Zeca Baleiro defende Lobão e acusa Universal

Cantor aponta "golpe baixo" e pede "lisura". Enquanto isso, Beth Carvalho diz que governo conspira para tirar o nome de Lobão e o seu da comissão da numeração

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Por Agencia Estado
Atualização:

O cantor Zeca Baleiro acusou hoje a gravadora Universal Music de querer "desmoralizar" o músico Lobão, ao exigir publicamente que ele pague direitos autorais pelo fato de Baleiro ter cantado na faixa Uma Delicada Forma de Calor do álbum A Vida é Doce (1999). Atualmente, Zeca Baleiro é contratado da MZA, que não possui mais contrato de distribuição com a Universal. O próximo CD de Baleiro será distribuido pela Abril Music. "O cachê que recebi por minha participação é impagável - a satisfação de fazer parte de um disco histórico e belo", afirmou Baleiro, em carta aberta à imprensa. "Se a indústria fonográfica reclama do projeto de lei que a trata, presumidamente, como fraudadora, que aja então com clara transparência, que conquiste a credibilidade pública com a lisura e evite a prática de golpes baixos como esse", acrescentou. Zeca é contratado da gravadora. A discussão sobre a numeração de CDs tem rendido grande polêmica. Ontem, a cantora Beth Carvalho acusou o governo de conspirar para tirar seu nome e o de Lobão do grupo que vai discutir o novo texto da lei referente à numeração. "Estão aceitando pressão da ABPD?", ela indagou. "Que governo é esse? Eles não têm esse direito de nomear nem de vetar, quem tem essa prerrogativa é a classe musical", afirmou. Ela se referiu à intenção manifesta do governo de indicar os nomes de Ivan Lins (que assinou carta contrária à numeração) e Roberto Frejat para representarem os artistas na comissão interministerial. Beth Carvalho era interlocutora do governo até a semana passada, mas os contatos cessaram. "Eles não querem essa lei, assim como não quiseram em 1998, assim como não quiseram no governo Médici", afirmou. Leia a seguir a íntegra da carta de Zeca Baleiro: "Antes de mais nada, não estou "fugindo" da imprensa como insinuou renomada coluna de renomado jornal paulistano. Estava ocupadíssimo com a finalização do meu novo disco, gravação de dvd do último show de "Líricas", meu disco anterior, e posteriormente viajei à Europa, onde participei de dois festivais. Não tinha tempo nem cabeça pra pensar nesse quiproquó todo de Lobão x Universal. De lá até aqui muito se falou sobre o assunto e pouco se esclareceu. Vamos aos fatos. Nestes últimos anos, participei de vários discos como convidado. Meu interesse em participar de trabalhos alheios sempre foi medido pela afinidade estética e/ou pura e simplesmente amizade. Nunca penso, ao gravar nos discos de outro artista, em royalties, em quanto aquilo vai me render, se vai ser lucrativo ou não. Não sei pensar assim, nessa perspectiva mesquinhamente mercantilista, que, infelizmente, rege nossos dias e nossas relações. Obviamente sou um artista contratado por uma gravadora, e cabe a ela tratar dos trâmites legais dessa operação. Com a intenção de ter mais controle sobre meu trabalho, criei minha própria editora, a Ponto de Bala, administrada pela Universal Publishing. Com isso, tomo pé de tudo que diz respeito a direitos autorais, ou seja, direitos referentes ao meu trabalho de autor. Os direitos de participação como intérprete, caso do disco do Lobão - em que apenas cantei (honrosamente!) uma canção de autoria dele -, são designados pela indústria como direitos artísticos, de natureza distinta do direito autoral, diferente inclusive no modo de arrecadação. A expectativa de ganho da gravadora nesses casos parece ser tão pequena que às vezes o contrato nem chega ao papel, fica informal, e só. Quando Lobão ligou e me fez o convite, aceitei de imediato, feliz pela possibilidade de fazer parte do disco de um artista que sempre admirei e com quem sempre tive grande afinidade, trabalho esse que abria também, corajosamente, portas para a produção independente, ao propor a venda de cds em bancas de revistas por um preço abaixo do praticado pela grande indústria. Mesmo que o ato fosse utópico (e por que não a utopia?), me alegrava fazer parte daquilo. Meu procedimento a partir daí foi o de praxe. Comuniquei à gravadora (que em princípio não colocou obstáculos) e pedi que tomassem as devidas providências. Não creio que a quantia que eu porventura receberia por isso seja tão digna desse tumulto. O que me parece claro é o desejo de desmoralizar o Lobão, e, conseqüentemente, a "causa" da numeração. Se a indústria fonográfica reclama do projeto de lei que a trata, presumidamente, como fraudadora, que aja então com clara transparência, que conquiste a credibilidade pública com a lisura e evite a prática de golpes baixos como esse. No mais, o cachê que recebi por minha participação é impagável - a satisfação de fazer parte de um disco histórico e belo. Moral da história - amor não se paga com royalties". Zeca Baleiro

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