
10 de setembro de 2014 | 03h00
Este contexto ajuda a situar a carreira desenvolvida pela soprano. Mas não diminuiu a grandiosidade de suas interpretações. Callas cantou de tudo, de autores barrocos a Richard Wagner, ainda que a chave de seu repertório estivesse nos autores do classicismo e romantismo italianos, em especial Donizetti, Verdi e Puccini. Sua Tosca ou Medeia se tornaram referências incontornáveis até hoje. E isso porque a soprano emprestou a esses papéis enorme carga expressiva. Por mais que existam poucos registros em vídeo de suas atuações, as gravações em áudio já sugerem uma cantora que corria riscos a cada nota - assim como era arriscado se submeter a um leque tão grande de papéis. Não por acaso, seu auge não dura mais do que uma década e logo sua voz demonstraria sinais de desgaste, dos quais são testemunhos seus últimos discos.
Mas foi justamente esta inconsequência, este canto levado ao extremo, que transformou a soprano em símbolo do que a ópera pode ter de mais visceral. Assim como sua vida pessoal. A infância e adolescência difíceis; o casamento precoce com Giovanni Battista Meneghini; o divórcio rumoroso; os desentendimentos com maestros e colegas cantores. Callas foi celebrada, desejada, cobiçada, odiada. Trocou o canto pela história de amor com Aristóteles Onassis, que optou pelo casamento com Jacqueline Kennedy. Era tarde demais para voltar aos palcos. O drama de suas principais personagens, às voltas com a impossibilidade do amor, invadia a vida real. E Callas terminaria a vida sozinha, longe da música, em seu apartamento em Paris.
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Callas não foi a única grande cantora de sua época. Houve, naquele instante, outras grandes intérpretes de Traviata, Medeia, Lucia, Julieta, Norma, Nedda, Tosca, Madalena, Carmen, Gilda e tantos outros papéis. A diferença é que, no imaginário do público, Callas não apenas as viveu no palco: em seu destino trágico, ela foi cada uma delas.
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