Zubin Mehta leva morador de Heliópolis para Israel

Adriano, de 17 anos, toca contrabaixo no Instituto Baccarelli e impressionou o maestro, que lhe ofereceu bolsa de estudos em Israel

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Por Agencia Estado
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O talento Adriano Costa Chaves, de 17 anos, que toca contrabaixo no projeto musical comunitário do Instituto Baccarelli arrancou aplausos de Zubin Mehta em sua passagem pelo Brasil e o impressionou a tal ponto que o maestro lhe ofereceu uma bolsa para a Orquestra Filarmônica de Israel. Morador da comunidade de Heliópolis, filho de um taxista e uma dona de casa, Adriano é um garoto reservado, mas agora distribui sorrisos. Adriano começou a estudar música clássica quando o primo desistiu do contrabaixo e precisou de substituto na orquestra Baccarelli. "Não tinha vontade de ir. Meu primo me convenceu e acabei me apaixonando pelo contrabaixo", conta o jovem músico, que passa oito horas por dia estudando música e não vê a hora de concluir o ensino médio (cursa o último ano) para poder estudar ainda mais. A recompensa por tamanha dedicação veio há duas semanas durante visita protocolar do maestro Zubin Mehta, que veio ao Brasil com a Filarmônica de Israel se apresentar na Sala São Paulo. Mehta iria conhecer o Instituto Baccarelli e assistir a apresentações dos alunos da comunidade. O maestro indiano havia dito que não regeria a jovem Sinfônica Heliópolis, mas diante da boa performance dos garotos e garotas assumiu o posto do maestro Roberto Tibiriçá. No fim, assistiu a Adriano executar concerto para contrabaixo de Domenico Dragonetti. A surpresa foi tamanha que o convidou para tocar para os músicos de sua orquestra e ofereceu a Adriano uma bolsa para a Filarmônica de Israel, uma das mais concorridas e conceituadas do mundo. "Nunca imaginei isso. Devo muito a meu professor e ao trabalho do instituto", diz Adriano. Para aproveitar a bolsa, Adriano vai estudar inglês, hebraico, cultura judaica. "Com o sucesso dele, todos os outros alunos ficaram mais motivados", comenta o professor Sérgio de Oliveira. A motivação não é mera retórica. Em sua visita à orquestra, Mehta afirmou: "Meu pai trabalhou anos com jovens músicos. Sei quando encontro talentos. Se continuarem assim, estudando muito, esses jovens podem tocar onde quiserem", declarou. Instituto Baccarelli Há três décadas, o Instituto Baccarelli leva a música a jovens da favela Heilópolis. E é ali que nas próximas semanas começa a ser erguida a mais nova sala de concertos da cidade. Idealizado pelos mesmos arquitetos responsáveis pela Sala São Paulo, o teatro fará parte de um complexo maior, com biblioteca, refeitório, jardins e mais de 70 salas de aulas para os 500 alunos que hoje participam do projeto. E encontram na música uma alternativa à realidade em que se inserem. Os números são conhecidos. Um milhão de metros quadrados, 120 mil habitantes, 55 mil deles crianças entre 7 e 14 anos, 40% das casas sem esgoto, 60% das ruas sem asfalto. A lista poderia seguir. E revelaria quantidades insuficientes de escolas, hospitais. "Falta tudo", diz Edmilson Venturelli, que ao lado do irmão Edilson é responsável pelas atividades atuais do instituto. "Estas crianças não têm direito a sonhar. Então chegam aqui e, após um tempo tendo aulas e tocando na nossa orquestra, se sentem parte de alguma coisa. O sonho, por meio da música, torna-se realidade."

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