
21 de março de 2019 | 02h00
Diálogos entrecortados, frases curtas como tuitadas de teor surrealista, um engasgar de vida nas vozes de quatro mulheres inglesas em uma conversa regada a chá no jardim de uma delas. A cena, por si, reflete o óbvio, a octogenária dramaturga inglesa Caryl Churchill está de volta em uma peça de 2016, melhor do que nunca. Chama-se Chá e Catástrofe (Escaped Alone) e será encenada pela primeira vez no País a partir de 5 de abril, no Centro Cultural São Paulo. Time de bambas no elenco: Clarisse Abujamra, Selma Egrei, Chris Couto e Agnes Zuliani, dirigidas por Regina Galdino. “Os diálogos são quase como poemas concretos e se interrompem com diálogos curtos”, conta a diretora.
BAD, BAD GIRL
Churchill é demolidora no olhar para a pobre humanidade, como mostram trabalhos anteriores, Serious Money e Blue Heart – esta apresentada em São Paulo, em 1998, na versão original londrina durante turnê mundial. Com Chá e Catástrofe não é diferente. O texto abre espaço no diálogo entre as quatro personagens para inserir solilóquios sobre assuntos incômodos sobre crimes ambientais, consumismo, críticas ao capitalismo e, nessa toada, claro, nem a bolsa de valores escapa da pancada. O certo é que não se sai de uma peça de Churchill da mesma forma que se entrou.
GOOD, GOOD GIRL
É hora de render loas a uma atriz que encara o ofício de forma exemplar. Chris Couto, no elenco de Chá e Catástrofe, também está em Dogville, no Teatro Porto Seguro, à beira de encerrar temporada em São Paulo, e até pouco tempo em A Milionária e Pequenas Certezas. A ex-VJ da MTV, que começou a vida como atriz depois de cursar o Tablado, no Rio, descambou para a emissora pop e, ao sair, retomou sua carreira. Fez o que sabia e o fez melhor: mais de dez filmes e diversas novelas e séries. Nunca largou o teatro. Ganhou anteontem o Shell de melhor atriz. Não é pouco. A seriedade na lida e o talento – seus deboche e cinismo em cena tiram graça sempre – fazem de Chris Couto orgulho nacional.
MORIARTY EM CENA
O irlandês Andrew Scott estreia na comédia Present Laughter como um ator à beira dos 40 anos e prestes a começar uma turnê pela África. Mas tem problemas no casamento. Claro, infidelidade. Scott é conhecido na TV por Moriarty na série da BBC Sherlock, mas seu trabalho no teatro e no cinema são sempre premiados. Prova disso são os prêmios que amealhou na carreira como o Olivier Awards por A Girl in a Car with a Man e, ano passado, a indicação por Hamlet para o mesmo prêmio. A peça estreia em 17 de junho no Old Vic, em Londres.
TROMPAÇO FEDERAL
Um erro na edição da coluna da semana passada inverteu a resposta da atriz Maria Flor e aqui segue como deveria. À pergunta sobre o que significa ser atriz, ela responde com a delicadeza que lhe é peculiar: “Me pergunto isso todos os dias, sem resposta. Mas diria que é tentar fazer algo em cena que faça o outro se ver, se identificar e, quem sabe, pensar sobre a própria vida”.
3 perguntas para...
Elias Andreato: Ator, mas seria faxineiro por fazer com amor
1. Por que teatro?
Dá ternura aos homens. É a engrenagem viva que interliga as pessoas. Teatro não é mentira. É vida! Onde me sinto útil e fazendo algo pelo próximo!
2. Frase arrebatadora?
“O teatro não trai a vida, não mutila nem ilustra a vida. O teatro continua a vida numa espécie de operação mágica.” Antonin Artaud.
3. Qual é seu motto?
Não sofrer além da conta. O humor salva.
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.