Zezé Motta reverencia a diva Elisete

Ela faz show de lançamento de Divina Saudade, álbum baseado no repertório de Elisete Cardoso, de sexta a domingo, no Teatro Renaissance

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Por Agencia Estado
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Zezé Motta gravou o CD e agora se põe à prova no palco. De sexta-feira a domingo, a atriz interpreta músicas do fino repertório de uma das mais importantes cantoras do Brasil, Elisete Cardoso, no Teatro Renaissance. É o show de lançamento do disco Divina Saudade, uma homenagem à dama da canção, que sai pelo selo carioca Albatroz. Para fazer um bom espetáculo, Zezé teve algumas preocupações. "Primeiro, estar com a garganta inteira, para fazer bonito", diz ela, animada com o novo trabalho. "Depois, uma coisa muito importante foi a não preocupação de cantar como Elisete. Não tenho a pretensão de causar o mesmo impacto que ela provocava, era uma rainha, mas quis, ao menos, prestar uma homenagem à sua altura." A "homenagem à altura" diz respeito não só à seleção do repertório, mas também ao figurino do espetáculo Divina Saudade. "Vou estar muito bonita, respeitando o glamour do figurino e cenário daquela época de ouro, que foi, principalmente, a década de 50, ainda quando o rádio era o meio das grandes cantoras e cantores." A direção, o cenário e figurino é de Charles Moeller. "Essa vestimenta era inspirada também no requinte das cantoras de jazz americanas. Nesse período, alguns dos nossos referenciais artísticos eram de fora do País, como a moda, e foram boas influências." O luxo, no caso com o traje, só ajuda na composição dramática de Zezé. Com isso, ela se mostra ainda mais diva do que já é. O espetáculo, no entanto, não é uma peça teatral musical, mas, como a atriz conta, há momentos em que deixa a emoção da canção tomar conta e os gestos tornam-se mais expressivos. "As composições que tratam principalmente das dores de amores num tom mais dramático acabam inspirando o meu lado de atriz, muito naturalmente, sem marcações", conta. Homenagem - Uma novidade de Divina Saudade é o fato de ser uma homenagem bem-sucedida a Elisete Cardoso. Mesmo sendo um de nossas grandes cantoras, se não a maior, sua obra é pouco revisitada. Um exemplo recente de tentativa frustrada foi o espetáculo Divina 80 Anos, montado em abril no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio com as cantoras Soraya Ravenle, Alaíde Costa, Áurea Martins e Zezé Gonzaga interpretando canções imortalizadas por Elisete. Previsto para ficar em cartaz por quatro semanas, só ficou uma e meia e foi cancelado. O motivo: um processo por uso de imagem pedido pelo filho de Elisete e único herdeiro, Paulo César Valdez. Zezé afirma que até o momento está tendo apoio de Valdez. Segundo ela, ele considera a releitura sobre a obra de sua mãe digna. "Ele me falou que se Elisete estivesse viva, estaria muito feliz com este trabalho." Divina Saudade é a única homenagem confirmada nos 80 anos de nascimento da cantora. A atriz não pensou no disco para comemorar a efeméride. A afinidade foi o mote para o projeto sobre a Divina. Uma delas é que ambas viveram grandes amores e desilusões. À medida que começou a vasculhar o universo musical de Elisete, Zezé se recordou, por exemplo, do primeiro encontro entre as duas, num espetáculo em homenagem a Erivelto Martins, no Rio. Ela e Elisete estavam lá. Ambas foram crooners, Elisete no Rio e Zezé em São Paulo. Ambas têm o mesmo timbre de voz. Além disso, há uma semelhança essencial: a elegância faz parte das duas personalidades. O escritor e jornalista Sérgio Cabral foi também bastante responsável pelo tributo de Zezé. Há cerca de um ano, ela leu a biografia de Elisete escrita por ele e descobriu os traços em comum com a Divina. "Fiquei impressionada com detalhes da vida dela que coincidem com coisas que vivi", afirma. O CD Divina Saudade foi produzido Roberto Menescal e Flávio Mendes. Menescal selecionou o repertório a partir de 300 músicas. Segundo Zezé, ele optou por escolher músicas de diversas fases da carreira de Elisete, passando por Pixinguinha, Noel Rosa, Baden Powell, Tom Jobim e Vinícius de Morais. Para o show, Zezé vai acrescentar canções que ficaram de fora dessa difícil seleção. "Consegui sentir-me menos frustrada pois pude incluir outras pérolas que não cabem no formato CD", informa. Estão no roteiro de Divina Saudade: Tudo É Magnífico (Haroldo Barbosa/ Luiz Reis), Prece (Vadico/ Mariano Pinto), Nossos Momentos (Haroldo Barbosa/ Luiz Reis) A Noite do Meu Bem (Dolores Duran), Feitio de Oração (Noel Rosa/ Vadico), Consolação (Baden Powell/ Vinícius de Morais), Tem Dó (Baden Powell/ Vinícius de Morais), Tristeza (Haroldo Lobo/ Niltinho), Amor e a Rosa (Pernambuco/ Antônio Maria), Noites Cariocas (Jacó do Bandolim/ Hermínio Belo de Carvalho), Lamento (Pixinguinha/ Vinícius de Morais), Barracão (Luiz Antônio/ Teixeira), Samba Triste (Baden Powell/ Billy Blanco), Molambo (Jaime Florence/ Augusto Mesquita) e Estrada Branca (Tom Jobim/ Vinícius de Morais). E tem mais. Cidan - Além da homenagem a Elisete, Zezé levanta outra importante bandeira. Ela é presidente do Centro Brasileiro de Informação e Documentação do Artista Negro (Cidan), criado em 1984 por ela. Com a orientação do amigo Jacques Dadesqy, pesquisador na Faculdade Cândido Mendes, no Rio, Zezé montou um banco de dados com fotos e currículos de novos talentos. Depois de 14 anos divulgando a proposta que, segundo ela é de aproximar o ator negro da mídia, Zezé conquistou para o Cidan o patrocínio do Ministério do Trabalho, da Cultura e da Fundação Ford para transformar o arquivo em um site e um CD-ROM. Estão cadastrados 370 artistas negros, que moram no Rio, em São Paulo e Belo Horizonte. A home page é o mais amplo banco de dados nacional e deve ser utilizado por profissionais do cinema, teatro, televisão e publicidade. O site é www.cidan.org.br. Zezé Motta - Sexta-feira (17)e sábado, às 21 horas; e domingo às 18 horas. R$ 25,00. Teatro Renaissance. Alameda Santos, 2.233, tel. 3069-2233. Até 19/11. Patrocínio: Amazônia Celular.

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