08 de fevereiro de 2019 | 19h14
A parceria das irmãs Débora e Cynthia Falabella extrapola há tempos a relação familiar. No teatro, por exemplo, já atuaram juntas e agora dividem novamente a direção de um espetáculo, no caso o infantil A Minicostureira, que está em cartaz no Teatro Porto Seguro. Inspirada no conto A Moça Tecelã, de Marina Colasanti, a peça foi escrita por Frann Ferraretto e apresenta o mundo de sonho da pequena tecelã Clara, que usa sua imaginação para criar seu próprio mundo, a partir de linhas e retalhos. No elenco estão a própria autora e os atores Bruno Ribeiro, Antoniela Canto e Mateus Monteiro.
“Essa é a segunda vez que eu divido a direção com a Cynthia, a gente já tinha feito isso com O Rei e a Coroa Enfeitiçada, que era um texto do meu pai (Rogério), acho que por isso que decidimos repetir a experiência, porque deu muito certo. A gente acaba sendo complementar, cada uma cuida de uma parte”, conta Débora Falabella.
“Esse segundo texto também veio de uma forma bem afetiva, ele é de uma grande amiga nossa, a Frann, que é atriz e nos convidou para dirigir o espetáculo. Ela nos confiou essa jornada, que nos interessou porque é um texto baseado num conto da Colasanti, que fala um pouco sobre o universo feminino. Eu, quando criança, não lembro de histórias assim, a gente estava muito acostumada a ouvir com histórias de princesas, e a gente não tinha essa discussão. E como essa ideia do feminino e do feminismo voltou com muita força, eu acho importante estar presente desde a infância”, explica.
Além da importância de temas atuais para passar aos pequenos, Débora destaca a questão do valor do mundo lúdico. “Fora isso, esse mundo do faz de conta, hoje em dia a gente está muito ligado ao mundo virtual, a não brincar mais, já está tudo muito pronto para a gente na tela do computador, e acredito que esse mundo que a Clarinha inventa, seja um incentivo para isso.”
Como todo espetáculo direcionado para crianças, esse não foge à regra, que é prender a atenção dos pequenos, em um momento em que a tecnologia tem imperado. “Hoje em dia, tudo que tira as pessoas desse mundo virtual é muito válido, e o teatro é uma dessas armas mais valiosas, porque por uma hora ou duas, você não pode ter interferência de nada e você tem de ficar ali de frente para o outro. Ouvindo o outro falar, numa troca direta”, afirma Débora. “Eu acredito que não só na importância do texto ir para esse lado da imaginação, do faz de conta, a personagem da minicostureira inventa um mundo para ela, a partir das coisas que ela faz, mas acho que não é só isso, mas o próprio teatro possibilita isso para o público de maneira geral e para as crianças isso é mais importante ainda”, conclui a atriz e diretora.
Comungando do mesmo pensamento, a irmã mais velha, Cynthia, fala também dessa faceta de diretora. “Dirigir pra criança veio com um texto que nosso pai escreveu quando a Irene, a primeira neta, nossa sobrinha, nasceu”, diz Cynthia. Ela conta mais sobre o texto de A Minicostureira e a preocupação de não limitar a imaginação das crianças, tirando-as da frente dos computadores, mesmo que seja por um tempo. “Ainda bem que podemos recriar um mundo mágico sem influências tecnológicas. O teatro é vivo. Crianças vivem experiências físicas! Podemos brincar de pular amarelinha, três marias, elástico! Argila, pano! Construir seu próprio brinquedo! Isso é lindo! E nossa Clara (a personagem) vive nesse belo universo”, empolga-se a diretora.
“Precisamos mostrar que nosso mundo é maior. Que crianças nesse mundo tecnológico da internet dominando um espaço (não me isento, minha filha pede para ver). Precisamos nos colocar de forma gentil e cuidadosa. Oferecer teatro, música, dança, arte... essa é nossa função. Agregar.”
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