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Zezé Gonzaga ressurge com novo disco após 30 anos

A diva mineira da era do rádio, hoje com 76 anos, encerra um longo jejum e volta à ativa com o álbum Sou apenas uma Senhora Que ainda Canta

Por Agencia Estado
Atualização:

Zezé Gonzaga chegou a ser a cantora mais tocada na antiga Rádio Nacional, numa época em que a concorrência era pesada: havia Dolores Duran, Nora Ney, Carmélia Alves, Violeta Cavalcanti. Mestres como Radamés Gnatalli e Ary Barroso compuseram com exclusividade para ela. Opuseram-na a Maysa, também contratada da Rádio Nacional, dizendo que elas se detestavam, que eram rivais, mas ela conta que isso nunca existiu. Em 1969, aos 45 anos, Zezé ficou "desgostosa" com os rumos que sua carreira tomava ("Só me davam versões ruins para gravar") e aposentou-se. Abriu uma creche em Curitiba e sumiu no mundo com a filha, Penha. Aos 76 anos de idade, com 58 de carreira (depois de experimentar gradativamente a volta aos palcos), ela finalmente gravou um novo disco, após cerca de 30 anos. Sou apenas uma Senhora Que ainda Canta (selo Biscoito Fino), que acaba de chegar às lojas, mostra o potencial da cantora que foi explorada pela indústria e desprezada pela emergente bossa nova, que a tachou de "elitista". "Achavam que eu não era popular porque só escolhia coisas boas para gravar, porque tinha boa vontade para ensaiar e sabia ler música", conta. Dolores Duran, de quem era amiga, um dia a presenteou com uma canção, Castigo. Ela saiu correndo com a música na mão, para oferecer à gravadora. "Recusaram, dizendo que era uma música boazinha, mas não era comercial", lembra, amargurada. Devolveu a canção a Dolores, que a deu a Nora Ney, tornando-se um grande sucesso na voz da colega. Zezé, então, começou a sair de cena. Mas o mundo dá voltas e Zezé foi convencida pelos amigos, após um longo retiro voluntário, a voltar ao métier. "É bom a gente sentir que a voz ainda dá um caldo bom", disse a cantora, que tem viajado constantemente entre Rio de Janeiro e São Paulo para negociar uma agenda de lançamentos e concertos. Outro dia, bebia uma cachaça com amigos no bar Filial, na Vila Madalena, mesmo local onde pretende fazer um lançamento informal do seu disco, no dia 3, às 19 horas. De lá para cá, gravou um disco com o violonista e compositor Valzinho, em homenagem a ele. "As músicas dele eram muito dissonantes, ninguém gostava de cantar", ela diz. Também foi convidada por Jane Duboc para um dueto no disco Clássicos. E excursionou com Rosita Gonzales, Nora Ney, Carmela Alves e outras num espetáculo intitulado As Cantoras do Rádio, em 1989. Considerando-se aposentada, a cantora Maria José Gonzaga não esperava mais nada da vida. "Estava desgostosa, fui ficando triste, achei que era hora de parar." Agora, ela tem certeza que está na hora de voltar. Mineira de Além Paraíba, a cantora Zezé Gonzaga era neta de um maestro e filha de um luthier (fabricante de instrumentos) e de uma flautista com formação erudita. Começou na carreira aos 12 anos participando do programa de calouros de Ary Barroso, quase como uma curiosidade, uma menina-prodígio. Tinha um registro de soprano ligeiro, estudou canto clássico e queria ser cantora lírica. Mas, um dia, foi participar do programa Rádio Clube do Brasil e acabou batendo 92 candidatos, ganhando um contrato. Acabou na música popular. "Por sua versatilidade, muitas vezes era chamada para gravar sobre um playback feito para outra cantora que não aparecera ou desistira de gravar alguma música", contou Hermínio Bello de Carvalho, seu maior fã em todos os tempos. "Fazia concessões por falta de orientação e também porque, como ela mesmo confessa, o que queria era cantar." A cantora concorda. "A gente gravava o que podia." Depois que Zezé se retirou da carreira, desanimada com os rumos que esta tomara, Hermínio demorou para encontrá-la novamente. Zezé, que é solteira até hoje, foi com a filha de criação para Curitiba, onde se isolou. Um dia, o colunista curitibano Aramis Milarch, já morto e que era grande admirador de Zezé, comentou com amigos do Rio sobre o paradeiro da cantora e Hermínio foi atrás dela. "Hermínio, você está sabendo que eu não quero mais", ela disse. Mas o convite era tentador. Participar da gravação de um disco do violonista Valzinho (o carioca Norival Carlos Teixeira, irmão do também compositor Newton Teixeira, famoso na década de 30 por tocar ao lado de gente como João da Baiana, Pixinguinha, Dante Santoro e Luperce Miranda). Valzinho andava sumido. "Fui um grande boêmio, atravessava a noite e perdi a saúde", dizia. Outros definiam mais cruamente sua trajetória: "Bebeu, teve amores violentíssimos e sempre foi mão aberta." Duro e abandonado, foi resgatado também naquela ocasião por Hermínio. Até então, jamais tinha gravado um elepê. Zezé Gonzaga aceitou a proposta e ela e Valzinho gravaram o disco Valzinho, Um Doce Veneno, em 1979. "E ele ainda cantou na última faixa", ela lembra. Dali em diante, Zezé voltou à ativa. "Viajei pelo Projeto Pixinguinha, fiz shows na Sala Funarte, show aqui, show acolá, gravei um disco com Jane Duboc", conta a cantora. "Mas continuava morando em Curitiba e minha filha tinha medo de ficar sozinha." Então, voltou a morar no Rio de Janeiro, onde está até hoje.

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