2015 e 2017. Os nomes serão revelados na noite da cerimônia que será realizada na última semana de novembro, em São Paulo, e em dezembro no Rio.

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Quem é

MOLIÈRE, dramaturgo e ator

 Considerado o mestre da comédia francesa, Jean-Baptiste Poquelin, sob o pseudônimo de Molière, foi o fundador da grupo L’Illustre Théâtre, com o qual excursionou por cidades da França.

Conquistou a graça do rei Luis XIV, que investiu na produção de peças. Costumava criticar os maneirismos e hipocrisia da época, mas também sofreu acusações de imoralidade e censura. É autor de Tartufo, O Doente Imaginário e O Misantropo.

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