Dona Flor chega ao palco nova-iorquino em versão em espanhol

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Por VIVIANNE RODRIGUES
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Quando um dos mais importantes teatros de língua espanhola de Nova York decidiu comemorar seu 40o aniversário, a companhia optou por fazê-lo com um clássico brasileiro. O Teatro de Repertório Espanhol escolheu o romance de Jorge Amado "Dona Flor e Seus Dois Maridos", de 1966, adaptou-o ao espanhol, acrescentou uma estrela de cinema e TV latino-americana e o resultado foi um sucesso. Agora intitulado "Doña Flor y Sus Dos Maridos" na adaptação assinada por Veronica Triana e o diretor Jorge Ali Triana, a peça estreou no final de março. A previsão original era que ficasse em cartaz até junho, mas, graças à alta demanda, já está programada para continuar até o final de setembro. Ela é falada em espanhol, mas há tradução inglesa simultânea para os interessados, com fones de ouvido. "Quando começamos a trabalhar com 'Dona Flor', muitas pessoas nos falaram da dificuldade de tentar levar ao palco uma história que tinha características folclóricas, que parecia tão local e específica de uma região brasileira", disse Ali Triana, que também é diretor do Teatro Nacional da Colômbia. "Mas a resposta incrível do público revela justamente o contrário. O dilema de Flor é muito universal, e quase todo o mundo pode identificar-se com ele." Flor é uma jovem viúva que tem uma escola de culinária na Bahia. Ela se casa em segundas núpcias com o respeitável farmacêutico Teodoro, mas seu malandro primeiro marido volta dos mortos para dividir a mesma casa com eles. Segue-se uma comédia de erros, mais, nas palavras de Jorge Amado, uma batalha acirrada entre amor e desejo, espírito e matéria. Dona Flor acaba resolvendo a situação à moda brasileira: ela conserva o casamento respeitável com o farmacêutico e, à noite, encontra satisfação nos braços do fantasma de seu primeiro marido. "Quem não sonha em encontrar as duas coisas no casamento?," disse Ali Triana. "Quem nunca sonhou em ter um parceiro(a) que fosse a soma de duas ou mais pessoas? Dona Flor dá conta disso com graça e humor." A versão cinematográfica da história, de 1976, ajudou a converter Sonia Braga, no papel de Flor, em estrela internacional. Para a adaptação teatral, os dramaturgos ignoraram o filme e voltaram ao texto de Jorge Amado. "O desafio era preservar o espírito do romance e evitar repetir o filme, que foi tão popular e captou o universo de Amado com tanta beleza", disse Ali Triana. Assim como com a versão cinematográfica de Bruno Barreto, boa parte da popularidade e do sucesso do trabalho do Teatro de Repertório Espanhol pode ser atribuída ao carisma do malandro, jogador e fanfarrão marido falecido de Flor, Vadinho. O brasileiro José Wilker tornou-se ícone nacional depois de representar Vadinho, passando a maior parte do filme nu e conferindo ao personagem uma dose forte de deboche social --uma ousadia durante aqueles tempos de regime militar. Desta vez, Vadinho será encarnado com muito charme pelo cubano Francisco Gattorno, astro de cinema e televisão. "Vadinho possui um lado egoísta e mesquinho que não exploramos muito nesse filme", disse Gatorno. "Mas, apesar de seus defeitos, a verdade é que ele é redimido pelo amor que sente por aquela mulher. É esse amor que o faz voltar dos mortos." A nova-iorquina Selenis Leyva, presença constante no seriado de TV "Law and Order", e a porto-riquenha Denise Quiñones, ex-Miss Universo, se alternam no papel de Flor. O chileno Pedro Serka faz o tímido e respeitável Teodoro.

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