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Zé Renato e Uakti apresentam seus novos discos

Minha Praia, novo trabalho de Zé Renato, e o instrumental Clássicos, do grupo mineiro, são diferentes na forma, mas semelhantes na qualidade

Por Agencia Estado
Atualização:

Dois belos discos em lançamento no fim de semana, na forma, muito diferentes um do outro, na qualidade, no cuidado, nas sutilezas da concepção, semelhantes. Um deles é cantado. E por uma das vozes masculinas mais belas da história da música popular. Chama-se Minha Praia e é um trabalho autoral de Zé Renato. Conhece-se Zé Renato como excepcional cantor. O compositor não fica abaixo desse padrão. O novo disco do moço é um lançamento da gravadora independente Biscoito Fino. O outro disco é instrumental. Do grupo mineiro Uakti. Chama-se Clássicos e é de clássicos que trata. Temas conhecidos de Ravel, Debussy, Satie, Tchaikovsky, Villa-Lobos em arranjos muito especiais, assinados pelo mentor do grupo, Marco Antônio Guimarães, feitos para os instrumentos que ele inventa. Todos conhecem as músicas. Ganham novas cores na peculiaríssima leitura do trio. Zé Renato fez parte da primeira formação do conjunto vocal Boca Livre. O maior sucesso do grupo era música dele, em parceria com Claudio Nucci e Xico Chaves - Toada, aquela que diz: "Vem, morena, ouvir comigo essa cantiga/ Sair por essa vida aventureira...". É parceiro de Milton Nascimento em Anima, canção que deu título a um disco do compositor mineiro, e escreveu, com Claudio Nucci e Ronaldo Bastos, A Hora e a Vez, que fez parte da trilha sonora da novela Roque Santeiro. Um pouco adiante, gravou com Tom Jobim e sua voz, antes confundida (para o bem, para o bem) na bela massa sonora do Boca Livre, fez-se ouvir, limpa, única. Zé engrenou vitoriosa carreira-solo. Chegou a gravar um disco a duas vozes com Claudio Nucci (do qual extraiu algumas faixas para esse novo CD) e, nos últimos anos, fez belas homenagens a Sílvio Caldas e a Zé Kéti, trabalhos que se tornaram obrigatórios em qualquer discoteca de bom gosto. Em Minha Praia regrava Anima e Toada; apresenta, por exemplo, parcerias com Paulo César Pinheiro (Andorinha), José Carlos Capinam (Algum Lugar), Arnaldo Antunes (Insônia), Lenine (Na São Sebastião). Das 13 faixas, três não são dele: Só Nós Dois, de Juventino Maciel e Fausto Nilo; Folhas no Ar, de Elton Medeiros e Hermínio Bello de Carvalho; e Não Diga a Minha Residência, clássico de Bide e Marçal. No mais, é como diz Lenine sobre o trabalho do novo parceiro: "O timbre, a extensão, a delicadeza, tudo é, e sempre foi, raro na praia do Zé. Minha Praia é um oceano de beleza". Coisa para assinar embaixo e ouvir sorrindo de tanta beleza. O Uakti era, inicialmente, um quarteto. Hoje, em palco, é um trio - o compositor do grupo, também arranjador e construtor dos instrumentos, Marco Antônio Guimarães, desistiu dos palcos. Fica em casa compondo, construindo, arranjando. E o grupo, ao longo da carreira, quase sempre interpretou músicas de Marco Antônio - ou algumas composições feitas especialmente para eles por gente como o minimalista Philip Glass, para ficar num exemplo. Agora, experimenta os clássicos, em versões desenhadas (é uma palavra que se aplica) para os instrumentos de percussão temperada. Tente ouvir a melodia do Bolero de Ravel soar não na nota principal, mas nos harmônicos. Magia.

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