'Segunda Chamada': Ensino público volta ao foco em nova temporada

Debora Bloch retorna como protagonista da série, que ganha novos episódios no Globoplay a partir do dia 10

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Por Eliana Silva de Souza
Atualização:

O ano letivo da Escola Carolina Maria de Jesus, que mantém o ensino noturno para jovens e adultos, vai começar no dia 10, quando estreia a segunda temporada de Segunda Chamada, no Globoplay. Escrita por Carla Faour e Júlia Spadaccini, a série traz de volta a equipe de professores e seus novos alunos, todos em busca de ultrapassar obstáculos e realizar sonhos e desejos. 

Joana Jabace é a responsável pela direção, e no elenco estão Debora Bloch, que interpreta a professora de português Lúcia; Paulo Gorgulho é Jaci, o diretor da escola; Thalita Carauta como Eliete, professora de matemática; Hermila Guedes é Sônia, professora de geografia; e Silvio Guindane é o professor Marcos Sandré, que ensina artes. Também veremos nomes como Angelo Antonio, Flávio Bauraqui, Moacyr Franco, Rui Ricardo Diaz, Jennifer Dias. 

Nova temporada de 'Segunda Chamada' estreia no Globoplay dia 10 de setembro Foto: Fábio Rocha/Globo/Divulgação

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Nesta segunda temporada, a tensão novamente estará por todos os lados e, logo de cara, a equipe do diretor Jaci terá de enfrentar desafios dentro e fora da sala de aula. Ocorre que o colégio público continua sofrendo com a falta de recursos, pior ainda, o número de alunos diminuiu muito, o que será uma das maiores preocupações, pois isso pode levar ao fechamento da escola. Além disso, a série vai tocar em temas urgentes na sociedade, como é o caso da intolerância com relação às diferenças entre as pessoas. 

Uma das protagonistas da série, Debora Bloch revela ter ficado emocionada quando foi convidada pela diretora Joana Jabace para interpretar a professora Lúcia e conheceu o projeto. Para ela, a educação é um assunto que a toca profundamente e que continua sendo um problema que aflige a sociedade como um todo e recebe pouca atenção de governos. “Senti uma grande responsabilidade em fazer essa professora, porque eu acho que essa é uma das profissões mais importantes em qualquer sociedade e eu queria que as professoras, os professores, se sentissem realmente representadas”, afirmou a atriz em entrevista, via Zoom, ao Estadão.

Debora vive essa professora que, em meio a seus problemas pessoais, não se limita a ver a escola em que trabalha ficar em situação tão precária, ela vai à luta, quer fazer com que as pessoas voltem a estudar. E isso não apenas para evitar o fechamento da instituição, mas porque acredita que esse será o caminho para mudanças na vida de cada um. “Tem duas questões, uma é o abandono do prédio da escola, que está com as instalações em condições precárias”, conta Debora.

E a outra questão, como pontua a atriz, é a que coloca em cena uma parcela da população que vive totalmente à margem da sociedade. “Como a escola corre o risco de fechar por falta de verba, de investimento, uma situação totalmente atual e real que a gente está vivendo no Brasil, Lúcia vai buscar as pessoas em situação de rua para tentar impedir que a escola feche.” 

Nova temporada de 'Segunda Chamada' estreia no Globoplay dia 10 de setembro Foto: Fábio Rocha/Globo/Divulgação

Dessa forma, a série é realista e quer despertar o público para essa realidade cruel que é a das pessoas em condição de rua. A produção teve o cuidado de entrar nesse mundo ouvindo quem está ou esteve nessa situação. “Foi muito revelador pra mim, aprendi muito sobre essas pessoas, e a série traz esse olhar diferente. “Quando a gente viu na TV pessoas em situação de rua como protagonistas, como pessoas iguais a nós?”, questiona Debora. Para ela, é uma forma de humanizá-las com suas histórias e mostrar que precisam de atenção e de serem vistas.

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Devota do educador Paulo Freire, cujo centenário é comemorado neste ano, Debora acredita que a única saída para um país se reconstruir é “a educação de qualidade para todos porque a ignorância dá no que a gente está vendo atualmente no Brasil”, afirma. Sem educação, continua a atriz, “é essa barbárie que a gente tá vivendo, é a vitória da ignorância”.

