Em 2020, o streaming decolou com o consumo em massa de séries na pandemia

Produção mundial teve condições de programar estreias e ainda aproveitar a audiência de um público confinado — e sedento por maratonas

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Por Leandro Nunes
Atualização:

O produtor e músico Evandro Fióti resumiu o que significou o streaming para 2020. “Foi o abrigo de todas as artes.” Para quem consome uma produção audiovisual em qualquer plataforma, apertar o play é a parte mais simples de uma complexa cadeia de produção que envolve agendas, contratos, equipamentos, equipes, horas de trabalhos e muita exposição. Tudo que não era possível fazer por conta da pandemia.

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O receio de sair de casa nos primeiros meses da pandemia fez com que as plataformas de streaming decolassem. O consumo de narrativas seriadas aumentou nas primeiras semanas de confinamento, chegando ao ponto de ameaçar a estabilidade da internet. Alguns países precisaram reduzir a qualidade da transmissão para não sobrecarregar a rede. No Brasil, Netflix e Globoplay agiram para amenizar a pressão sobre a infraestrutura.

O streaming ficou em um espaço privilegiado diante da produção das novelas, interrompida durante este anos, e também do cinema, que a contragosto foi forçado a lançar parte de seus produtos nas plataformas.

Com a chegada do Disney+, consumidor brasileiro tem mais uma opção de plataforma de streaming para aproveitar. Foto: Baptistão

De fato, foi um grande revés para o cinema e uma facada em seu orgulho, já que ainda em 2019 o setor se mantinha reticente para o lançamento de filmes diretamente no streaming.

Naquela época, a política - equivocada - de muitos prêmios, incluindo o Oscar, ainda era de que cinema é o lugar em que se assiste filmes, e não a televisão da casa da gente. Depois de 2020, esnobar filmes só porque estrearam antes no streaming deve ser uma coisa para ficar no passado.

Outro elemento que contribuiu para o streaming foi a agenda das produções, muitas séries tiveram suas sequências já gravadas apenas aguardando o momento certo de estrear. Com tanta bala na agulha, as plataformas se entregaram a verdadeiros combates. A Netflix adquiriu os direitos de produções e a Disney + se expandiu e finalmente chegou ao Brasil, em novembro deste ano. Foi um momento de expansão também para HBO, Amazon Prime Video. Difícil dizer quem segue gigante nessa, uma vez que houve muito terreno e recurso investido. 

A abundância no catálogo chamou a atenção do mundo. Acontecimentos políticos e sociais ganharam força e marcaram produções como Watchmen, eleita melhor minissérie no Emmy 2020. A produção da HBO aborda o racismo em um mundo distópico, a partir dos quadrinhos, com heróis mascarados enfrentando a repressão policial. A série levou 11 Emmys e Regina King recebeu o prêmio de melhor atriz. Na premiação virtual, ela exibiu uma foto de Breonna Taylor, mulher negra assassinada em um tiroteio policial neste ano, e as palavras “Say Her Name” (Diga seu nome) que se tornou lema dos protestos anti racistas nos Estados Unidos.

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Outra boa surpresa no Emmy foi Zendaya que entrou para a história com a mais jovem a vencer o prêmio de melhor atriz em série de drama por Euphoria. Com 24 anos, ela competia com nomes como Jennifer Aniston, Olivia Colman, Jodie Comer, Sandra Oh e Laura Linney. Não deu outra, a caçula venceu.

Entre as produções de destaque, o mundo viu o apocalipse na série Dark que encerrou muito bem sua terceira e última temporada neste ano e foi eleita a melhor série da Netflix. Outra que surpreendeu foi I May Destroy You (HBO), da talentosa escritora, atriz e roteirista Michaela Coel. A trama mistura humor com desconforto vivido pela personagem após ser vítima de um golpe de ‘Boa noite, Cinderela’.

Ainda não se sabe a real extensão do impacto da pandemia no streaming no futuro, já que algumas produções foram adiadas, como a segunda temporada de The Morning Show (Apple TV), Carnival Row (Amazon) e a 16ª temporada de Grey’s Anatomy, assim como Supergirl, Batwoman, Supernatural e Jovem Sheldon, da Warner, Euphoria e Snowpiercer, da HBO.

Na Netflix, Stranger Things, Grace & Frankie e The Witcher seguem sem previsão de retorno às gravações. A Hulu também suspendeu a continuação de The Handmaid 's Tale, bem como Fargo, Survivor e Clarice. Se 2020 foi tão generoso assim com o streaming, talvez o pesadelo esteja às portas de 2021.  

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