Zezé solta o verbo contra críticos, artistas e TVs

Primeiro lugar na preferência de jovens entre 15 e 24 anos, ao lado do irmão Luciano, Zezé fala ao JT sobre a resistência da mídia ao sertanejo

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Por Agencia Estado
Atualização:

O tempo em que Zezé Di Camargo e o irmão Luciano olhavam o mar e diziam "nossa, que ´corrrgão grande´!" está bem distante. Luciano, diz Zezé, é um devorador de livros com cultura para esfregar no ego de muitos críticos literários. Zezé, por sua vez, se define como um raro e afiado expert em política e questões sociais. Seus feitos na música são mais evidentes. Quase 14 anos de carreira renderam mais de 20 milhões de discos vendidos no País. Um de seus DVDs é recordista em vendas. E na maior pesquisa para se traçar o perfil do jovem brasileiro, realizada pela ONG Instituto Cidadania, a dupla lidera na preferência musical. Sorte de quem os aprova, desgraça de quem os desdenha. Zezé Di Camargo & Luciano estão mais fortes do que nunca. Um filme biográfico estreará em 2005 e uma caixa com sete discos, 100 músicas ao todo, acaba de ir para as lojas. Em entrevista ao JT, Zezé solta o verbo contra críticos, artistas do próprio meio e emissoras como a MTV. Foi uma surpresa saber que os jovens ouvem tanto a sua música? Zezé Di Camargo - Não. Há uma coisa que me intriga. Canais como a MTV e o Multishow falam para os jovens mas levam artistas que não vendem tantos discos assim para eles. O perfil musical do Brasil ampliou. Mas essas pessoas continuam levando um Nelson Motta da vida - que há 30 anos não faz nada para a música brasileira e que vai para a "Ilha de Manhatan" quando aparece qualquer dificuldade no Brasil - para apresentar um prêmio. A MTV tentou incluir artistas sertanejos há uns três anos em sua programação, mas voltou atrás... Falo mais uma vez embasado na pesquisa que aponta que os três artistas mais ouvidos por jovens entre 15 e 24 anos são Zezé Di Camargo & Luciano, Leonardo e Caetano Veloso. Eles (a MTV) estão fazendo programação para um gueto. Se você analisar bem, o ibope da MTV nunca mudou. E não mudou por isso, porque ela continua presa àquela galera de quinze anos atrás. Posso estar aqui batendo em uma emissora que dá o maior espaço para a minha filha (Wanessa Camargo), mas se você vir a entrega de prêmios da MTV, verá que ela continua ligada à mesmice. Os personagens que a freqüentam são sempre os mesmos. Você e seu irmão são apontados pela crítica como dois vilões que trabalham contra a qualidade da música brasileira. Em algum ponto a crítica está certa? Os críticos não podem escrever nem para eles, nem para meia dúzia de amigos deles. Mas a maioria está presa ao que o amigo diz. Muita gente fala que não gosta de nós para não ficar mal com o amigo de faculdade. Eles nos chamam de alienados mas são mais alienados que nós. Estão presos às satisfações que têm de dar aos amigos. Não ligo para isso e tenho um compromisso muito sério com o meu público. Prefiro cantar para 50 mil pessoas na pecuária de Uberaba do que para meia dúzia no Tom Brasil de São Paulo. Há preconceitos na mídia? Não entendo algumas coisas. O SBT, quando precisa de um ibope, convida um artista sertanejo. Mas há cinco anos não existe a modalidade sertaneja no troféu imprensa. A música que mais vende no País não tem espaço em um canal popular. O sertanejo é mais popular do que o samba? O sertanejo vende três vezes mais do que o samba. Se ouvir as rádios, verá que entre as dez músicas mais tocadas, cinco ou seis são sertanejas. Você diz que tirou a música sertaneja do ostracismo mas não a grava em estado puro. Por quê? Nós fomos o elo para fazer as pessoas conhecer duplas sertanejas tradicionais que estavam totalmente esquecidas. Se não existisse o sucesso de Zezé & Luciano, Leandro & Leonardo ou Daniel, muita gente nem saberia que estas duplas existem. Se a gente estivesse cantando com uma violinha "há tempos eu fiz um ranchinho..." não iríamos chegar a um horário nobre da Rede Globo. Se eu cantar É o Amor no Faustão, ele pára para me ouvir. E depois de cantar É o Amor eu posso cantar a Tristeza do Jeca que ele me ouve também. É melhor cantar Tristeza do Jeca ou É o Amor? É o Amor disparado. Mas, nas horas de ouvir rádio, prefiro Tristeza do Jeca. O Luciano falava informalmente, antes da entrevista, sobres livros que leu de Dostoiévski, Humberto Eco... O Luciano é um devorador de livros. É por isso que eu digo. As pessoas têm de aprender a separar as coisas. Não quer dizer que é porque você escreve para a Folha de S. Paulo ou para O Estado de S. Paulo que você sabe mais do que eu sobre política, por exemplo. Há poucos críticos culturais no Brasil que têm o conhecimento de literatura que o Luciano tem. A gente não é o perfil daquilo que a gente canta. O Luciano é um devorador de livros. E você? Qual o seu lado que as pessoas não conhecem? São poucas as pessoas que têm o conhecimento que eu tenho sobre política e sobre problemas sociais. Criticam a gente sem saber quem somos. Estas críticas se estendem para a Wanessa, sua filha? A Wanessa já conquistou independência como artista. Ela hoje tem um posicionamento, uma maneira de pensar. Já passou por coisas que a Sandy não passou ainda. Musicalmente, a Sandy está .... porque tem uma carreira bem maior que a da Wanessa. Mas, como pessoa, a Wanessa está muito à frente da Sandy. Se colocarem a Sandy e a Wanessa em um festival com fãs radicais e tatuados do Sepultura, a Sandy corre muito mais o risco de ser vaiada do que a Wanessa. Esta postura recatada da Sandy não seria intencional? Não acho intencional. A Sandy já deveria ter tomado uma posição. Se você me perguntar: "O que é mais fácil? Ser pai da Sandy ou da Wanessa?" É mais fácil ser pai da Sandy. Mas como ser humano, formação, pessoa, a Wanessa está quilômetros à frente. Como pai eu vou brigar com a Wanessa. Mas se estivesse de fora, falaria: "Wanessa, você é f..."

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