Esperança e superação, apesar dos problemas

Diretora da série Segunda Chamada, Joana Jabace afirma que escolheu gravá-la toda em locação, fora de estúdio, por acreditar que dessa forma traria mais verdade para as cenas. Começa pelo prédio escolhido, que é o de uma escola desativada. Mas a pandemia e os protocolos exigidos, que foram seguidos à risca com nenhum caso de covid registrado, fez com que a equipe tivesse que se adaptar ao momento, reduzindo cenas nas locações. “A gente começou a gravar essa temporada em janeiro de 2020, filmamos dois meses e, em 13 de março, tivemos de parar”, conta Joana que revela terem ficado sem dar prosseguimento à produção por um ano. Entre essas idas e vindas, ela conta que “teve cenas que começaram a ser gravadas em 2020 e só terminaram quase um ano e meio depois”. 

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Superando essa fase mais restritiva e dando prosseguimento e finalização ao trabalho, a nova temporada de Segunda Chamada chega com temas importantes e que merecem um olhar sensível e crítico. Nesta sequência, Joana aponta três temas relevantes e que ganham destaque. Existe a questão da falta de recursos para o setor que ameaça a manutenção da escola, que é ainda mais problemático nesse tipo de educação pública, para jovens e adultos. “O ensino noturno é sempre o patinho feio”, constata Joana. E isso, diz, “se dá porque, se falta recurso no ensino público, de uma forma geral, no ensino noturno falta ainda mais”.

Depois houve a preocupação de lançar um olhar sobre a questão das pessoas em situação de rua, e a diretora explica que a ideia foi mostrar como elas se inserem dentro desse universo da escola. “São essas pessoas sendo retratadas, o que não acontece tanto e a gente procurou faze com a maior veracidade possível”. E há ainda a questão preocupante do feminicídio, da violência contra a mulher, “que teve um crescimento assustador durante a pandemia”.

Nova temporada de 'Segunda Chamada' estreia no Globoplay dia 10 de setembro Foto: Fábio Rocha/Globo/Divulgação

Além desses pontos citados pela diretora, há também na série situações que propiciam momentos emocionantes na relação entre professor e aluno e vice-versa. O público terá a oportunidade de conferir a grata presença de Moacyr Franco no elenco logo no primeiro episódio. Cantor, compositor e humorista, ele mostra que seu lado ator não fica a dever nada a ninguém, pelo contrário. E Joana conta como foi conseguir que ele participasse do seriado. Primeiro ela viu como seria o personagem, o Gilsinho, que tem Alzheimer e precisaria ser interpretado por alguém com idade, se não perderia a força. E surgiu o nome de Moacyr, mas num primeiro momento a diretora ficou em dúvida, pois ele teria de fazer um teste para o papel. Ele topou de imediato, o que surpreendeu Joana, que pouco conhecia esse lado ator dele. Ela conta, em meio a risos, que Moacyr chegou na produtora O2, olhou para ela e falou: “Você é a diretora? Tem idade para ser minha neta”.

Em seguida, diretora e ator se colocaram para a cena escolhida para o teste. Para surpresa de Joana, Moacyr se mostrou totalmente aberto e disposto a cooperar. “Tudo que eu falava ele fazia, então percebi que ele tinha uma inteligência cênica e uma disponibilidade para ser dirigido”, conta Joana, admirada com a abertura do ator para seguir suas indicações. “Quando acabou o teste, a equipe toda estava chorando, o câmera, o fotógrafo, o ator que estava contracenando com ele, estava todo mundo aos prantos. Daí eu não sabia nem o que fazer, só abracei ele, isso foi antes da pandemia, e agradeci, pois foi uma honra.” Ela ressalta ainda que o que ele fez ali foi maravilhoso e ele se mostrou muito generoso e aberto ao novo. “Eu acho o trabalho dele na série muito comovente”, afirma.

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Além de momentos como esse, a série também conta com uma trilha sonora que se destaca e complementa a produção. “Por conta dessa questão da brasilidade, eu fiz questão que a gente só tivesse músicas brasileiras e que tivessem a ver ou com a periferia de São Paulo ou com um Brasil raiz.” Nesta temporada, a música que abre a série, conta Joana, é Nada Será como Antes, de Milton Nascimento, em uma regravação em hip-hop com Ney Matogrosso, a Linn da Quebrada e o Edi Rock.

Joana destaca que, apesar de ser uma série que tem um lado muito real ao tratar da educação de jovens e adultos, que precisam, tanto quanto os professores, se desdobrar para conseguir realizar o objetivo de aprender e ensinar, ela também procura passar um lado positivo. “A série Segunda Chamada, apesar de retratar a dureza da situação social do Brasil, sempre faz uma ponte com a esperança, com a superação”, reflete a diretora. Para ela, a série tem essa forma de mostrar que o brasileiro possui a força da superação, da capacidade de seguir adiante e enfrentar as dificuldades.