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Caso Daniella Perez: Série separa verdades e mentiras sobre assassinato da atriz

‘Pacto Brutal’, que estreia na HBO Max, traz o relato de Glória Perez, mãe de Daniella, e busca a vida real para sanar erros históricos; veja trailer

Foto do author Matheus Mans
Por Matheus Mans
Atualização:

Foi na noite de 28 de dezembro de 1992 que o Brasil parou. Não apenas por conta da renúncia do então presidente Fernando Collor de Mello, mas por um crime que chocou o País: o assassinato da atriz Daniella Perez pelo também ator Guilherme de Pádua. Hoje, quase 30 anos depois da morte da filha da escritora e novelista Glória Perez, o assunto continua rendendo, com o assassino participando de entrevistas, teorias sendo criadas e muito sendo dito sobre o crime. Agora, a série Pacto Brutal tenta colocar um ponto final no caso.

Assassinato da atriz e bailarina Daniella Perez é tema da série documental'Pacto Brutal', deTatiana Issa e Guto Barra Foto: HBO Max

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Estreia do HBO Max desta quinta-feira, 21, a produção é dividida em cinco capítulos e traz detalhes do crime. O diferencial que a série busca é não prezar pela isenção, mas sim assumir um lado. Aqui, os documentaristas Tatiana Issa e Guto Barra dão voz a Glória Perez e aos familiares nunca antes devidamente ouvidos. Em vez das gravações e manchetes sensacionalistas, autos do processo. Em vez de Guilherme de Pádua, amigos. Se afasta de produções como Elize Matsunaga: Era Uma Vez um Crime e abraça um tom mais sóbrio.

Esse estilo de contar a história nasce com o surgimento da ideia da série em si, já que a própria Tatiana Issa é próxima da família Perez. “Eu, por um acaso do destino, estava trabalhando com o Raul (Gazolla, ator e marido de Daniella) e estava com ele nesse dia. Também sou muito amiga da prima da Dani. Fui ao enterro, ao velório. Vivi isso de maneira intensa nos meus 18 anos. Vi a dor de perto”, conta Tatiana, uma das diretoras da série. “A Glória confiava na gente profissionalmente, mas também no nosso olhar e na nossa delicadeza. Havia, assim, uma confiança pessoal e profissional”. Nos dois primeiros episódios, já vistos pelo Estadão, fica clara a busca por reparar erros históricos. Em mais de um momento Glória mostra o desconforto que persiste com o retrato do caso na mídia, fazendo confusões entre novela e vida real. Afinal, na época, Daniella e Guilherme formavam um casal na novela De Corpo e Alma, assinada por Glória. 

‘Novela barata’

No dia do crime, eles gravaram uma cena de rompimento. Ao longo de entrevistas, a novelista fala como sente que o caso se transformou em uma “novela barata”. “Essa era a principal preocupação desde o começo”, diz o diretor Guto Barra, sobre o desejo de tirar do caso esse ar de “folhetim”. 

Glória Perez dá depoimento para o documentário'Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez', dirigida por Tatiana Issa e Guto Barra Foto: HBO Max

“É difícil lutar contra uma imagem. Existia uma única foto dos dois personagens da Daniella e do Guilherme de Pádua em uma cena romântica. E essa foto foi replicada em capas de revista. Mesmo quem não está seguindo o caso vê os dois em uma posição romântica. Já imagina que não são os personagens, mas pessoas. Foi algo muito duro e, até hoje, é muito duro ver essa confusão entre personagens e pessoas. A gente espera que Pacto Brutal ajude a mudar essa narrativa”.

No entanto, apesar desse cuidado e dessa ânsia em desfazer erros e confusões, Pacto Brutal não deixa de ser firme em algumas decisões. Apoiados pela própria Glória Perez, os diretores exibem fotos do cadáver de Daniella Perez na tela, por exemplo. 

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Afinal, de acordo com a mãe e escritora, as capas mostrando a jovem aos beijos com Guilherme é uma forma de violência que machuca ainda mais. Também fala com a própria imprensa que, na época, explorou o caso - e que deve render episódios interessantes à frente.

Em vez das gravações e manchetes sensacionalistas, série 'Pacto Brutal' investe em autos do processo Foto: HBO Max

Pacto Brutal é, assim, o que há de mais interessante até o momento no mercado audiovisual do chamado “true crime” - ou, simplesmente, filmes e séries sobre crimes reais. É um tipo de produção que ganhou força durante a pandemia, principalmente com séries e mostrando histórias absurdas e assustadoras ao redor do mundo. 

Na Netflix, fizeram sucesso produções como Tiger King, Cenas de um Homicídio e Don’t Fuck with Cats. No Brasil, o movimento começa agora, com Elize Matsunaga e o próprio Pacto Brutal. Para os diretores, há cada vez mais espaço para explorar o gênero no Brasil, mas com responsabilidade.

Histórias corretas

“Hoje em dia, é bom termos plataformas investindo nessas histórias da maneira correta”, contextualiza Guto Barra. “É muito difícil fazer uma série sobre crime. Custo muito caro: exige muita pesquisa, muita imagem. É uma coisa complexa e que, em outras épocas, não daria para fazer no Brasil. Fico feliz que esse gênero esteja se fortalecendo, já que as histórias estão sendo contadas como deve ser.”

É uma maneira, também, de fazer com que, na memória da população, não se apague o que aconteceu. “O Brasil tem a memória curta. Somos conhecidos por isso. E grandes crimes cruéis acabam se perdendo. Condenados e criminosos vão se reinserindo na sociedade sem que as histórias sejam contadas”, diz Tatiana. “É um gênero importante para o Brasil.”

Fique de olho

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Raul Gazolla

Depoimentos do então marido de Daniella roubam a cena, com uma carga emocional que chama a atenção.

Polícia

Note como a série mostra os descaminhos da investigação com bons argumentos e entrevistas pertinentes.

Sensacionalismo

Uma peça central é o olhar sobre como o caso foi abordado na mídia. Preste atenção nas revistas. Isso será aprofundado adiante.

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