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Análise: Mostra Internacional de Teatro dialoga com questões essenciais

Se contemplarmos a programação, há bons motivos para esperar por um festival robusto

Por Maria Eugenia de Menezes
Atualização:

Em 2018, a MITsp fará uma edição mais enxuta. O número de espetáculos está menor. A participação brasileira na grade principal permanece mínima. E o orçamento, a dançar a mesma música que toca no setor cultural do País, foi diminuído. Se contemplarmos a programação, entretanto, há bons motivos para esperar por um festival robusto. Um dos melhores, talvez. A curadoria materializa agora sonhos que vinha perseguindo desde sua primeira edição. Na grade de 2018, estão dois nomes essenciais para se entender as artes cênicas no novo século: o polonês Krystian Lupa, diretor de Árvores Abatidas, e o suíço Christoph Marthaler, que encena King Size.

Claro que há muito mais. O grande homenageado desta edição é o francês Joris Lacoste, que abre a mostra. A argentina Lola Arias traz o instigante Campo Minado. E existem apostas promissoras, como é o caso da britânica Selina Thompson, intérprete do espetáculo Sal., capaz de estabelecer um diálogo criativo com questões políticas urgentes. Mas, quem quiser ficar no território do já consagrado, pode apostar sem temor em Lupa e Marthaler. 

Krystian Lupa. Polonês apresenta 'Árvores Abatidas',versão da obra de Thomas Bernhard Foto: MICHA GRUDZISKI

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É riquíssima a tradição teatral na Polônia. E, apesar da distância geográfica, o Brasil bebeu intensamente nessa fonte. Tadeuzs Kantor foi influência essencial para os artistas nacionais a partir dos anos 1970. A própria MITsp trouxe, em 2016, (A)Polônia, uma assombrosa direção de Krzysztof Warlikowski, discípulo de Lupa. Árvores Abatidas é resultado de uma extensa pesquisa do diretor sobre a literatura de Thomas Bernard. E uma chance única para acompanhar a minuciosa direção de atores desse veterano, seu mergulho absoluto na psicologia dos personagens, os tempos dilatados de suas cenas. A trama fala de um círculo de artistas apegado a vaidades e artificialismos. Não por acaso, soa atual e perspicaz onde quer que o espetáculo seja apresentado. 

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Tudo aquilo que no encenador polonês é lúgubre, profundo e rigoroso encontra um contraponto vivaz e espirituoso na encenação de Cristoph Marthaler. King Size é um musical. A embaralhar um tanto a imagem que guardamos do estilo que importamos dos americanos. Músico de formação, Marthaler construiu seu percurso entre a ópera e o teatro e se tornou um dos grandes diretores de língua alemã. Seu olhar para o patético é comumente generoso. É ali, em pequenas fragilidades humanas, que ele encontra espaço para a beleza. E constrói um inigualável estilo de encenação. 

5ª MOSTRA INTERNACIONAL DE TEATRO. Vários lugares. 1º a 11/3. Ingressos: R$ 30 / R$ 15. Site: mitsp.org/2018

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