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'Amigas, Pero No Mucho' faz 10 anos e entra na lista de longas temporadas

Espetáculo reforça o sucesso de comédias como 'Trair e Coçar, É Só Começar' e 'O Mistério de Irma Vap'.

Por Leandro Nunes
Atualização:

Quando a assessora de imprensa e produtora Célia Forte passou três dias ao lado de Paulo Autran, ela não imaginava que aquele estudo intensivo em dramaturgia com o ator e diretor iria catapultar Amigas, Pero no Mucho, sua primeira peça como autora.

Nessa sexta, 30, a montagem volta em cartaz, no Teatro Folha, comemorando 10 anos de estreia.

Novo elenco. Leandro Luna, Elias Andreato, Nilton Bicudo e Jonathas Joba Foto: SERGIO CASTRO/ESTADAO

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Isso não quer dizer que essa uma década lhe traga tranquilidade. Pelo contrário, Célia continua ansiosa como no início. Mesmo assim, a autora lembra de quando escreveu a história de Fram, Debora, Olívia e Sara, interpretadas por homens, e que já começava abençoada por Autran e pelo ator Marcelo Médici, que mudou os rumos da peça. “Nós realizamos algumas leituras e o Paulo me ajudou a reescrever algumas partes. Ele também tinha decidido dirigir. A ideia era fazer com atrizes, mas o Marcelo sugeriu estrear com homens.”

Na peça, as quatro amigas – mas nem tanto – vão se encontrar num sábado a tarde, o que vai se tornar uma grande lavagem de roupa suja. Cada qual tem um perfil singular, expresso nas rubricas e apresentado pela voz de Denise Fraga. Fram, vivida por Elias Andreato, é divorciada e ninfomaníaca. Jonathas Joba interpreta Debora, que se acha a dona da verdade e come como ninguém. Já Nilton Bicudo, no papel de Olívia, foi rica, e Sara, com Leandro Luna, a mais jovem delas, fuma descontroladamente. “São pessoas que conheço, parentes e amigas que juntei nessas quatro personagens”, conta Célia.

Para o diretor José Possi Neto, o espetáculo tem a difícil missão de fazer rir, por inúmeros motivos. “Elas trazem suas pequenas tragédias cotidianas, que não interessam a ninguém, nem mesmo ao teatro, por serem tão medianas. Nesse mundo de emoções baratas, as amigas tentam tornar suas vidas num drama. Por isso, não há nobreza nem vileza”, conta.

O fato de ter homens no elenco também interessa como linguagem. “Eles não estão fazendo gays ou travestis. São mulheres. E eles precisam chegar nessa qualidade.”

Com um time que já teve atores como Leopoldo Pacheco, Romis Ferreia e Norival Rizzo, o veterano Elias Andreato segue desde a estreia. Nilton Bicudo entrou na segunda temporada e conta que o humor da peça está em um lugar muito simples. “No calor do personagem, às vezes, perdemos a verdade e ficamos apenas projetando. É sempre importante voltar e estudar. A peça carrega consigo essa força feminina e a gente empresta a nossa.”

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É também com uma personagem feminina, a desastrada empregada Olímpia, que Trair e Coçar É Só Começar ocupa o posto da peça há mais tempo em cartaz ininterruptamente no Brasil. Escrita por Marcos Caruso, ela é a terceira no mundo – atrás de A Ratoeira, em cartaz desde 1952 no St. Martin’s Theatre de Londres, e A Lição, que estreou em 1951 em Paris, mas só entrou em temporada contínua em 1957, no Théâtre de la Huchette. 

Para o autor, o espetáculo foi “matematicamente calculado”, o que pode dar pistas de parte do sucesso que diverte o público desde 1986. “Estudei grandes autores franceses e ingleses, do vaudeville passando por nacionais como Martins Pena e Arthur Azevedo. O texto é milimétrico: fazer rir a cada 30 segundos”, conta Caruso. Com essa fórmula, as confusões de Olímpia com seus patrões já levaram mais de 6 milhões de pessoas ao teatro.

No mesmo ano, Marco Nanini e Ney Latorraca estrearam O Mistério de Irma Vap, com direção de Marília Pêra e que ficou 11 anos nos palcos, entrando para o Guinness, o Livro dos Recordes, como o espetáculo teatral que se manteve mais tempo em cartaz, com o mesmo elenco, no planeta. “Comédia era uma solução nos tempos da ditadura. Era o que se podia fazer naquela época, para fugir da censura”, aponta Caruso. “Houve uma debandada de artistas para a televisão e a gente precisava da presença do público também nos teatros.” 

Outra jovem nos palcos brasileiros é Os Monólogos da Vagina, que estreou no Rio em 2000, com direção de Miguel Falabella. A montagem traz relatos verídicos de 200 mulheres colhidos pela norte-americana Eve Ensler.

Caruso acrescenta que, o fato de o brasileiro ser mais afeito a comédia que ao drama, fortalece o gênero. “Existe a identificação do público com as personagens. No caso de Olímpia, não se trata de discriminação. Ela não é burra, é ingênua.” Aos 65 anos, ele só deseja que o espetáculo continue com essa boa saúde. “É certo que eu morro antes da peça parar.” 

AMIGAS, PERO NO MUCHO. Teatro Folha. Shopping Pátio Higienópolis. Av. Higienópolis, 618. Tel.: 3823-2423. 6ª, 21h30, Sáb., dom., 20h. R$ 50 / R$ 70. Até 27/8

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