Zimbo Trio ganha ‘atestado histórico’ de Amilton Godoy

Pianista escala os músicos Sidiel Vieira e Edu Ribeiro para refazer a atmosfera do trio; show de lançamento será nesta quarta (3), no Blue Note

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Por Julio Maria
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Cinquenta e cinco anos depois de seu surgimento, um dos grupos de música instrumental mais importantes do País, autor de mais de 50 álbuns e renovador de uma linguagem musical nos anos 1960, sobretudo em gravações e performances solo, o Zimbo Trio vai ganhar uma homenagem nesta quarta (3).

A formação atual de Amilton Godoy Trio, com Sidiel Vieira e Edu Ribeiro Foto: DANI GODOY

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O pianista Amilton Godoy, integrante original ao lado do baixista Luis Chavez (morto em 2003) e do baterista Rubinho Barsotti, gravou um álbum com dois músicos dos melhores expoentes da nova geração, o baixista Sidiel Vieira e o baterista Edu Ribeiro. O trio vai fazer dois shows de lançamento do álbum Tributo ao Zimbo sob o nome Amilton Godoy Trio. As duas apresentações ocorrem na mesma noite, como manda a tradição da casa Blue Note: a primeira às 20h e a segunda às 22h30. 

O álbum, que já está no Spotify, atualiza a pegada de um grupo que veio como uma erupção criativa na era que mais imortalizava canções. Garota de Ipanema, o primeiro arranjo feito pelo grupo, abre o disco. Sidiel e Edu, ainda que respeitando a proposta de Amilton, estão leves e com uma energia libertadora. O disco segue com Loro, de Egberto Gismonti, de uma outra fase do grupo, e depois Prelúdio nº2, Águas de Março, Avião e um emocionante pout-pourri para homenagear o tão gravado pelo trio Milton Nascimento. 

O piano grande e espaçoso de Amilton aparece aos sorrisos em Domingo no Parque, de Gilberto Gil, com a mesma introdução feita com o Zimbo. Arrastão vem com todo o clima criado pela bateria de Edu, na mesma ideia de Rubinho, suingando no volume baixinho para explodir no samba da segunda parte. Aquarela do Brasil, das versões mais geniais, também está lá, nova como se fosse feita ontem.

A linguagem criada pelo Zimbo tem uma jovialidade inoxidável. Poucas coisas feitas há 50 anos permaneceram tão preservadas. Mudaram os carros, os aparelhos de telefone, os próprios instrumentos musicais e a internet surgiu, mas a música feita pelos novos grupos instrumentais é exatamente aquela que o Zimbo Trio propôs em 1964. E como estariam os músicos? Amilton, que tocou com as duas pontas geracionais, explica. “Os músicos de hoje têm uma capacidade de absorção muito rápida.”

Se um bonde partiu do Brasil em 1964, depois do Concerto da Bossa Nova no Carnegie Hall de Nova York, levando muitos bons daquela cena, por que o Zimbo ficou? Se os jazzistas americanos vibravam com as baquetas nada convencionais de Rubinho, as linhas do baixo acústico de Luis Chaves e o piano dos mil caminhos de Amilton, o que os teria segurado aqui? Amilton conta que o trio chegou a fazer teste em um estúdio nos Estados Unidos, com a cantora Elizeth Cardoso. Ao final, um empresário apenas disse que seu agente iria procurá-los. “Mas as condições eram as seguintes: precisamos que vocês venham morar nos Estados Unidos. Não podemos investir em um grupo que vai retornar ao Brasil toda hora por saudade da família.” Os músicos agradeceram a gentileza e se mandaram para seu país, onde tinham uma história a escrever.

A TV Record fez, em dezembro de 2018, um especial falando dos 65 anos desde o fim do histórico programa O Fino da Bossa, que o Zimbo conduziu por três anos (entre 1964 e 1967) ao lado de Elis Regina e de Jair Rodrigues. Os produtores chegaram a fazer uma longa entrevista com Amilton, mas, no programa, nenhuma palavra foi mencionada sobre o trio. A desolação de Amilton virou força. Seu álbum é um atestado de relevância histórica.

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AMILTON GODOY TRIO Homenagem ao Zimbo Trio. Blue  Note. Conj. Nacional. Av. Paulista 2.073, tel. 3179-0050. 4ª (3), 20h e 22h30. R$ 70 e R$ 90. 

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