Zeca Baleiro foge das fórmulas em novo álbum

Feito de modo "meio hippie", Baladas do Asfalto & Outros Blues é o trabalho mais coeso do músico, todo impregnado de rock/blues

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Por Agencia Estado
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Desde 2003, Zeca Baleiro vinha tocando uma série de projetos paralelos, dois dos quais virão à luz em setembro: um álbum de poemas de Hilda Hilst (1930-2004) que ele musicou, e outro inédito de Sérgio Sampaio (1947-1994). Nesse meio tempo, vinha planejando um novo álbum-solo. Sem disponibilidade para produzi-lo, deixou a função para o engenheiro de som Walter Costa e o baixista Dunga, com quem já trabalhava. Foram eles que deram forma às canções de Baladas do Asfalto & Outros Blues (MZA), daí o disco soar tão diferente de outros. "Neste, queria algo mais focado, mais contido. Walter e Dunga deram às canções um tratamento meio ´radio friendly´, de balada-rock de FM que eu jamais conseguiria fazer, por incompetência mesmo", diz o compositor. Feito de modo "meio hippie", Baladas é seu trabalho mais coeso, todo impregnado de sonoridade rock/blues. Não tem sortimento de gêneros, trocadilhos espertos, romantismo piegas. Nem releituras ou participação de muitos convidados. "Ainda que com abordagens diferentes, isso vinha virando uma formulinha. Quis evitar isso", diz Zeca. Há resíduos de suas excelentes dobradinhas com Fagner, tanto na estrutura de algumas canções como nas letras de Fausto Nilo, parceiro agregado daquele projeto. Sempre cercado de belas vozes femininas, Zeca desta vez põe na roda, ainda que sutilmente, a carioca Taryn. "Quando a ouvi cantar fiquei chapado. Foi uma sensação parecida que tive com o primeiro disco de Cássia Eller, por causa do desnudamento e da contundência do canto" compara. "Tenho ouvido muitas vozes afinadas, femininas principalmente, que não me dizem nada. Como Cássia, Taryn é verdadeira demais. Há muito tempo não ouvia ninguém assim." A voz de Taryn faz parte do propósito de reunir elementos de música prazerosa, "para as pessoas ouvirem na estrada". A metáfora toma rumo concreto a partir de outubro, quando Zeca pega a estrada para valer, começando pelo Nordeste, acompanhado de um quarteto básico. Além dos discos de Sérgio Sampaio e Hilda Hilst, Zeca também vem realizando um projeto de canções infantis e um livro de gastronomia. Há quem remeta a idéia ao disco recente de Adriana Calcanhoto, mas ele lembra que seus primeiros trabalhos foram trilhas para teatro infantil no Maranhão. "Gosto do disco da Adriana, mas é uma abordagem adulta do mundo da criança. Quero fazer algo como se estivesse do lado de dentro. Criança é um ser politicamente incorreto, rock-and-roll, adora falar besteira, palavrão. O disco vai ter tudo isso. Lógico que com algum comedimento. Não vou fazer um disco punk para criança." O que começou como brincadeira e deve virar algo mais sério é o livro de gastronomia. A princípio, ele pensou em reunir receitas próprias e outras dos bons pratos que provou em diversos restaurantes brasileiros. "Depois passei a achar isso insuficiente. Quero viajar pelo Brasil e pesquisar a comida local, para fazer uma coisa mais ´científica´", diz.

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