PUBLICIDADE

Animação ‘South Park’ comemora 25 anos de sátira com especial no Paramount+

Para celebrar, Parker e Stone apresentam um show filmado encabeçado pela banda Primus e os roqueiros alternativos do Ween

Por Mark Kennedy
Atualização:

Chegar aos 25 anos geralmente indica o começo da idade adulta, um sinal para deixar de lado todas aquelas coisas infantis. Não para South Park e suas estrelas Stan, Kyle, Kenny e Cartman. O Comedy Central traz quatro jovens malcriados e perpetuamente encapotados numa cidade amalucada do Colorado, andando de um lado para o outro e fazendo piadas de cocô e sátira social afiada.

Entre alguns de seus alvos ao longo dos anos se encontram religiões como cristianismo, islamismo e cientologia, além de negacionistas das mudanças climáticas, criptomoedas, Phil Collins, Tiger Woods, Game of Thrones e pedófilos.

'South Park' comemora 25 anos com episódio especial noParamount+. Foto: Comedy Central

PUBLICIDADE

Uma de suas estrelas mirins costumava morrer em todo episódio, sempre violentamente. “Algumas pessoas ficam tipo, ‘Uau, não consigo acreditar que eles tiraram sarro disso, é uma coisa muito grave’. E é exatamente por isso que tiramos sarro”, diz Trey Parker, que criou o desenho com Matt Stone.

Para comemorar o 25º aniversário da série, Parker e Stone voltaram ao Colorado com um show filmado no Red Rocks Park and Amphitheatre, perto de Denver, encabeçado pela banda Primus e os roqueiros alternativos do Ween. Geddy Lee e Alex Lifeson, integrantes do Rush, também passaram para tocar algumas músicas.

O show, que vai estrear no sábado no Comedy Central e chegar ao Paramount+ no domingo, 21,contará com músicas da série. Stone o caracteriza como “uma celebração, uma festa e uma retrospectiva”. Vai ao ar na mesma hora e no mesmo dia em que South Park estreou 25 anos atrás.

Desde o primeiro episódio da série vencedora do Peabody Award, em 1997, Parker e Stone confundiram a fronteira entre bom gosto e mau gosto, ainda mais do que aquele outro desenho animado para adultos, Os Simpsons.

South Park teve um episódio em que o reverendo Jesse Jackson insistia que o pai de Kyle beijasse seu traseiro para se desculpar de um insulto racial e mostrou Jesus Cristo defecando no ex-presidente George W. Bush e na bandeira americana.

Publicidade

“Por mais que eu ame Os Simpsons e ache Os Simpsons muito importante, acho que South Park definitivamente fez coisas que Os Simpsons não fizeram”, diz o Dr. Jonathan Gray, professor de mídia e estudos culturais da Universidade de Wisconsin-Madison, autor de Watching with The Simpsons: Television, Parody, and Intertextuality, entre outros livros.

Um dos pontos altos da série foi o arco de três episódios de 2007 que contou a história da Imaginationland, um lugar onde vivem Gandalf, Charlie Brown, Conde Chocula e todas as invenções da imaginação humana. Quando os terroristas atacam a Imaginationland, nossos pequenos heróis têm de acertar as coisas antes que os militares americanos lancem bombas atômicas.

Cada episódio da série culmina numa espécie de moral da história franca e cortante - uma versão de “faça a coisa certa” ou deixe as pessoas tomarem suas próprias decisões.

Gray diz que Parker e Stone se encaixam mal nos campos democrata ou republicano e os coloca no espectro político como “libertários de esquerda”.

PUBLICIDADE

Um alvo comum é tirar sarro de celebridades, como quando se revelou que Bono, do U2, era o maior m... do mundo. Mas Parker e Stone só gostam de espetar celebridades poderosas e chegaram a mostrar um lado surpreendentemente terno com Brittney Spears, que em certo episódio explodiu a própria cabeça, mas ainda foi obrigada a continuar fazendo shows.

“Eles odeiam celebridades quando celebridades tentam nos dizer como viver nossas vidas”, diz Gray. “Algumas de suas críticas unem a esquerda e a direita. Afinal, todos nós achamos a cultura da celebridade uma coisa vazia”.

South Park é a série que nos deu referências culturais como Cheesy Poofs, ManBearPig e Mr. Hankey, o cocô de Natal. Também nos deu Professor Chaos e General Disarray e a visão de Cartman se vingando de um valentão adolescente, fazendo-o comer seus próprios pais e depois lambendo alegremente as lágrimas de seu rosto.

Publicidade

A série se transformou em filmes como South Park: Bigger, Longer & Uncut - que conseguiu uma indicação ao Oscar de melhor canção original - e videogames como South Park: The Stick of Truth. Na Broadway, seu musical sobre os mórmons é um sucesso desde 2011.

O Conselho de Pais da Televisão, que espera restaurar a “decência da indústria do entretenimento”, vem criticando o desenho desde sempre, chamando-o de “morada do sexo gráfico e da violência”. South Park confundiu os censores do mundo todo, chegando até a lançar uma campanha publicitária #CancelSouthPark, fingindo que alguém estava tentando cancelar a série.

Em altaCultura
Loading...Loading...
Loading...Loading...
Loading...Loading...

Parker e Stone se aproximaram como fãs de Terry Gilliam e da trupe de comédia Monty Python. Eles cortaram e colaram à mão seus primeiros cartuns do South Park de cartolina e encontraram uma liberdade nesse método caseiro. “Se você estivesse tentando vender a ideia do desenho e dissesse ‘Ah, e tem esse garotinho de 8 anos, ele morre violentamente no final, não é demais?’ Bom, não iria rolar nunca. Não é engraçado nem numa animação boa. Mas na animação de papel de construção, é engraçado”, diz Parker.

Do papel aos computadores, o desenho continua, sendo um gerador de GIFs e memes muito antes de existirem GIFs e memes: “Não sou gordo, eu tenho ossos grandes!”, “Oh, hambúrgueres!” e “Respeite minha autoridade!”

Comemorar seu 25º aniversário com um show faz sentido, já que a música está no coração da série. Cerca de 100 músicas foram usadas ao longo dos anos, e South Park: Bigger, Longer & Uncut foi um filme musical em si. Parker e Stone pensam em si mesmos menos como animadores e mais como integrantes de uma banda.

“Quando entramos numa nova temporada, vamos para o estúdio como uma banda, e não temos ideia do que vai sair”, diz Parker. “Sempre ficamos surpresos no final da temporada, tipo, ‘Oh, nós fizemos isso? Que louco!’ Foi isso que o manteve o desenho divertido e sempre novo por 25 anos”. /TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.