26 de julho de 2015 | 03h00
Quando Alice encontrou o Chapeleiro Maluco e a Lebre, ela descobriu uma outra forma de contar o tempo. O longa-metragem da Disney mostrava uma mesa de chá de desaniversário (neologismo criado pelo autor). A explicação era simples – um presente que se ganha quando não é seu aniversário – e lógica – se o ano tem 365 dias e apenas um dia de aniversário, logo, subtrai-se 1 de 365 e terá a quantidade de desaniversários. O jogo maluco de Carroll pode emular as maneiras de se adaptar a obra literária. Ao considerar o livro como o aniversário, o teatro pode, tal como o cinema, ser um desaniversário. “No cinema, por exemplo, existe essa infinitude da obra, você pode assistir em qualquer momento. No teatro, não. O teatro é vida condensada”, conta o ator Beto Militani que interpreta Carroll no espetáculo As Aventuras de Alice no País das Maravilhas do grupo mineiro Giramundo. A peça integra técnicas de stop motion, cinema, e mais 55 bonecos ao lado do ator.
Para compor seu personagem, ele tomou um caminho inverso e se aproximou mais do Dodgson, o professor de matemática. “Eu aproveitei que nós nos parecemos um pouco fisicamente. Pesquisei como ele andava e como se comportava nas fotos”.
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Outra escolha inusitada foi uma mulher interpretar o papel do Chapeleiro Maluco. “A figura ficou bastante andrógina e era muito interessante”, relembra a atriz Patricia Selonk da paranaense Armazém Cia de Teatro. Encenada em 1999, a peça Alice Através do Espelho funcionava como uma caixa composta por cortinas que abriam e fechavam formando salas, jardins e labirintos. “No início, era oferecido um chá misterioso para a plateia e algumas pessoas ficavam em dúvida sobre o que era aquilo. Um tempo depois, os atores perguntavam se o chá estava fazendo efeito”, Explica. “A intenção era que todos pudessem ser como Alice”.
Embora estejam ensaiando para um novo espetáculo, o grupo mantém o desejo de reingressar ao País das Maravilhas. “O jogo de adentrar esse universo muito doido nos faz sair energizados. Carroll é um prato cheio para o teatro”. / LEANDRO NUNES
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