‘Becoming Elizabeth’ mostra relação tóxica da monarca com seu padrasto

Série revela paixão juvenil que marcou para sempre Elizabeth I e o seu reinado de 45 anos na Inglaterra

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Por Mariane Morisawa
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Quem é brasileiro provavelmente conhece a história de Elizabeth I, que governou a Inglaterra e a Irlanda entre 1558 e 1603, por um amontoado de fatos e datas, aprendidos na escola ou, talvez, em algum filme. Elizabeth era filha de Henrique VIII e Ana Bolena, por quem o rei fundou a Igreja Anglicana e que mandou executar quando a menina tinha dois anos. Elizabeth assumiu o trono após a morte dos meios-irmãos Eduardo VI e Maria I, derrotou a invencível Armada Espanhola sob o comando de Felipe II, então rei de Espanha e Portugal, e durante seu reinado o teatro floresceu, graças a autores como William Shakespeare. Mas o conhecimento da londrina Anya Reiss sobre a rainha não era muito maior do que esse. A roteirista ficou espantada ao saber da relação imprópria com o padrasto, Thomas Seymour, quando ela ainda era adolescente. “Esse relacionamento explica muito por que ela era como era, e ninguém nunca nos contou sobre isso”, disse Reiss em entrevista ao Estadão. “Em compensação, eu sabia que Elizabeth se achava bonita. Como assim? Isso é o que sabemos de uma das mulheres mais importantes da história?”. Foi por isso que Anya se empolgou a assinar Becoming Elizabeth (em tradução literal, Tornando-se Elizabeth), que estreou no Starzplay. 

É importante pensar que existe um ser humano por trás de cada nome em um livro de história', diz Alicia von Rittberg, que vive Elizabeth Foto: Starzplay

A série começa com a morte de Henrique VIII. A adolescente Elizabeth (Alicia von Rittberg) é levada a Londres, onde reencontra o meio-irmão Edward e a meia-irmã Mary. Edward é uma criança, mas assume o trono, tendo o tio Edward Seymour (John Heffernan) como regente. Seu outro tio, o ambicioso Thomas (Tom Cullen), casa-se com a viúva do rei, Catherine Parr (Jessica Raine), mas joga seu charme para cima da enteada Elizabeth. “A gente costuma pensar que era uma época diferente, que as pessoas se casavam aos 13 anos”, disse Reiss. “Mas foi chocante mesmo então.” Reiss acredita que as pessoas de hoje, especialmente as mulheres, vão se identificar. “Espero que ninguém tenha uma relação assim com o padrasto ou com alguém mais velho, mas quase todos nós temos um primeiro relacionamento danoso, em que você percebe que o mundo não é o que pensava.” No caso de Elizabeth, essa relação tóxica, que a marca para sempre, está diretamente ligada à política e a situações de vida e morte. 

Alicia von Rittberg também tem origem de uma família nobre alemã, mas sua identificação com Elizabeth vem da sua transição de menina a mulher. “Eu entendo como é se apaixonar pela primeira vez e não dar muito certo, como é ficar dividida entre irmãos, ou como Elizabeth forma sua própria opinião sobre política, sobre religião”, afirmou ao Estadão. “A diferença é que eu não tinha medo de perder literalmente minha cabeça quando estava crescendo.” Todo o reino ainda estava sofrendo o trauma de ter sido governado por um ditador. “Eles chegaram do outro lado pensando: sobrevivemos! Porque ninguém achava que ia conseguir sobreviver”, disse Reiss, vendo ecos disso no presente. “Nós costumamos colocar um filtro na história, para mantê-la à distância. E nosso trabalho na série é arrancar esse filtro.” Para isso, ela contou com a colaboração do diretor de fotografia brasileiro Adolpho Veloso, que usou iluminação natural e de velas e câmera na mão, dando à série uma urgência que a torna mais atual.  Para Alicia von Rittberg, é importante pensar que existe um ser humano por trás de cada nome em um livro de história. “Eles todos foram meninos e meninas em algum momento, tentando encontrar seu caminho.”.

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