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Análise: Enredo do musical 'Os Produtores' mostra todo o gosto de Mel Brooks pela paródia

Novo musical de Miguel Falabella é baseado no filme 'Primavera para Hitler'

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Está certo que eram os anos 1960, época mais evoluída, em que se podiam abordar temas hoje considerados tabus. Mesmo assim, parece bastante ousada a proposta de Mel Brooks em seu primeiro filme, The Producers, aqui traduzido como Primavera para Hitler. 

A premissa é formidável. Significa descobrir que um fracasso pode ser bem mais lucrativo que um sucesso, desde que se façam as manobras contábeis adequadas. Nesse caso, o desafio seria bolar um espetáculo destinado a ser odiado pelo público. E o que poderia haver de mais odiado pela plateia do que uma tosca louvação a ninguém menos que Adolf Hitler?

Cena de 'Os Produtores' Foto: Caio Gallucci

+++ Em 'Os Produtores', Miguel Falabella retoma o humor aloprado de Mel Brooks O enredo mostra todo o gosto de Mel Brooks pela paródia e pelas situações absurdas que, como se sabe, muitas vezes têm o poder de desmascarar o real mais do que tramas realistas (o surrealismo está aí para comprovar essa tese). É de uma agilidade de quem estagiou na comédia stand-up e na televisão antes de se dedicar ao cinema. Brooks, ao lado de Woody Allen, é representante ilustre da escola cômica judaica de Nova York. São a ponte entre o tradicional humor judaico e as exigências cômicas da América. Em Primavera para Hitler estão presentes outras incorreções políticas, além da central. Por exemplo, há piadas bastante pesadas sobre homossexuais que, hoje, dificilmente seriam toleradas no cinema, ou no palco. No mínimo, seriam tachadas de “homofóbicas”.  Mas o texto em que dois produtores teatrais picaretas Max Bialystock e Leo Bloom (Zero Mostel e Gene Wilder, respectivamente) bolam e montam a peça sobre Hitler há mais que engenho, criatividade e muito, muito mais do que provocação gratuita. No simples fato de tal peça produzir resultado inverso ao desejado, há também um ácido comentário subliminar sobre a natureza íntima do público. E este também é um comentário que, 50 anos depois, serve com perfeição à nossa época, neste ponto tão semelhante, já que o pior pode, em certas circunstâncias, ser o melhor. E nem estamos falando de política.

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